Cambia Festival Original
7 de julho de 2018 — Sociedade Transformando a Economia
No dia 22 de abril de 2018, o grupo de Novas Economias do curso de Design em Sustentabilidade do Gaia Education São Paulo se reuniu no jardim do Instituto Biológico para definir qual seria o seu projeto de grupo. O Gaia Education é uma instituição globalmente reconhecida e parceira oficial da UNESCO em Educação para o Desenvolvimento Sustentável. E essa é a história de como o Cambia Festival nasceu.
Um dos integrantes do nosso grupo, o Ronaldo Crispim, trouxe uma reflexão sobre realizarmos uma ação explorando a possibilidade de vivenciarmos uma economia que não fosse baseada no dinheiro e a partir da sua ideia inicial de realizarmos um festival de gifts/dádivas, nos sentamos em um círculo dos sonhos e transformamos esse sonho individual em uma visão coletiva.
Dando forma ao nosso sonho
Ainda no Círculo dos Sonhos, a Monica Noda lembrou de uma experiência que participou no ano de 2011, quando morava na Etiópia, chamada Barcamp, um tipo de evento mais conhecido na comunidade de tecnologia. Durante as semanas seguintes de planejamento, chegamos ao consenso de que o formato do festival seria uma desconferência: um tipo de organização horizontal onde todo o conteúdo é auto-organizado.
Uma desconferência refletiria o modelo adaptável e responsivo de uma Organização Teal. Esse formato traria inúmeras vantagens para nossa ação:
> baixo custo de execução;
> conteúdo auto-organizado proporcionando mais agilidade para a ação;
> responsabilidade distribuída para todos os participantes do festival;
> experiência de colaboração/cooperação e senso de comunidade;
> unidade e coesão na comunicação para reunir todos os temas de Novas Economias que sonhávamos para o festival;
O nome do festival surgiu durante o módulo Visão de Mundo (22/05/2018), após ouvirmos a Julia Bicalho cantar uma canção: Todo Cambia, Mercedes Soza.
Mobilizando Redes e Pessoas
Na segunda semana de junho, faltando cerca de 1 mês para o dia do festival, criamos um evento no facebook e começamos a convidar nossos amigos.
Elaboramos um material detalhado sobre o evento que chamamos de “Manual do Participante”, em formato PDF. Também criamos um formulário no Google Docs para inscrição das sessões e um e-mail cambiafestival@gmail.com .
O nosso trabalho mais importante nesse momento foi atrair pessoas para facilitarem rodas de conversa sobre os temas que gostaríamos de ver. Durante as próximas três semanas a nossa Vila usou a sua própria rede de contatos para fazer convites personalizados.
Também aproveitamos essa oportunidade para expandir as nossas redes e entrar em contato com pessoas realizando iniciativas do nosso interesse pessoal. Baseado na nossa planilha de controle, cerca de 70 potenciais facilitadores foram convidados.
Tema do Cambia Festival Original: “A insustentabilidade do nosso sistema econômico é evidente. E o que nós como indivíduos ou comunidade podemos fazer em relação a isso?”
O tema do nosso primeiro encontro foi a Sociedade Transformando a Economia. Queríamos nos inspirar com os novos caminhos para a economia futura que precisamos criar. Conversar sobre diferentes modelos econômicos que consideram seres humanos muito mais do que meros consumidores. Dialogar sobre sistemas onde o sucesso é medido pelo bem-estar das pessoas e da natureza. Conhecer sobre lugares onde existem moedas de troca mais importantes do que o dinheiro.
TÓPICOS SUGERIDOS
Economia Circular, Sistema B, Bancos Comunitários & Moedas Sociais, Economia Colaborativa, Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), Criptomoedas, Feiras de Trocas, Economia da Dádiva, Consumo Consciente, Economia baseada em Recursos, Ecovilas e Comunidades Intencionais, Cidades em Transição e Ecobairros, Economia Solidária, Ficção Social, Financiamento Coletivo, Consumo Compartilhado, Cultura Maker, Minimalismo, Economia Verde.
LOCAL
Com o apoio da rede Gaia Education, através da Lara Freitas e Giovana Barbosa, coordenadora do espaço, conseguimos a aprovação para realizarmos a nossa ação na UMAPAZ — Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura da Paz. São Paulo, Parque Ibirapuera — Portão 7A.
Atividades Inscritas
Até o dia do evento recebemos 32 inscrições, tanto através de convite dos integrantes como também de forma espontânea. A maioria dos tópicos sugeridos foi atendida e também surgiram outros tópicos inusitados como biomimética, crowdlending de impacto social, economia florestal, entre outros.
Cada um dos participantes inscritos recebeu uma arte personalizada com o título de sua sessão e com a foto de um pássaro. Todos foram encorajados a divulgá-la para a sua própria rede social. A estratégia era ativar as redes de contatos de mais 30 pessoas e dessa forma atrair mais público. Todas as fotos utilizadas na campanha foram presenteadas por fotógrafos que contribuem para o site unsplash.com.
Pré-Produção Custo e Resíduos ZERO
Durante a pré-produção buscamos minimizar o uso de recursos da nossa ação e optamos pelo uso de materiais reciclados e duráveis, reduzindo o uso do papel e o custo da impressão gráfica. Reaproveitamos os resíduos têxteis doados pelo Banco de Tecido (que teriam como destino os aterros de São Paulo), para confeccionar guardanapos de tecido e a bandeira do festival.
Fizemos 200 guardanapos de tecido com o logo do festival utilizando carimbo e tinta de tecido. Os crachás e a grade de programação foram produzidos artesanalmente a partir de materiais que já tínhamos adquirido e estavam guardados. As sobras dos recortes dos guardanapos, também foram reaproveitadas, transformaram-se em tapetes.
Custo financeiro total de material adquirido para a pré-produção
=
1 caixa de tachinhas para a grade de programação (R$ 10,00)
07/07/2018 — Sociedade Transformando a Economia
A primeira edição do Cambia Festival aconteceu no dia 7 de julho de 2018 na UMAPAZ, e contou com 32 incríveis sessões auto-organizadas ao redor do tema “Sociedade Transformando a Economia”. Estimamos que entre 220 e 250 pessoas passaram pelo Cambia Festival Original.
O festival teve também música corporal, piquenique comunitário, atividades lideradas por crianças e muita criatividade, conexão e diversão. As práticas de dança e atividades de colaboração e união em roda do Cambia Festival proporcionaram a experiência da cultura da paz além dos processos cognitivos das sessões temáticas.
Esse registro, fotografado pela Renata Terepins e editado pela Monica Noda, mostra algumas imagens desse dia especial e apresenta as origens do Cambia Festival através do olhar de alguns dos seus idealizadores.
Durante todo o dia a comunidade presente no Cambia Festival foi incentivada a participar de uma prática de gifts, acessando a idéia de que as necessidades podem ser atendidas sem a intermediação do dinheiro.
O Cambia Festival foi inteiramente realizado a partir dos princípios da Economia da Dádiva, sem nenhuma transação financeira. Um festival que convidou as pessoas a doarem seus conhecimentos, talentos e recursos de forma voluntária e viver uma nova economia baseada no senso de comunidade.
CUSTO MONETÁRIO TOTAL DA AÇÃO = R$10,00
Conheça os idealizadores do Cambia Festival original
O que esse sonho precisava ter para ele ser seu?
Sonharmos juntos. O aspecto mais importante era ter o exercício da construção coletiva onde todas as vozes fossem ouvidas e que o processo de fato fosse concluído em consenso.
Toda a ação já me contemplava consideravelmente, mas eu desejava que houvesse presença e participação de agricultores familiares. Houve presença de ao menos dois agricultores como participantes, o que me deixou mais contente ainda, provavelmente atraídos pela sessão de CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura)
O que eu mais precisava para que esse sonho fosse meu, é que todos os sonhos que tivessem sido sonhados, na construção coletiva do sonho, fossem incluídos e realizado por todos os participantes, e isso tornou-se uma grande realidade.
O meu sonho era que todas as pessoas pudessem ter acesso `a comida saudável.
Pra que esse sonho fosse meu, precisava ter leveza, sincronicidade e respeito entre o grupo. Precisava estar em harmonia com a mãe Terra, sem prejudicá-la de forma alguma. Precisava ser belo.
Para ser o meu sonho precisa ter diversidade, inclusão social e artes.
Ele precisava ser inclusivo, gratuito, envolver crianças, pessoas de diferentes contextos e idades. Também era importante que fosse em um local aberto ao público, de preferência ao ar livre. E que eu pudesse convidar familiares e amigos para fazer nossa mensagem chegar mais longe.
Que fosse um ambiente acolhedor e inspirador às pessoas que anseiam por iniciar novas práticas sustentáveis, mas ainda vivem muito dentro dos modos convencionais do sistema atual. Outro ponto seria que eu pudesse usar meus talentos e habilidades para me tornar útil e participativa em todo o processo de execução da ação.
Para o CAMBIA também ser a materialização do meu sonho ele teria que ser educativo, fomentado nos princípios da cooperação e respeito e propiciando que cada um/a de nós pudéssemos expressar a nossa verdade.
Os sonhos do grupo eram bem similares e mesmo não estando presente quando os desejos foram compartilhados, me senti bem representada. Cada indivíduo tinha algo único a acrescentar e se empenhou para que o festival saísse do papel.
Eu sonhei que esse dia aqueceria o coração e estimularia uma nova visão de mundo, mais cheia de significado e de esperança. No meu sonho teria música e também crianças. Imaginei os meus sobrinhos ali e um clima de alegria e de celebração.
Pra ser meu esse sonho tinha que atingir as pessoas de forma transformadora, libertadora e de uma forma que a pessoa passasse pela experiência e saísse se sentindo empoderada para fazer qualquer coisa que sonhasse.
Desde que conheci a CSA (antes mesmo do Gaia) e os bancos comunitários e as moedas sociais (aprofundados no curso) achei que a nossa missão deveria ser divulgar esse tipo de arranjo para mais pessoas. Por isso, o meu sonho era criar um espaço onde pudéssemos compartilhar esses conhecimentos. Isso já realizaria o meu sonho!
Sonhei com a possibilidade de olhar para a economia sem o viés do dinheiro, trazendo reflexões sobre o que são recursos, quais são as necessidades que precisam ser supridas e de que maneira conseguimos nos apoiar como comunidade sem pensarmos nas relações monetárias.
Precisava ter a participação de pessoas que não conhecessem os temas abortados, e lá ganhassem a sede de aprofundar-se e conectar-se aos mesmos, com o objetivo de causar o efeito exponencial de mudar a forma atual da economia.