Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)

Calebe Lopes
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3 min readJul 4, 2019

Super-herói de cinema

Este texto terá spoilers, principalmente para quem não conhece os personagens de quadrinhos apresentados no filme. Leia por sua própria conta e risco.

Há em Homem-Aranha: Longe de Casa (direção de Jon Watts), um vigor interessantíssimo, tanto em se fazer valer como uma tradicional aventura da Marvel para os cinemas, quanto para colocar-se como parte de uma franquia que começa a, aqui e ali, manifestar evidentes sinais de total consciência sobre sua condição de produto permeado, cada vez mais, por lampejos de autoria e personalidade.

O grande barato da vez é o vilão, Mysterio. Como quem conhece o personagem dos quadrinhos estranhou desde o trailer, inicialmente o personagem é apresentado como herói, vivido por um Jake Gyllenhaal totalmente entregue e convincente, no papel de um homem com superpoderes que veio de outra realidade dentro do multiverso com uma missão: a de parar perigosos monstros elementais que mataram sua família.

A atuação de Gyllenhaal é tão precisa, que por um momento dá pra crer que o personagem realmente é um aliado do Cabeça de Teia, o que logo mais no segundo ato cairá por terra. E quando revela quem realmente é, é que Mysterio acaba por ser, ele mesmo, um personagem de quadrinhos e também de cinema, com seu superpoder sendo a sétima arte em estado puro: através de projetores e hologramas sofisticadíssimos, o vilão utiliza de realidade aumentada para criar o que bem desejar, revelando que todas as explosões e embates épicos que haviam ocorrido não eram exatamente o que pareciam ser.

E é explorando essa natureza do farsesco, da encenação, da ilusão, que o filme acaba por resgatar não apenas parte de um imaginário estadunidense pós 11/9 (com aquelas teorias obscuras sobre o atentado terrorista ter sido feito com hologramas), como conversa diretamente com as últimas eleições, já que Mysterio é, por si só, um grande fabricante de fake news. Não deixa também de ser um comentário sobre a própria artificialidade dos filmes de super-herói, com grandes catástrofes, toneladas de CGI e raramente poucas consequências — algo que tanto a Marvel quanto a DC foram criticadas há alguns anos e logo correram atrás para minimizar a hipérbole.

O resultado de um “blockbuster encenado” dentro de um blockbuster por natureza é uma efetiva completa falta de perda da realidade, já que o vilão da vez é quem dá as cartas, criando o que quiser diante de um Peter Parker cheio de conflitos internos. Em determinado momento do filme, tudo pode ser verdade como também pode ser mentira, a paranoia funciona, a ameaça de Mysterio é real, e o desconforto de não saber se acredita-se no que vê ou não também.

Para além do meu fascínio pelas leituras que um personagem como Mysterio pode suscitar, sobra o bom e divertido filme da Marvel. Superando seu antecessor, Longe de Casa é engraçado, muito bem dirigido, repleto de personalidade e breguice, respeitando o espírito de John Hughes que guiava espiritualmente o primeiro filme do Amigão da Vizinhança, e desenvolvendo muitíssimo bem seus personagens pós-eventos do Ultimato. É um filme que sabe emocionar, e guarda um dos melhores momentos de todos os filmes da Marvel Comics para os pós créditos, suscitando inúmeras possibilidades para o futuro da franquia.

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