Moça, seu relacionamento é abusivo?

Camaleótica
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4 min readOct 5, 2016

Ele era romântico e presente. Supriu a minha solidão de uma hora para a outra. Fizemos planos e fui morar com ele. Nos primeiros dias, sentia que ele era ciumento demais. Quando estava sob efeito de álcool, inventava histórias de que eu estava dando bola para outros homens e me batia. Hoje, tomo antidepressivos e faço terapia para recuperar a autoestima que perdi, pois ele fez com que me sentisse desvalorizada.” O relato acima é de uma vítima de relacionamento abusivo, que por conta do que passou, teve que lidar com problemas psicológicos.

Quem vive um relacionamento abusivo nem sempre tem a total consciência de que está em um. Família e amigos próximos podem até alertar, mas a pessoa se prende a qualquer resquício de algo natural e a qualquer boa situação que a faça reafirmar para si “nossa história é linda”, “ todo relacionamento enfrenta dificuldade”, “não, aquilo não foi nada demais, ele só estava brincando”.

A realidade é que em todos os casos de um relacionamento abusivo (sendo 99% das pessoas que procuram ajuda são mulheres, segundo dados de atendimento realizados por Raquel Silva Barretto, psicóloga graduada na UFF e mestranda em Saúde Pública pela ENSP/Fiocru) as marcas deixadas durante ou após o término são profundas. O dia a dia se enche de medo. Alguns sinais de um relacionamento abusivo podem ser:

Medo: a pessoa fica muito tensa ao pensar nas consequências que podem acabar acontecendo se contrariar o outro.

Um controle possessivo: dentro de um relacionamento abusivo, sempre um tem que “prestar contas” ao outro, dizendo onde e com quem está, e o atualizando com mensagens a todo momento. Não passa pela cabeça da pessoa que isso é um controle, para ela, o outro “só está querendo me proteger”. Isso pode se alongar até mesmo com vestimentas ou cortes de cabelo (“não vou cortar meu cabelo porque ele não deixa e me quer com ele desse jeito” sim, já escutei essa frase), impedindo que a pessoa que está num relacionamento abusivo use o que se sentir melhor por conta que o outro não deixa e diz “que não vai ficar bonita assim”.

Sentimento de culpa: ele faz você se sentir culpado, mesmo quando não está? Cuidado, isso é sinal de um relacionamento abusivo. Você está crente de que a culpa não foi sua em alguma situação, mas ele consegue revertê-la e seus pensamentos passam a ser “é verdade, ele falou alguma coisa e eu realmente posso estar errada e tê-lo magoado”.

Ameaças: quem abusa sabe excelentemente de onde vem o seu poder. Se existir uma dependência financeira, as ameaças serão direcionadas a isso. Se caso haja uma dependência emocional, ele jogará com o abandono e o medo da solidão dizendo que “você não encontrará alguém melhor que eu”. E diante disso, seus pensamentos podem ser “realmente, ele é demais para mim e devo agradecê-lo por estar comigo, senão ficaria sozinha para sempre.” E, como sua autoestima foi negativamente atingida, você acredita que ninguém mais te dará uma chance como ele te deu.

Domingas (Maeve Jinkings) sofria diariamente nas mãos de Juca (Osvaldo Mil) na novela “A Regra do Jogo”

“É ruim com ele, mas é pior sem ele”, por mais difícil que possa parecer, acredite, é bem melhor sem ele. Quem já passou por relacionamentos abusivos pode afirmar isso. E se você conhece alguém que está passando por um relacionamento abusivo não diga “cai fora disso” — sair de um relacionamento desses nem sempre é tão fácil, e a pessoa precisa sentir que conta com algum apoio, falar “um dia você vai sair, mas enquanto esse dia não chega, estaremos aqui” é mais eficiente —

“Sigo ainda, só que hoje mais lúcida, mais forte. Ainda carrego os ecos de ter vivido um relacionamento abusivo e enfrento a difícil tarefa de aprender a ser o que se é de novo. Mas sigo, e agora sei que não estou sozinha. Sigo junto com todas as mulheres.”

Obs: Se você não se sente bem de alguma forma com seu relacionamento, procure ajuda. Converse com alguém. E em casos de violência, seja física ou psicológica, ligue 180.

Obs 2: O texto foi escrito apoiando-se em relatos de relacionamentos heterossexuais, não excluindo o fato de que isso também ocorra em relacionamentos homossexuais(em menor escala comparado aos relacionamentos heterossexuais). Entretanto, escolhi escrever dentro desse quesito pois é onde mais vejo casos de relacionamentos abusivos, devido ao machismo evidente na nossa sociedade.

Fernanda Silva — 17 anos. Estudante de Linguística, UFSCar. Escuto mais do que falo.

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