“Não está acontecendo nada”
Um mantra para minha criança interior
Descobri uma maneira de dialogar comigo mesmo em momentos de extremo pânico.
Nessas horas o melhor a fazer é me pegar no colo e falar baixinho no ouvido de minha criança interior: “não está acontecendo nada”.
Claro que ela não acredita em mim e sempre dá uma olhada em volta, desconfiada.
Eu também não acreditaria vivendo em nossa realidade (momento político, econômico, social, segurança pública, violência urbana, etc., etc., etc.), mas a única regra é não mentir para ela.
Então eu repito pacientemente até minha criança interior adormecer: “não está acontecendo nada”.
É o meu abraço a mim mesmo.
Eu desenvolvi esta técnica com minha filha, há mais de vinte anos.
Ao contrário de outro pais (da época) eu aprendi a não manifestar reação quando ela caía, ou se machucava, sem seriedade.
Era a minha maneira de dizer à ela que não estava acontecendo nada.
Comecei em um dia chuvoso.
Ela, precoce, andava ao meu lado, sem me dar a mão.
Meu coração congelou quando ela se estabacou em uma poça nojenta.
Não reagi.
Ela só precisava saber que eu estava ali e que não havia nada (anormal) acontecendo.
Cair e levantar são coisas da vida.
A questão é o tempo que você leva para levantar.
Prendi a respiração, olhando para ela e mantrei mentalmente: “não está acontecendo nada”.
Em segundos (que me pareceram horas) ela se levantou, sorriu e me abraçou.
E seguimos (agora) de mãos dadas.
Minha criança interior vive se estabacando em poças nojentas (quase) todo dia.
Hoje mesmo ela caiu em uma.
E cada vez ela demora mais para se levantar.