O Horror não é metáfora

Calebe Lopes
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3 min readApr 19, 2020

A feitura do gênero do medo exige paixão

A potência do horror não é uma mera alegoria. O horror não é metáfora. Elementos fantásticos não são muleta narrativa, de “quero falar de tal coisa, então vou construir uma narrativa de horror como metáfora para essa coisa”. Criar monstros apenas para falar de medos reais não é a mesma coisa que utilizar medos reais como matéria-prima para criar monstros.

O horror precisa ser tratado com respeito. Gênero marginal por essência, não raras as vezes foi colocado como algo mais baixo na Hierarquia dos Gêneros Cinematográficos. Não se faz horror encarando-o como uma matéria de faculdade, como uma mera formalidade estética, como um “coloca uns sons estranhos aqui e tá bom”. Você não vai aprender a fazer filmes de horror com livros teóricos sobre horror. Não existe fórmula, embora existam códigos — mas é muito bom ler Noël Carroll.

O horror exige reverência — e referência também. Bons filmes de horror majoritariamente são feitos por pessoas apaixonadas pelo gênero. Assim como a comédia, o horror para funcionar precisa ser feito por alguém que o conhece, que conhece o medo. É um gênero sobre isso, sobre o medo, e tudo o que ele acarreta. O Horror é quase que uma entidade, o gênero com fãs mais devotos que existe. Se for se apropriar do horror para a sua narrativa, peça licença. Veja filmes de horror. De todos os tipos, lugares e épocas. Entenda como você se encaixa nisso. Não subestime o fantástico com um olhar condescendente. Ele não é apenas uma ferramenta para seu cinema que não faz perguntas mas quer dar respostas.

Horror é mistério, é desconhecido, é contemplar o abismo da morte e nunca entendê-la por completo. Ele não combina com filmes pré-formatados em discursos tão diretos que se tornam óbvios, metáforas mortas. O horror é fértil. É colocar um espelho diante de si para em seguida colocar diante dos outros sem nunca saber o que enxergarão. Filmes feitos sob medida para caber no gênero são fadados à esterilidade. O fantástico não está aí para você dizer o que quer dizer de uma outra forma. Está aí para você investigar o que precisa sob um outro prisma.

Assista Friedkin, Spielberg, Polanski, Peele e Eggers, mas também assista Corman, Kaufman, Dohler, Deren, Rothman. Não existe high concept e low concept do horror. Existem filmes de horror, sem hierarquia. É O Bebê de Rosemary ao lado de Nasce um Monstro na prateleira da locadora. Para fazer filmes de horror é preciso se apaixonar por cinema de horror. Existem exceções, mas nunca se apegue a elas. Se houvessem regras, esta aqui seria uma: o horror exige paixão.

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