Brand Sprint remoto e (muito!) colaborativo
Como utilizamos e adaptamos a metodologia para reformular a marca da Ignus.
A Ignus surgiu a partir de uma nova visão de mundo dos sócios e da sua vontade de atuar de maneira diferente do que os mercados tradicionais praticam hoje. Trabalho remoto, autonomia, autogestão, transparência de informações, flexibilidade, respeito à qualidade de vida, tudo isso sempre fez parte da empresa na essência.
Todos esses valores eram vistos de forma muito clara entre todo o time. Mas como as pessoas estavam nos vendo da porta (ou do computador) pra fora?
Depois de 1 ano de existência, era consenso que nós tínhamos muito mais personalidade do que a nossa marca estava conseguindo transmitir naquele momento. E a gente queria que todo mundo soubesse o tanto que era legal trabalhar na Ignus, sem deixar de mostrar também o tanto que todo mundo era muito bom no que fazia. (ou seja, só galera foda!)
Conversa vai, conversa vem. Fizemos alguns orçamentos com fornecedores externos de branding, vimos várias possibilidades. Até que decidimos: perae, se queremos que a empresa tenha a nossa cara, porque nós mesmos não desenvolvemos ela, de forma colaborativa, usando todas as ferramentas que já dominamos com nossos clientes?
Como iniciativa do time de design, fomos atrás de metodologias de branding e encontramos o Three Hour Brand Sprint (filho mais novo do Design Sprint) que se propõe a transformar ideias abstratas de marca em algo concreto, através de dinâmicas que duram 3 horas no total. Bem o que a gente precisava, olha só.
Mas como é que a gente faz isso remoto, hein?
Esse tipo de metodologia geralmente demanda que se tenha um número limitado de participantes, com salas reservadas para a imersão total, paredes livres e muito, mas muito post-it, canetinhas coloridas, adesivos variados e aquele estoque dos sonhos da papelaria.
Por isso, fizemos algumas adaptações pra nossa realidade de time distribuído e também pro nosso interesse de ter a participação da empresa inteira no processo. Fomos além do que o Brand Sprint propõe e desenvolvemos também nossas próprias dinâmicas.
Conta logo pra gente como foi isso aí …
Dividimos o processo em duas fases: uma primeira mais conceitual, de onde saímos com as definições de valores e posicionamento e a segunda de cocriação, onde desenvolvemos em conjunto a nova identidade visual. Vou falar um pouquinho sobre cada uma delas e suas atividades:
Fase 1: definições de valores e posicionamento
Sprint de branding I
O tal Three Hour Brand Sprint que falamos ali acima foi só a primeira bolinha dessa linha do tempo. Pra você ver o quanto de adaptações fizemos. Com duração de 3 horas, trabalhamos: Roadmap 20 anos (no nosso caso fizemos projeção apenas para 15 anos); O quê, como e porquê?; Top 3 valores; Top 3 audiência; Sliders de personalidade da marca e cenário competitivo. Nessa etapa tivemos sete participantes e duas facilitadoras (Beatriz Sanabio e eu).
Sprint de branding II
Depois das dinâmicas que o método propõe, sentimos a necessidade de tangibilizar todas aquelas palavras, frases e divagações que saíram da atividade anterior. A gente queria entender o que tava na cabeça de cada um quando falávamos que a gente era jovem, inovador ou rebelde, por exemplo.
Criamos outras dinâmicas para entender as marcas que se assemelhavam aos valores que a gente tinha determinado; para aprofundar o entendimento do nome Ignus e o que ele representava; e também para listar objetos que poderiam representar a nossa marca. Nessa etapa tivemos os mesmos participantes da etapa anterior.
Entrevista em profundidade
Depois de toda a construção entendemos que, por mais que todo mundo fizesse parte da Ignus, ela partiu da ideia de duas pessoas, os sócios. Então realizamos uma entrevista em profundidade com os dois, que acabou sendo uma deliciosa e reveladora conversa, onde descobrimos coisas que ninguém sabia e que precisavam fazer parte dessa construção visual que estava acontecendo.
Pesquisa Quantitativa
Agora com todos esses dados em mãos, era hora de partir pra criação da nova marca, afinal a gente já tinha entendido tudo o que ela precisaria representar. Mas aí veio a dúvida, e se a gente criar tudo isso e ela só representar o grupo de pessoas que participou das dinâmicas?
Foi aí que resolvemos adaptar as duas primeiras rodadas de dinâmicas do Sprint de Branding em um questionário online que foi aberto para que toda a empresa respondesse. Tivemos algumas respostas e, para a nossa alegria, tudo batia! Estávamos mesmo alinhados :)
Fase 2: co-criação da marca
Ah, a Fase 2… Posso dizer, como designer, que foi um dos projetos colaborativos mais bacanas, divertidos e recompensadores que eu já participei. Que time ❤
Cocriação I: tom de voz e textos
Na primeira dinâmica trabalhamos o tom de voz e a forma como queríamos nos colocar, através de textos, pra que todos os valores definidos fossem realmente transmitidos.
Uma das premissas da Ignus é o incentivo genuíno à diversidade e, para isso, foi preciso trabalhar muito para que a forma de falar não excluísse automaticamente alguém.
Aqui cabe uma menção honrosa e agradecimento eterno à Maffalda, que deu uma palestra pra gente sobre Linguagem Inclusiva, tema que reverbera até hoje nas nossas conversas.
Cocriação II: cores e tipografia
Na segunda dinâmica de co-criação trabalhamos na definição das cores através de paletas retiradas de moodboards e também definimos a tipografia que melhor representaria as nossas características. Tudo o que já havíamos coletado de informações durante a Fase 1 nos ajudou e muito na hora de decidir aqui!
Cocriação III: o símbolo
Definidas as cores e tipografia, foi a hora de pensarmos em símbolos que representassem a nova Ignus. Essa dinâmica foi a alegria dos designers, cada um com seu papel e caneta, cronômetro na tela e board compartilhado. Foi daí que nasceu o nosso novo símbolo e consequentemente nossa marca, mas só percebemos uns dias depois.
Os desenhos, o resultado das dinâmicas anteriores e todo o conteúdo textual que já havíamos criado até esse momento nos ajudaram a traçar uma linha de raciocínio visual. Dá só uma olhada:
Cocriação IV: refinamento da marca e últimos ajustes
A última etapa de cocriação foi a hora que refinamos a marca, criamos um grid e também planejamos como seria a apresentação final* para empresa toda. Nesse momento também criamos diversas formas de aplicação da marca e como ela se comportaria em diferentes contextos.
*Vale ressaltar que não apresentamos isso tudo só no final pra todo mundo. Vai que a gente tava viajando e não era nada daquilo?! Imagina?! Ao longo do processo fizemos algumas reuniões de status apresentando os avanços. Os feedbacks eram sempre muito animadores.
Resultado Final
Foi assim que ficou “nosso filho” ao final do processo:
Com a nova marca aprovada e todo mundo feliz da vida, elaboramos uma agenda para que tudo fosse lançado no mesmo momento para o público externo. Atualizamos nossa presença nas redes sociais, perfil nos softwares e no Slack (nossa ferramenta principal de comunicação). Montamos também um site temporário e definimos uma data para o lançamento do site novo.
Alguns dados sobre o processo
Ferramentas utilizadas
- Sketch, Figma e illustrator para produção de peças e materiais gráficos;
- Photoshop para edição de imagens;
- Miro e Trello para dinâmicas colaborativas e de cocriação;
- Hangouts e Zoom para reuniões via vídeo;
- After Effects para animações da marca;
- Google Drive e Notion para documentação e alinhamento de informações;
- Survey Monkey para aplicação do questionário de pesquisa quantitativa.
Pessoas Envolvidas
- Designers: Andressa Siegel, Beatriz Sanabio, Camila Rodrigues (euzinha como líder e uma das facilitadoras), Gabriel Gorski, Jadna Gonçalves, Magdiel Silva e Vinícius Alt;
- Desenvolvedores: André Luís e Lunks nas dinâmicas, Marco desenvolvendo o site;
- Líderes de áreas: Kelly Tzung, Tati Batista Lang e Bruno Bonini;
- Sócios: Raphael Ozawa e Roberto Morais;
Além dessa galera, 8 pessoas deram suas respostas anônimas na pesquisa quantitativa e também contamos com uma ajuda (e tanto!) na revisão dos textos da Paula Pino, da Renata Alves e da Bobbie Sales.
Tempo x investimento
O fato de ter resolvido o projeto internamente nos trouxe mais colaboração, motivação para o time, mas também nos rendeu uma economia financeira.
Em quantidade de horas, nossos gastos foram:
- Orçamento com outras empresas: 4h;
- Elaboração das dinâmicas: 4h + algumas reuniões do time de Design;
- Aplicação das dinâmicas e entrevistas: 5h;
- Pesquisa quantitativa: 3h (entre montar e coletar dados);
- Elaboração de peças e criação da marca: aproximadamente 740h em 6 meses;
Fazendo os cálculos vimos que nossa economia financeira beirou os 42% comparado ao investimento que teríamos caso optássemos por contratar uma empresa externa para este trabalho de branding. Foi uma economia e tanto, hein?!
E qual foi o retorno disso tudo?
O resultado de todo o processo aconteceu quase imediatamente após o lançamento. O primeiro retorno imediato foi a reação do time Ignus durante a apresentação final.
Algumas semanas após o lançamento da nova marca, abrimos uma vaga para Product Designer Jr. e pudemos ver na prática como a nova Ignus estava repercutindo externamente. Alguns números do recrutamento:
- Em apenas 3 dias tivemos 180 submissões e fomos “obrigados” fechar a vaga para novas inscrições;
- Batemos a marca de 40% de mulheres inscritas para a vaga;
A divulgação na nossa rede atraiu de forma equilibrada muitos candidatos, mostrando que nossa estratégia de comunicação foi efetiva na maioria dos meios utilizados: Slack Mulheres de Produto, Facebook, LinkedIn, Site de vagas, entre outros;
Conseguimos validar algumas intenções de branding através de depoimentos coletados durante o formulário de inscrição para a vaga por meio da pergunta: “O que te motivou a querer trabalhar conosco?”
1. Passar a ideia de maturidade da empresa e de seus profissionais, apesar da pouca existência da Ignus como Ignus.
“O fato de trabalhar com projetos que impactam a vida das pessoas diz muito sobre a Ignus, mas além disso, creio que a maturidade da empresa na abordagem destes projetos e seus pilares podem me ensinar muito.”
“Gosto muito da proposta de trabalho remoto, mostra que a empresa é uma empresa madura em termos de Design e Tecnologia :)”
Gostei muito da visão e maturidade da empresa sobre o trabalho remoto e a abordagem de Design + Negócios + Tecnologia, pontos que concordo muito e valorizo.
2. Tom de voz atrativo e inclusivo, gerando identificação através da descrição da vaga.
“Primeiro porque eu amo resolver problemas das pessoas através do design. Segundo pela descrição da vaga: respeito às orientações e escolhas. Oportunidades para aprender e para ajudar. E que respeita o perfil de trabalho de cada um.”
“Vi a descrição da vaga e me atraiu muito a filosofia da empresa e me parece ser um ótimo lugar para me desenvolver como designer de produto.”
“Tanta coisa que é até difícil saber como começar! O texto de descrição da vaga me motivou do início ao fim. Me interesso muito por trabalho remoto (flerto cada vez mais com a ideia de nomadismo digital), e sei como é difícil achar uma oportunidade em UX tão boa para pessoas sem tanta experiência. Acabei de investir em bons equipamentos de trabalho, então parece o momento perfeito!”
“A descrição desta vaga! Estou em um momento de busca e tenho lido muitas chamadas para vagas, mas essa foi sem dúvidas a que mais me deixou entusiasmado. Pois sinto que cada valor e cada requerimento que descreveram se encaixa muito bem com as minhas experiências e minhas aspirações. Acredito de verdade que estou diante de uma oportunidade real de ganho mútuo e isso me deixou muito feliz. Tem espaço para o que estou procurando e posso oferecer no mercado.”
3. Identificação com valores da marca.
“A Brand persona pareceu alguém de quem seria muito prazeroso ser amigo.”
“Bem, eu não conhecia a Ignus, mas de cara fiquei impressionado ao abrir a página de vocês, tudo vai muito de encontro com o que penso e quero fazer. Então, o que mais me motiva nesse momento é essa identificação imediata. Tipo amor à primeira vista, sabe?”
A cultura, que é muito antenada com as tendências atuais, o que inclui a questão da diversidade e inclusão e da qualidade de vida de seus colaboradores. O fato de estarem se reinventando e se adaptando ao mundo o tempo todo.”
E aprendemos o que com isso tudo?
- Ninguém cria nada sozinho e trabalhar em conjunto é muito melhor;
- É possível criar dinâmicas colaborativas de forma remota sem paredes, sem post-its e sem brigas;
- Tudo pode (e deve) ser adaptado de acordo com seu contexto;
- Pesquisa é fundamental para se criar algo robusto;
- Quanto maior a diversidade de pessoas envolvidas na criação de um projeto, melhor o resultado final (essa é a dica de ouro!).
E você, tem alguma dica, comentário ou algo que possa contribuir com esse conhecimento que adquirimos? Manda pra mim :)
Um agradecimento especial a todo o time de design que participou desse projeto, foi demais trabalhar com vocês ❤