etapa comprida/cumprida

Suelen Calonga
Calonga e o Drama Barroco
4 min readAug 22, 2018

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cabô mio, cabô pipoca.

hoje terminei a fase sesc sp.

está sendo difícil esse momento.

foram 2 anos e 8 meses em santana foram 11 meses na 24 de maio foram 4 meses na pompeia entreguei a carta de demissão meio aérea, sem saber muito bem o que estava sentindo. não foi nada parecido com todas as performances mirabolantes imaginadas junto com vários colegas sobre como seria esse dia.

é engraçado, porque é quase um luto, como se eu tivesse perdido alguém próximo. eu sei que a minha vida continua, e provavelmente — e se os deuses quiserem — ainda melhor, mas parece que algo morreu, sei lá. é um luto. chega a dar uma dorzinha que eu realmente não esperava. sabe, quando eu entrei no sesc, em 2014, foi um pouco chocante. apesar de trabalhar desde os 15 anos, eu nunca havia sido empregada de uma empresa tão grande, tão hierárquica e com tantos recursos (humanos, financeiros e de equipamento). menos ainda qualquer coisa nesse porte e na área do fazer artístico-cultural. o choque inicial me fez pensar que, putz, eu jamais seria capaz de fazer a política necessária para sobreviver numa empresa como essa. mas hoje, quatro anos, um mês e sete dias depois, eu percebo que eu sei, sim, fazer política. talvez não aquela política ~desejada~, do agrado, mas a política que questiona, que toma partido, que aponta a questão que as pessoas querem fingir que não existe. e de um momento inicial de achar que eu era preterida eu passei a perceber que eu sou necessária. às vezes por ser a porta voz dos colegas que não têm tanta coragem, ou que têm muito mais a perder que eu. outras vezes por trazer um ponto de vista que as demais pessoas não tinham cogitado (claro, pessoas como eu são raras nesses ambientes).

filiada.

entenda, esse não é um exercício de automassagem no ego. muito pelo contrário, tô tentando achar um ponto fixo em meio ao caos que tá a minha cabeça nesse momento. não estou falando aqui que eu, suelen, sou necessária e, oh meu deus, que pessoa insubstituível. mas o papel que eu tomei pra mim em uma instituição desse porte é necessário para manter a relevância social desse trabalho, e que eu tentei honrar com a coragem e a ousadia que eu achei que cabia dentro do possível. e parece que eu fiz diferença, ainda que tenha sido curto o tempo. passei os dois primeiros anos me digladiando com a posição dupla de prestar serviço para um público do qual eu queria fazer parte e uma comunidade artística da qual eu queria fazer parte antes de tudo. isso, somado a um período de adaptação em são paulo que foi bem mais pesado do que eu imaginei lá de contagem (faço ideia como será mudar de país!). nos dois últimos anos, resolvi mudar de estratégia: minha atuação no sesc passou a ser parte da minha poética e meu objetivo passou a ser alargar as fronteiras das possibilidades de atuação com a mesma veemência que eu tento fazer no meu projeto artístico. seja de um ponto de vista técnico de programação, propondo formatos e linguagens pouco ou ainda não trabalhados pela empresa ou pelo modo de operação mesmo (mais fácil fazer performance com gente pendurada, pelada e pegando fogo na área de convivência do que dar a volta nos procedimentos administrativos, vocês não fazem ideia!). eu vivi intensamente uma relação de amor e ódio, eu nunca escondi isso de ninguém. qualquer pessoa que conversou ou conviveu comigo nesses últimos 4 anos sabe disso (disse a pessoa que está falando publicamente sobre isso na internet). mas como eu aprendi! como eu cresci nesses últimos quatro anos!… não sei nem medir o tanto. e fiz grandes amigos! nossa, várias pessoas eu levarei no coração para sempre. alguns, pela grande cumplicidade diária, outros pela união na adversidade, outros ainda pelo puro e incondicional afeto. a ideia inicial era marcar todo mundo aqui: gerentes, gerentes adjuntos, coordenadores, pessoal das duas ou três gerências técnicas que eu estive mais em contato nesse tempo, todos os meus colegas de programação, da comunicação, atendimento, infraestrutura, serviços, alimentação, odontologia, administrativo… enfim… seria muito gente, e uma injustiça com aqueles que eu não tenho contato aqui pela internet, ou os que não usam muito as redes. e também os amigos que eu fiz através do sesc, seja prestadores de serviço, artistas, curadores, pessoal de outras unidades que eu não trabalhei diretamente, terceirizados… ❤

de qualquer forma eu agradeço a cada um, de todo o coração, pelas coisas boas e as coisas ruins que passamos juntos nesse tempo. foi incrível (no sentido de não dar pra crer, mesmo, hehehe).

o tempo é mesmo relativo e quatro anos passaram voando ao mesmo tempo que pareceram uns vinte. sinal que os próximos dois têm muito potencial! =)

eu certamente não sou a mesma hoje que em 2014, e também não serei a mesma de 2020 quando eu voltar (será? hehehe), mas essa é a graça. como boa filha de oxum eu sei que a gente não pisa duas vezes o mesmo rio, mas não só porque o rio não é mais o mesmo, mas o pé também não é.

vamos nos falando, que eu já estou morta de saudades.

❤ ❤ ❤

PS: após uns bons vinho (que me deixou comovida como o diabo), o dia passou e na verdade o que era pra ser ontem virou hoje. vocês entenderam.

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