Um Homem Sentado no Corredor

Calebe Lopes
calebelopes
Published in
3 min readSep 4, 2018

Juventude em cena(da)

Com uma filmografia desastrosa na maioria das vezes quando se trata de filme para/sobre jovens, há de se notar que o cinema brasileiro ganha bastante quando o próprio jovem se filma, quando o “lugar de fala” da geração é utilizado. Nesse sentido, a filmografia do cineasta e crítico pernambucano Felipe André Silva representa um sopro de vida, ao se apropriar do dispositivo cinematográfico pra falar da juventude nesse seu segundo longa-metragem, Um Homem Sentado no Corredor, de 2017.

Muito mais do que um mero filmes sobre jovens, e com ecos de mumblecore e Hong Sang-Soo, Felipe parte dum ideal de encenação que sai de dentro pra fora através de personagens que trafegam numa mise-en-scène onde se reflete muito do teatral, presente não apenas na trama através da busca por dar forma a um espetáculo que uma jovem companhia tem, mas como se pensa o quadro. A câmera, aqui, quase não apresenta movimentação, estando à mercê da encenação, que por sua vez está rendida aos corpos e, principalmente, aos diálogos.

O cinema de Felipe é verborrágico, a direção de atores é certeira na maior parte do tempo, as falas fluem com um quê de improviso e transbordantes de verdade. Cada cena é como um palco onde os personagens se apresentarão pra nós, constantemente tendo ciência da câmera, e os fragmentos de “peças” que vamos acompanhando (através de várias historinhas que se interligam ou não) partem do trivial ao complexo.

A encenação é celebrada pela confusão do real diegético com o encenado metalinguístico, e os anseios dos personagens são expostos através de histórias que revelam certa sede por descobrir, por aventurar, por tentar compreender o outro e se compreender. Não há pressa, apenas paciência, cada plano esperando que o que está sendo registrado dê o máximo de si, constantemente satisfeito se o “grande momento” não vem.

Há uma quase ostentação do estado bruto das coisas que, conscientemente ou não, se mostra até mesmo na finalização técnica da obra, com probleminhas no som direto e na mixagem que dão as caras hora ou outra mas que não interferem na fruição justamente por se entranharem organicamente na ideia do todo. É um filme que não busca a completude, antes, celebra a falta, a fragmentação, a elipse, o acaso.

--

--