Os melhores filmes de 2018

Calebe Lopes
calebelopes
Published in
6 min readDec 24, 2018

Segundo este que vos fala, é claro

Hora de dar nomes aos bois. De antemão, declaro que listas são sempre difíceis e injustas, e que muito provavelmente daqui a 5 meses posso estar desgostando da maioria aqui, ou todas as posições poderão estar misturadas. Faz parte.

É preciso também falar de critérios: tentei colocar o mínimo possível de filmes vistos em festivais, porque esses ainda terão, muito provavelmente, sua estreia comercial. Então ficaram de fora muitos excelentes filmes brasileiros vistos em festivais esse ano. Me dei a liberdade de considerar os estrangeiros que passaram em festivais por não saber se serão distribuídos por aqui.

10. Zama, de Lucrecia Martel

Gosto muito do cinema da Lucrecia Martel, diretora por quem tenho uma admiração enorme. Aqui, ela me parece que vai além do que vinha fazendo em sua ainda curta filmografia, não apenas em termos narrativos, ao propor a adaptação de um livro situado em contexto histórico, mas principalmente formais: o extracampo nunca foi tão bem usado, e o som, novamente, é um elemento principal para a experiência, aqui regada de ironia e cinismo.

9. A Câmera de Claire, de Hong Sang-Soo

Hong Sang-Soo tem levado muito a sério a máxima hitchcockiana “estilo é copiar a si mesmo”. Aqui, mistura elementos vistos, majoritariamente, em três outros filmes, o que de maneira nenhuma anula a experiência rica que é adentrar esse universo de encontros e desencontros atravessados pela arte que é A Câmera de Claire. O momento congelado, o registro que muda o rumo da história, a arte como estopim para a crise.

8. Arábia, de Affonso Uchoa e João Dumans

Resultado de imagem para arábia filme

“Quando o apito da fábrica de tecidos vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você”. A tela é preenchida pelo proletário brasileiro numa história não apenas sobre trabalho, mas sobre vida. Transborda afeto costurando as alegrias e tristezas da vida de um homem comum, personagem que já entra para a eternidade na História do Cinema Nacional. O tipo de filme que começa depois que acaba: a semente germina em nossa mente e só cresce com o tempo.

7. Roma, de Alfonso Cuarón

A vida capturada pela câmera, o cotidiano visto de maneira cinematográfica. O sofrimento e as alegrias, a ambiguidade das relações afetuosas transpassadas pelo capitalismo. Uma protagonista cativante, interpretada de maneira poderosíssima.

6. Hereditário, de Ari Aster

Toni Colette entregue à atuação feminina do ano. Um filme onde tudo é muito preciso, sem soar esterilmente calculado. O horror é construído com paciência, e o que mais assusta não é o sobrenatural. É o luto, é a perda, é a incapacidade de mudar o percurso das coisas. Bem dirigido, bem atuado, bem fotografado, com um dos finais mais impactantes do ano.

5. Mandy, de Panos Cosmatos

Nicolas Cage sabe fazer papéis surtados. Aqui, ele agarra com a entrega do papel de uma vida a chance de interpretar um homem em busca de vingança contra fanáticos religiosos que assassinaram sua esposa. É um filme muito autoconsciente do que quer oferecer e do que pretende alcançar. Chamá-lo de exercício talvez seja diminuí-lo, mas diria que é uma das experiências estéticas mais insanas do ano. Um filme essencialmente divertido, uma definição sanguinária de espetáculo.

4. Lazzaro Felice, de Alice Rohrwacher

Um dos presentes que o Cinema deu à humanidade em 2018. Um filme que já nasce clássico, uma ode à criatividade e à pureza. O fabulesco que reflete muito do contemporâneo, a imaginação como reflexo da mudança dos tempos. A busca por humanidade e por toda a pureza que o avanço capitalista matou. A ingenuidade como resistência messiânica no roteiro mais impressionante do ano. Se existe um filme imperdível nesta lista, é Lazzaro Felice.

3. Infiltrado na Klan, de Spike Lee

Cinema cinema, mistura de gêneros embebida de discurso urgente e necessariamente furioso. Um filme que funciona de todos os ângulos, e entrega um thriller que te pega pelas mãos e larga numa situação de completo desconforto. Ao final, a realidade que a ficção não consegue reproduzir, o tapa na cara está dado. Um filme situado no passado pra falar diretamente ao presente, conseguindo a proeza de atravessar meio mundo de terra e acertar em cheio no que se passa com o Brasil atual.

2. The Wild Boys, de Bertrand Mandico

De rigor estético impressionante, um filme de aventura no melhor estilo Júlio Verne, permeado por efeitos práticos, um trabalho de som assustadoramente imersivo, e provocações sexuais interessantíssimas. Um filme erótico dos nossos tempos, feito à moda antiga. Bertrand Mandico é um nome já consolidado nos curtas-metragens que passa a ganhar a devida atenção merecidamente. A fantasia do ano.

1. First Reformed, de Paul Schrader

A carne. O templo. A destruição do templo mediante a destruição da carne. Eis que faço novas todas as coisas. O que separa o suicídio do martírio? O que pode-se fazer para mudar? Como conviver com a culpa de matar o mundo? Schrader faz seu filme mais espiritual, retomando temas que lhe são caros durante toda a filmografia tanto quanto cineasta quanto, principalmente, roteirista. Hawke entrega a atuação do ano, num filme realizado com rigor. De longe, o filme que mais mexeu comigo esse ano. Transcendental.

Ainda faltariam muitos e muitos filmes, visto que não vi vários dos mais comentados esse ano, como “Amanda”, de Mikhaël Hers, ou “A Balada de Buster Scruggs”, dos Irmãos Coen, entre outros. No entanto, não posso deixar de dar algumas menções a filmes que me marcaram muito esse ano, como “Benzinho”, de Gustavo Pizzi, “Aniquilação”, de Alex Garland, “As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas e Marco Dutra. Há, ainda, os filmes brasileiros vistos em festivais, como os excelentes “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida, “Inferninho”, de Guto Parente e Pedro Diógenes, ou “Los Silencios”, de Beatriz Seigner. Como expliquei, esses filmes serão lançados comercialmente ano que vem, então prefiro esperar que sejam lançados, abrindo a exceção da não-distribuição apenas para filmes estrangeiros que ainda não se sabe se estrearão por aqui.

Deixe claps para expressar o quanto você gostou. Quanto mais palminhas, mais eu sei que você curtiu o texto :)

--

--