Quem poderá nos socorrer?

marcobrasil
Camorumbi
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2 min readOct 5, 2018

Não vivenciei as muitas experiências semelhantes anteriores, mas recordo vividamente a gigantesca esperança que foi depositada sobre Tancredo Neves. Depois a que foi jogada sobre Collor, FHC e Lula. Ficava essa expectativa crepitando no ar, de que agora as coisas iam encontrar o trilho que nos levaria a nossa vocação para constituir uma enorme Noruega dos trópicos, um país próspero, justo, seguro.

Se Moisés Naim está certo, qualquer tipo de esperança desse quilate está fadada a ser frustrada. Segundo ele, “o poder está em degradação. […] No século XXI, o poder é mais fácil de obter, mais difícil de utilizar e mais fácil de perder” (em “O fim do poder”, editora Leya). Por outras palavras, os chefes de Estado (assim como os presidentes de empresa, líderes de Sindicato, anciãos de igreja, etc) têm uma possibilidade real de fazer e acontecer cada vez mais limitada. O poder para impor a sua visão e controlar os acontecimentos é cada vez mais fraco. A informação abundante torna os liderados menos dóceis, mais complexos, com interesses cada vez mais difusos e agendas cada vez mais diversas.

Quando Davi escreveu as famosas palavras do Salmo 121, “elevo os olhos para os montes; de onde me virá o socorro?”, estava afirmando que não esperava salvação de onde as pessoas em geral costumavam esperar. Os altos dos montes eram os locais onde se sacrificava aos ídolos. Não. “O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda”.

Nada disso nos isenta do imperativo de lutar pelos caminhos que nos conduzam à justiça e à prosperidade, mas se a maioria parece ter uma outra visão a respeito de qual é esse caminho, não há razão para arrancar os cabelos. É, sem dúvida, mais difícil para os que não conhecem esse Deus ter esperança no futuro. Para nós, contudo, os que cremos, os que vemos nas profecias de Daniel um Deus sereno no comando dos destinos deste mundo que insiste em O rejeitar e expulsar, os que vemos no belo que ainda lateja ao nosso redor as Suas digitais e os ecos de Seu poder intacto e incrivelmente grande… bem, nós não precisamos olhar para os montes. Ou para as urnas. E podemos sorrir.

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marcobrasil
Camorumbi

Cristão, adventista, marido da Tatiana, pai de quatro, advogado, mestrando, são paulino e feliz.