Vida
Apareceu um gato por aqui outro dia…
Eu não deveria começar esse texto assim, pois não há novidades no gato, digo fato. Fui morar num lugar onde tudo é território dos gatos.
Amo gatos, é bom dizer.
Tenho uma gata gorda e melindrosa.
Outro dia mesmo, ela me puniu por ter ficado muitos dias fora de casa. Não, não a deixei a míngua, comprei pra ela um bebedouro que você emborca uma garrafa pet e a inércia faz o resto. Ah, e uma outra coisa dessas para a ração com a mesma base teórica.
Pois bem, quando cheguei em casa, depois de uns dois dias por aí, minha gata gorda simplesmente se vira de costas para mim e aplica uma bela mijada bem no meio da sala.
Conheço sua personalidade, ela jamais me perdoaria por não trocar diariamente a areia de sua caixa, ou por flertar com a terra dos gatos.
Ok, vamos tentar de novo?
Apareceu um gato por aqui, outro dia.
Filhote.
Todo fodido e faminto.
O vizinho o pegou para cuidar.
De outro modo não sobreviveria, o pobre do gatinho.
Em tempo: este texto não é sobre gatos, mas sim sobre a vida.
O tal gato espelhou de uma forma cruel o meu momento de vida.
Faminto, sarnento, assustado e cansado de tanta porrada, vou seguindo a vida.
Venho acompanhando a evolução do gatinho, que aos poucos e com a ajuda do vizinho e da natureza, vai curando as feridas das suas asas e ficando mais esperto a cada dia.
Eu também.
Fiquei pensando em quem seria o vizinho amigo da minha vida, fazendo o paralelo do gato, que me ajudou a ultrapassar fases difíceis de minha trajetória.
Encontrei vários.
Sou grato a todos os amigos (vizinhos ou não) que encontrei pela vida, as vezes me acolhendo, as vezes somente me dando a ração de carinho do dia com o distanciamento afetivo de quem sabe que gatos só ficam ao nosso lado enquanto houver alimento para alma.
De resto, o universo cuida dos detalhes.
Sempre…