Aos fatos!

marcobrasil
Camorumbi
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2 min readNov 9, 2018

Essa semana aprendi uma palavra nova: heuristica. Segundo a Wikipedia, heuristicas seriam “processos cognitivos empregados em decisões não racionais, sendo definidas como estratégias que ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida”. Um amigo no Facebook disse que trocaria o “não racionais” dessa definição por “complexas”. De qualquer forma, heurística é a arte de elaborar uma narrativa para descartar fatos contrários a suas simpatias pessoais.

Exemplificando: eleitores de Bolsonaro elaboram a narrativa do advento iminente do comunismo enquanto petistas elaboram a narrativa da condenação sem provas. Ambos os grupos descartam fatos muito evidentes que desacreditam essas versões. Crentes nas urnas fraudadas elaboram narrativas que envolvem uma complexa operação na Venezuela para descartar os muitos testes por que passaram as urnas e o fato de que, se elas fossem fraudadas os fraudadores ganhariam todas as eleições. Republicanos nos Estados Unidos elaboram a narrativa de que os órgãos de imprensa daquele país com quase totalidade são tomados por comunistas para descartar o fato, noticiado por aqueles órgãos, de que nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada no Iraque após a invasão comandada pelo presidente republicano George W. Bush.

A heurística é mais comum entre pessoas mais escolarizadas, porque elas têm maior capacidade de elaborar narrativas. Quando um fato desafia sua cosmovisão, a tendência natural é desacreditar o mensageiro do fato ou elaborar uma teoria da conspiração para não admitir zonas cinzentas em seu conjunto de crenças.

Cristãos não estão imunes à heurística, muito ao contrário. Eles podem descartar metade da Bíblia para apoiar a exata negação do evangelho, tudo “em nome de Jesus Cristo”. Foi assim nas Cruzadas, foi assim na Inquisição, foi assim no movimento escravagista e é assim em tantos movimentos hoje, em defesa da “família”, a favor da pena de morte e outras pautas nas quais seria difícil imaginar Jesus Se envolvendo, ou pelo menos reproduzindo os mesmos comportamentos de Seus ditos seguidores. Em nome desses valores, o cristão descarta facilmente o Cristo que veio para salvar, que perdoa quem O mata e que olha para cada um de nós e diz “vai tu e faze o mesmo”.

Está lá: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). A verdade, com todos os fatos que a compõem. Mas esse processo de libertação é tipo um parto. Dói. É desconfortável. Em contraponto, a ignorância é quentinha. Se você abandona, contudo, essa zona de conforto, um dia vai reconhecer que não há narrativa mais sublime que a do Evangelho e a da verdade.

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marcobrasil
Camorumbi

Cristão, adventista, marido da Tatiana, pai de quatro, advogado, mestrando, são paulino e feliz.