Spotify

Robson Felix
Cala a Sua Boca e Pega Logo a Saideira!
2 min readApr 26, 2016

Fiz uma lista de músicas para o meu livro, no Spotify. Meu primogênito literário precisava ter uma personalidade musical ou algo como uma trilha sonora para ambientar sua leitura. Venho alimentado esta ideia há algum tempo, mas não sabia qual aplicativo utilizar. Baixei o Spotify e logo me ambientei. Gostei bastante de sua interface, limpeza e facilidade. Com ele voltei ao tempo em que saboreávamos a arte da capa, o conceito musical e artístico de um LP. Com os EP’s e a possibilidade de se ouvir aleatoriamente um CD, perdemos o conceito, unidade e linha mestra pensada pelo artista. Senti falta de um recurso para excluir uma músicas da playlist em uma das etapas de edição, me ressinto também da impossibilidade de ordenar a playlist por musica, artista, enfim… tudo bem. São apenas detalhes, preciosismos. Acho que ainda não aprendi o “pulo do gato” do aplicativo. Mas a playlist de Flor de Sal não foi pensada para ser algo comum, minha compulsão me dizia que minha seleção musical deveria ter mais de mil músicas. Em minha mente eu pensava em algo suficientemente longo para, aos menos, três dias, sem interrupções. Ao longo do processo, curiosamente, percebi que, na verdade, era eu quem estava impresso naquela seleção musical. Tudo bem. Também estou impresso nas páginas de meu livro. Mas, o que aconteceu enquanto eu selecionava as musicas para a tal lista é que me surpreendeu. Fui experimentando antigas sensações, cheiros e sabores de tempos idos. Voltei ao tempo de criança, da brincadeira da dança com a vassoura, dos amigos de infância, do play, da ansiedade ao falar com uma garota, dos sentimentos de inadequação (que ainda guardo em mim); tudo por influência de músicas de décadas passadas. Me lembrei de minha timidez, introspecção e sensibilidade infantis. Lembrei também que era eu quem sempre ficava com a vassoura nas festas. Tímido, asmático, franzino, o caçula de cinco irmãos; eu sempre gostei de frequentar as turmas mais velhas. Existe uma fase em nossa vida em que onde alguns meses de distância entre amigos, podem determinar uma grande diferença nos interesses (e nos hormônios). Experimentei novamente o deslumbramento diante de emoções e sensações novas de outrora. Na verdade, pude (novamente) saborear as sensações com distanciamento (e um pouco de inveja) do adulto que sou hoje. Como a ignorância é uma benção. Sinto falta da inocência que a ignorância sobre a vida nos dá. Entendi que a minha formação se deu ao longo da minha primeira década de vida. Pinçando músicas do passado me dei conta, também, de que eu ainda sou aquele menino, em uma pesada armadura de adulto. Que bom que ainda preservo o menino que eu fui em algum lugar dentro de mim. Só não sei (muito) bem onde o deixei. Talvez essa playlist me ajude a encontrá-lo.

--

--