Sobre a mulher

marcobrasil
Camorumbi
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2 min readMar 9, 2018

“Não é bom que o homem esteja só”, foi o vaticínio do Criador (Gênesis 2:18).

Você pode pensar que Deus cria na base da tentativa de erro, que Ele faz as coisas e aí vê o que não está bom e então conserta. A constatação de uma lacuna(no caso, a falta da mulher), contudo, é uma exceção à regra da perfeição exata. Deus começa com a luz porque a luz é o pano de fundo sobre o qual o restante todo da criação poderia se desenrolar. Ele cria as árvores que dão frutos antes mesmo de criar as criaturas que comerão esses frutos, ou seja, Ele antecipa a necessidade e cuida da solução para ela antes de ela chegar a se instalar. E tudo está bom, porque atende à finalidade que Ele tinha em Sua mente para cada centímetro cúbico de Sua criação. Não, meu amigo, Deus faz diferente no caso da mulher porque até Sua aparente falha conspira para um propósito maior.

O homem já tinha uma relação com a natureza, com os animais (a quem dava os nomes) e até com o próprio Deus. Mas no meio da euforia dos primeiros instantes daquela criação tão bela e perfeita, Deus permite que uma falta seja sentida. A pausa dramática antes da criação da mulher serviu para reforçar, negritar, colocar flechinhas de neon a apontar para a importância dessa relação. “Não é bom que o homem esteja só” é a leitura divina dos sentimentos que o homem não conseguia colocar em palavras. É como se o Criador sorrisse e piscasse o olho: eu sei. Eu sei. Não está bom. Mas deixa comigo, vai valer a pena.

A interjeição de Adão ao ver Eva sendo conduzida pelas mãos de Deus, linda e esplendorosa, é a exclamação de quem já pressentia uma ausência, parece ser a interjeição de alguém que sofreu anos e anos na solidão: “Esta é agora osso dos meus ossos e carne de minha carne!” (2:23). Deus faz sua obra-prima depois de esperar para que alguém sofresse pela sua ausência e essa quase-falta incensa o valor da obra-prima.

Que Ele agora me livre da tentação de não pasmar ante minha esposa e de tomar a nudez dela como algo corriqueiro. Que Ele não permita que eu algum dia esqueça quem é a obra-prima e que minha existência apartada da dela é um buraco, uma falta tão dolorosa que o próprio Deus, olhando pra isso, diria “Não é bom”! E que Ele tome as cautelas que forem necessárias para que eu nunca, jamais, tenha ilusões estúpidas de autosuficiência.

Amém.

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marcobrasil
Camorumbi

Cristão, adventista, marido da Tatiana, pai de quatro, advogado, mestrando, são paulino e feliz.