A História das Animações Japonesas

Camaleótica
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6 min readOct 11, 2016
Cena do filme Meu Amigo Totoro, um dos grandes ícones dos animes.

As animações japonesas, conhecidas como “animês” — Abreviação da palavra アニメーション(Animação) em japonês — , já passaram pela vida de praticamente todo jovem brasileiro, mesmo quando não sabíamos o que eram e as chamávamos apenas de desenhos. Para os jovens da década de 90; Exemplos fortes da presença dos Animes são Dragon Ball de Akira Toriyama, Cavaleiro dos Zodíaco de Masami Kurumada e Pokémon, escrito por Takeshi Shudo. Porem, o que muitos jovens não sabem é o tamanho da indústria atual de Animes e seu sucesso tanto no Brasil como no mundo.
Podemos começar com a simples diferença das palavras desenho e anime. Enquanto a primeira — Que é usada no Brasil para se referir a animações — pode ser usada como uma generalização, a segunda especifica a origem da obra, o que, no caso do japão, carrega todo um estilo artístico e de significação, apesar de que, de forma geral, Anime pode ser chamado de desenho.

Namakura Gatana, de Jun’ichi Kōuchi

As animações japonesas começaram no sec. XX, sendo a mais antiga Katsudō Shashin, de um criador desconhecido. As evidências apontam sua origem para antes de 1912. Trata-se de uma animação curta com apenas três segundos de duração que apresenta um menino de chapéu vermelho escrevendo “活動写真” (Pode ser traduzido como animação) em um quadro, apesar de simples, essa animação daria origem para o grande movimento global. Em 1917, Jun’ichi Kōuchi criou Namakura Gatana, um curta mudo de dois minutos de duração sobre um samurai que comprou uma espada sem fio, e a partir desse ponto o processo de animação começou a se espalhar pelo Japão.

Katsudō Shashin, autor desconhecido.

Na década de 30, as animações japonesas já estavam estabelecidas como formato alternativo para os live-actions (produção filmada com atores) e estavam avançando em tecnologia e em apoio, contando com suporte do governo para que os animadores desenvolvessem curtas educacionais que pudessem ser usados como propaganda.

Chikara to Onna no Yo no Naka, de Tadao Ikeda

Em 13 de abril de 1933, o primeiro “talkie” (filme curto com som) animado foi lançado, Chikara to Onna no Yo no Naka (O Mundo de Poder e Mulheres) conta a história de um homem com problemas no casamento que se envolve com uma mulher no trabalho, mas acaba falando para sua esposa sobre isso enquanto dormia. Apesar do tema, que atualmente é considerado como tabu, a animação ganhou diversos prêmios em vários festivais de que participou, incluindo o título de “melhor dos melhores” no Festival de Mídias Artísticas japonês. O sucesso do filme fez com que produtoras e estúdios de animações japonesas ganhassem forças, e grandes nomes começaram a surgir.
Infelizmente, o anime é considerado como “filme perdido”, já que não há mais o acesso aos “prints”, que seriam equivalentes ao rolo de filme que eram usados até pouco, antes de serem substituídos por mídias digitais.

Foto de um grupo de soldados japoneses na segunda guerra mundial

Com a Segunda Guerra Mundial acontecendo, o Japão precisava de propagandas de guerra para incentivar a população, estratégia muito usada durante períodos de conflito para acalmar e recrutar o povo. Assim, o ministro naval do Japão ordenou o diretor Mitsuyo Seo a produzir um filme animado como suporte para o Japão da guerra.

Momotarō: Umi no Shinpei, de Mitsuyo Seo

Em 12 de abril de 1944, o primeiro filme longa animado japonês foi lançado: Momotarō: Umi no Shinpei (Momotaro: Marinheiros Sagrados), financiado pela marinha imperial japonesa, Seo tentou dar sonhos às crianças, assim como esperança de paz. Apesar do motivo por trás do filme, o autor deixou marcado no filme esperança. Inspirando futuros animadores, como Osamu Tezuka, que disse ter chorado devido a linda mensagem.
Momotaro contava a história de um urso, cachorro, macaco e faisão que após terminarem o treinamento naval se despedem da sua família, o irmão mais novo do macaco cai em um rio ao tentar recuperar o chapéu de seu irmão mais velho, faz com que o macaco e o cachorro tentem salvá-lo. Após isso há um time-skip(um salto no tempo) e os animais são mostrados como oficiais de alta patente. O resto do filme se passa em uma ilha onde eles usam músicas (The Song of AIUEO, música infantil para ensinar japonês a crianças) para ensinarem os animais da floresta a falar, lavarem roupas e dão a eles treinamento militar. Os animais da floresta são mostrados como primitivos perto dos animais japoneses.

Osamu Tezuka, considerado como uma “lenda”, foi responsável pelo desenvolvimento das técnicas de animação e criador de diversos mangás, entre eles, Astro Boy

Com o sucesso de muitos filmes da Disney, principalmente A Branca de Neve e os Sete Anões, muitos animadores japoneses foram influenciados, incluindo Osamu Tezuka, que adaptou técnicas e tecnologia para baratear a produção e diminuir a quantidade de frames (quadros) necessários para se fazer uma animação. Com isso ele permitiu que muitos animadores pudessem produzir animações de forma mais facilitada.
Com esses avanços proporcionados por Tezuka, em 1960 foi exibido o primeiro anime em televisão, Three Tales (Três Contos), que são três histórias populares no japão que foram animadas, que foi exibido em três partes no canal japonês NHK. Dando espaço para a primeira série animada na televisão japonesa: Otogi Manga Calendar, onde o protagonista visitava eventos históricos e aprendia sobre eles.

Exemplo de uma página de mangá, retirado de uma das histórias do Mighty Atom

Na década de 70, os mangás (quadrinhos japoneses) começaram a ganhar grande destaque e popularidade, principalmente os mangás de Osamu Tezuka, que foi considerado o “Deus dos mangás”, com sua história: Mighty Atom (Poderoso Átomo) que posteriormente viria a ser conhecido como Astro Boy. Ele e outros pioneiros foram os responsáveis por desenvolver o que hoje nós reconhecemos como a identidade dos mangás e animes e o início do costume de animar os mangás populares.

Astro Boy é um dos personagens mais populares de anime, sobrevivendo desde a época da popularização dos mangás até os dias atuais, onde ganhou filmes em 3D
Capa de A Viagem de Chihiro, produzido pelo Estúdio Ghibli

Atualmente a indústria das animações japonesas é gigantesca, exportando seus produtos por todo o mundo e fazendo um sucesso inegável. Fazem parte dela principalmente as animações de mangás populares e de estúdios especializados como o Estúdio Ghibli, criador de animações como A Viagem de Chihiro (Spirited Away), que ganhou diversos prêmios e é considerado um ícone das animações.

Mesmo que você não conheça muito as animações japonesas ou talvez não goste delas, é inegável a grande história e popularidade que elas têm, movendo pessoas de todas as idades em todos os cantos do mundo, e que continuará a crescer, apresentando histórias fantásticas e cheias de significação e sentimentos.

Guilherme Cardoso — Estudante de Linguística, amante de fantasia, ciência e musica.

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