Imprimindo em 3D muito mais do que se pode imaginar…

José Luis Oliveira
Cammada a Cammada
Published in
3 min readOct 22, 2015

Não é de hoje que a mídia vem vendendo que as impressoras 3D têm um enorme potencial, que podem mudar a forma como pensamos produtos e até que iremos imprimir comida em casa num futuro tão cientificamente embasado quanto o desenho animado dos Jetsons.

Se eu concordo? Sim e não! Concordo que as impressoras 3D são equipamentos fantásticos e que a tecnologia irá, de fato, mudar a forma como pensamos e produzimos certas coisas. Mas descordo veementemente desse futuro gororoba high tech que tentam nos enfiar goela abaixo onde supostamente cada casa terá uma impressora e você imprimirá sua comida, aquele copo que caiu e quebrou, os brinquedinhos do pimpolho e até aquela tampa de caneta perdida.

Tecnologias desse porte, com tamanho potencial transformador, não podem ser apresentadas e, talvez, entendidas pela grande massa como sendo somente mais um gadget tecnológico como uma canetinha a laser. É como decolar em um foguete da NASA pra chegar no último andar do prédio, ou utilizar um drone somente para molhar as plantas em locais altos. É diminuir a capacidade da tecnologia e o entendimento dela para aquela população que no futuro pode utilizá-la! É óbvio que imprimem bonequinhos, gadgets divertidos, porta copos, peças pro seu drone, um monte de cangalhas que não tem lá muita utilidade, mas isso faz parte do processo de aprendizado e aperfeiçoamento. Mas o que se faz, de fato, com essas tecnologias é o que a difere de mais um simples brinquedinho tecnológico.

Mas e então?

O que de tão interessante o povo imprime por ai? Poderia listar diversas aplicações na indústria automotiva, protótipos e até nas solas de sapatos que a gente usa, mas porque criar tecnologias se não para facilitar a vida, certo? Dito isso, o projeto e-NABLE é uma das aplicações mais fantásticas que já vi nesses anos todos de pesquisa a respeito de impressão 3D.

Um grupo de voluntários se uniu para tentar transformar a situação de diversas pessoas por todo o mundo imprimindo para elas mãos. Sim, mãos impressas em 3D para pessoas amputadas abaixo do cotovelo. O grupo que contava com pouco mais de 50 voluntários a época em que conheci o projeto, e hoje, pouco mais de um ano depois, contam com mais de 6500 engajados voluntários.

Próteses simples, sem eletrônica, mas que podem ajudar muito e trazer esperança para essas pessoas. Enquanto uma prótese comum custa na faixa de 20.000 dólares, as próteses impressas do e-NABLE custam 100 dólares. Não se parecem em nada com peças biônicas saídas de um filme de sci-fi, são mais parecidas com brinquedos, e na minha humilde opinião, transmitem um sentimento de alegria muito maior do que membros falsos que tentam se passar por membros verdadeiros.

Liam com seu modelo Raptor Reloaded

Se aparentemente são simples, a mudança que essas mãozinhas podem trazer são enormes. Mesmo não contando com eletrônica, sendo um sistema simples de cabos que se movimentam de acordo com a contração muscular do braço, ela devolve a capacidade de fechar a mão, segurar objetos, buscar novamente independência. Por ter seu custo bem reduzido, as mãos ainda são bastante suscetíveis a trocas, em casos de crianças — que crescem muito rápido, o que por si só já é um grande alívio para os papais de plantão.

Projeto customizado pelos voluntários da e-NABLE

O projeto das próteses é um excelente exemplo de open design sendo facilmente customizável pelos voluntários, seja para adaptar ao braço que irá receber, seja para tornar a prótese mais amigável, como visto no exemplo acima.

Enfim, eu poderia passar horas demonstrando os exemplos de trabalho bem feito do e-NABLE, mas acho já temos uma boa amostra. Abaixo segue um vídeo autoexplicativo a respeito do projeto.

Não deixem de dar uma passada no site deles pra saber um pouco mais sobre a iniciativa.

www.enablingthefuture.org/

=)

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José Luis Oliveira
Cammada a Cammada

Designer e Pesquisador, uma mente inquieta por natureza, viciado em inovação