ESPECIAL — MONSTRAS NA GRINGA

Tivemos o imenso prazer de conversar com Deny, Loira e Kelly, atletas que estão fora do Brasil fazendo o nome no Flag e FA! :)

Diana Fournier
campo minado
14 min readOct 11, 2017

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Da esquerda para a direita: Michele, Kelly e Deny, todas fora do Brasil e mantendo a paixão pelo FA e Flag em terras gringas.

O futebol americano e o flag football são esportes amadores no Brasil e ainda estão ganhando espaço no país e como em qualquer modalidade, as equipes com maior adesão e apoio tem sido os times masculinos (de FA principalmente). Aqui no Campo Minado estamos sempre mostrando histórias de super atletas, times e coachs de equipes femininas para dar maior visibilidade e encorajamento para todas as meninas e mulheres que praticam tal esporte no Brasil a fora. Mas e o que dizer de atletas que iniciaram em nesses esportes já algum tempo, se consagraram aqui no BR, mas que por algum motivo pessoal tiveram de sair daqui e ir viver em outro lugar de cultura, língua e costumes diferentes? Como elas tem feito para manter a paixão pelo flag e FA acesa? Vem com a gente nesse bate-papo sensacional com a Deny Barbosa, Kelly Joji e Michele Minelli se inspirar um pouco mais! ❤

CM: Se apresentem…

Deny Barbosa

DENY: Meu nome é Deniele Barbosa, mas no FA (Futebol Americano) as pessoas me conhecem como Deny Barbosa. Tenho 32 anos e pratico há 14 anos o Futebol Americano. Comecei sendo a a única mulher (menina) na época, só depois de um tempo entraram outras atletas e formamos nosso primeiro time feminino. Já fui Presidente da Associação de Futebol Americano do RJ (AFERJ), Diretora de Esportes Feminino da AFAB (Associação de Futebol Americano do Brasil), Diretora de Esportes de duas antigas Associações de Futebol Americano no Brasil/Rio de Janeiro — Secretary of Flag Football of South Florida e Commissioner do South Florida Flag Football Association. Eu sou formada em Educação Física no Brasil e tenho Pós-Graduação em Psicomotricidade pela Universidade Cândido Mendes. Nos EUA tenho AA (Associates Degree) em Artes, Bachalerado em Special Education e estou terminando meu mestrado em Educação Escolar com ênfase em Educação Especial. Sou casada e tenho 3 filhos, atualmente moro na Flórida, em Parkland (Fort Lauderdale area).

Kelly Joji

KELLY: Meu nome é Kelly, tenho 29 anos, nasci e cresci no interior de São Paulo, em Guapiara, uma cidade de um pouco menos de 20 mil habitantes. Logo após acabar o ensino médio fui para o Japão para trabalhar e lá fiquei por 2 anos. Voltando ao Brasil, me mudei pra Sorocaba/SP e em Sorocaba fiz meu lar desde então. Me formei em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e trabalho com qualidade de software atualmente. Pouco mais de um ano atrás, em maio/2016, tive a oportunidade de transferência pela empresa e hoje vivo nessa cidade incrível chamada Barcelona, na Espanha. Estou no esporte desde pequena, jogando futebol, vôlei, handball, ping pong (o que for esporte, “tô” dentro). Conheci e me apaixonei pelo flag em 2009 quando comecei a treinar e jogar com o Spartans, único time que defendi no Brasil como WR, Safety e as vezes fazia uns bicos de corner. Desde então tive passagens pela Seleção Brasileira de 2014 (Mundial na Suécia, na qual não pude viajar por motivos pessoais) e em 2016 (Mundial na Itália, o qual estive presente).

Michele Minelli

MICHELE: Meu nome é Michele, 27 anos, mas no mundo do flag todo mundo me conhece como Loira. Sou de São Paulo, onde sempre morei, até que me mudei aqui para Espanha. Hoje moro em uma cidade costeira do norte da Espanha chamada Gijón, com minha namorada e meus dois gatos.

CM: Por que saíram do Brasil?

DENY: Em 2004 eu vim visitar a Disney e me apaixonei pela cultura e pelo povo Americano. Em 2006 eu voltei para fazer um “Work experience” por 6 meses na Flórida e conheci a minha esposa nessa viagem. Quando meu período de experiência acabou eu voltei para o Brasil e ficou um gostinho de quero mais. Além de tudo, avaliando as minhas possibilidades e parando para pensar que o EUA é o pais da bola oval e eu posso jogar o meu esporte do coração com maior facilidade, não foi muito difícil eu tomar a decisão de me mudar "de mala e cuia".

KELLY: Sair do país, deixar família, amigos, time para trás não foi uma decisão fácil, mas apesar de tudo acredito que a experiência de vida (mais que a profissional) que esta mudança me trouxe é muito compensadora. Estou crescendo muito, como pessoa, enfrentando desafios que não sabia que poderia aguentar, e estou firme e forte. Minha maior motivação é continuar evoluindo, para ser melhor pra mim e para quem me acompanha nessa caminhada.

MICHELE: Minha mudanca para Espanha é uma das muitas coisas boas que o flag me trouxe. É resultado de uma amizade com uma tal espanhola que começou lá em 2014, no mundial de flag em Grosseto, que acabou virando amor e… Bom, dois anos depois estava a Loira mudando para Espanha.

CM: Como foi a adaptação no novo país?

DENY: Graças a Deus eu fui privilegiada nesse quesito, sempre tive um suporte emocional muito grande e emprego eu sempre arrumei. Trabalhei em escritórios até me formar aqui e começar a dar aulas em Escolas.

KELLY: Viver em um país que não é o teu de origem já é dificultoso por si só. Eu não falava nada de espanhol (só o que aprendi em RBD, me julguem! haha) e a princípio não entendia nada. Coloquei uma meta de assistir o jornal todos os dias até entender o que a moça da previsão do tempo falava e deu certo! Hoje estou num nível acima do portunhol (haha). Mas aqui na Catalunha temos um adendo de ter o Catalão como idioma oficial também, que é uma mistura louca de português, italiano, francês e espanhol, e muitas placas, cardápios, sinalizações, etc, estão em Catalão e o básico ao menos é bom saber pra não passar vergonha. As primeiras semanas eu estava mais como uma turista, conhecendo a cidade, mas depois de um tempo você cai na real de que não serei turista e sim moradora. Residência. Trabalho. Pagar imposto. A sua rotina muda completamente. Eu não sabia o que fazer no fim de semana, por que no Brasil, eu me dedicava aos treinos. “Morava” em SP no fim de semana pra poder treinar com o Spartans e isso eu não tinha mais. Quando tinha campeonatos passava o fim de semana inteiro no celular acompanhando os jogos no play by play, transmissão ao vivo. Chorei muito por estar longe. O pior sentimento disso tudo é se sentir sozinha. Podia falar com todos via facebook, whastapp, mas não é a mesma coisa. Me senti mais completa só quando a Marina, minha esposa, veio pra cá (o que demorou 6 longos meses). Acredito que a Espanha em si, é um país bem parecido com o Brasil, as pessoas são bem receptivas, alegres e gostam de aproveitar a vida. O tempo de adaptação varia muito de pessoa para pessoa, eu estou bem segura hoje, mas não sei se totalmente adaptada.

MICHELE: Cheguei aqui sem saber falar mais que “buenos días”, então os primeiros dois (longos) meses, eu falava em inglês com a Isa (a tal espanhola) e ela me respondia em espanhol. Quando saíamos com os amigos, eu normalmente entendia as duas primeiras frases e já me perdia, passava o resto do tempo rindo quando todo mundo ria. Até que um belo dia eu acordei falando em Espanhol! Essa história de que português é parecido com espanhol é a maior mentira do mundo!

CM: Como foi para continuar praticando o esporte (Flag ou FA) num país com a língua diferente da sua? Houve alguma dificuldade na comunicação ou de convivência?

DENY: Me manter ligada no esporte nos EUA não foi problema nenhum. Na minha segunda visita em 2006 eu já estava jogando no time Wild Cats que viaja dentro do EUA para competições. Então a minha alegria em poder adquirir mais conhecimento e técnicas sobre Flag e FA foi imensa. Pude então voltar ao Brasil e inseri-las no meu time Coyotes Rio de Janeiro (fomos 3 vezes campeãs consecutivas e ainda fomos o primeiro time de Futebol Americano no Brasil — não só feminino — a ser patrocinado por um time de Futebol, o Vasco da Gama em 2010). Isso abriu as portas para os times masculinos de FA e consecutivamente para outros times futebol se interessarem nesse “novo” esporte. Hoje em dia podemos ver que temos uma mescla muito interessante de futebol e Futebol Americano. Coyotes Rio de Janeiro passou a se chamar Vasco Coyotes Rio de Janeiro aonde no seu primeiro ano fomos campeãs novamente. Em relação à comunicação em inglês com as minhas companheiras de time: A língua inglesa é uma língua universal onde você aprende o básico na escolas. Consequentemente, eu estendi meu aprendizado no FISK (cursinho de inglês) como uma atividade extra curricular. Isso me deu, inclusive, uma enorme vantagem porque eu não era uma apenas uma atleta brasileira (o que os americanos respeitam demasiadamente) mas inclusive sabia me comunicar em inglês. Parando para pensar, eu acho que me deu vantagem, porque sempre quando contava a minha história, os americanos se fascinavam em “DESCOBRIR” que jogamos no Brasil o FA também.

KELLY: Sempre fui ligada ao esporte de alguma forma desde pequena e senti MUITA falta de estar envolvida em algo. Logo quando cheguei, a Michele (Loira), minha rival de sempre no Storm e companheira de seleção, me convidou pra jogar o campeonato espanhol de Flag pelo Foxes 82 (time campeão de tudo no Flag espanhol), e foi uma grande experiência, primeiro pela comunicação que foi no mínimo engraçada, porque era quase uma mímica e segundo que joguei grande parte de blitz e strong, não muito usual pra mim. E por mais que tenha sido um pouco dificil a comunicação acredito que o entrosamento veio naturalmente durante os jogos e as meninas foram super receptivas e atenciosas. Depois que voltei pra Barcelona, um contato do Foxes 82 (gracias Raquel) me levou a um time daqui de Barcelona, chamado Barberá Rookies, multicampeãs no Futebol Americano Espanhol, não poderia estar em time mais vitorioso. Fui muito bem recebida por todas, foram super atenciosas e tudo me perguntavam se eu tinha entendido bem. Tive muita dificuldade em entender os termos que usavam aqui pro FA e/ou flag, pois no Brasil usamos como é em inglês, e aqui tudo se traduz (ex: Helmet = Casco, tipo oi?), e pra entender o playbook também me custou um pouco por conta do idioma. O segredo é ouvir muito que um dia o ouvido acostuma. Na convivência, nunca fui excluída por preconceito, algumas vezes não entrei como titular mas sempre baseado em performance ou injuries como qualquer outra atleta do time.

MICHELE: Uma das coisas boas de ter vindo pra cá assim como vim, é que eu nunca me desvinculei do flag. Cheguei aqui e já tinha até minha camisa com o Loira (que ninguém entende o que significa). As meninas do time, o Foxes 82, me receberam muito mais que bem, sempre me fizeram sentir em casa, mas claro que as vezes sinto falta das minhas antigas companheiras, dos treinos mais puxados, do “Espeto” depois do treino com todo mundo junto. É difícil deixar pra trás 5 anos de histórias e companheirismo.

CM: Qual é o seu papel hoje dentro do esporte no seu local?

DENY: Atualmente jogo e coordeno a equipe do South Florida Cat-5 (Category 5) nos campeonatos Estaduais e Internacionais.

KELLY: Apesar de estar fora do país, faço parte da diretoria do Spartans (não tão ativamente quanto gostaria) e aqui na Espanha tenho jogado flag com o Rookies, time dos arredores de Barcelona. Jogamos quando acontece algum torneio que seja viável pra todas, já que o foco por aqui não é o Flag.

MICHELE: Aqui no norte, o campeonato territorial é em pista de ginásio por dois motivos: Chove e faz muito frio e mesmo que não tenha essas condições, não temos campos suficientes para todos os jogos. O campeão da territorial tem vaga garantida no Nacional, mas as vezes acontece de o campeão desistir da vaga e algum outro time convidado jogar o nacional, o que não tem sentido, mas é um assunto à parte. Foxes ganhou todos os territoriais e nacionais que jogou desde sua criação, dos quais um territorial e dois nacionais eu estava jogando.

CM: E o que podemos esperar do futuro de vocês no esporte?

DENY: Agora o meu plano para o futuro é poder passar todo o meu conhecimento para os meus filhos. Chega uma hora que as pernas não seguem mais o raciocínio. Hoje em dia eu jogo só no ataque e quando temos 3 jogos no mesmo dia, pode ter certeza que é exaustão na certa. Quando eu tinha 18 anos eu queria mais jogos, mais treinos, mais intensidade. Hoje em dia, eu aposto e gosto mais da calmaria. Como eu tenho licença para treinar times no Estado da Flórida, futuramente eu não descarto ser treinadora, porém primariamente como hobbie. Eu amo ser professora e continuarei dando aulas para crianças especiais.

KELLY: Infelizmente no FA eu não poderei participar do campeonato regular este ano, mas estava treinando com WR, que é a minha posição favorita, e no FA tem um gostinho ainda mais especial. Os planos é ano que vem conseguir me dedicar ao FA com o Rookies. Além disso, esse ano jogamos o Torneio Womens Flag Football com o Rookies (ficamos em segundo, perdendo paro Foxes 82) e joguei na defesa com blitz e corner, e no ataque como receiver. A intenção é continuar com o mesmo time e jogarmos os torneios que forem aparecendo por aqui ainda esse ano e no próximo.

MICHELE: Na parte de treinamentos, em Foxes somos bastante mais relaxadas do que eu estava acostumada. Claro que levamos a sério, mas de uma forma mais leve, mais “for fun”. Imagino que seja porque o nível aqui entre os times femininos, não é tão alto como no Brasil, o que nos faz buscar campeonatos internacionais. Este ano fomos jogar a Big Bowl, na Alemanha, e foi uma das minhas melhores experiências que tive! Jogamos com times ingleses, holandeses, inclusive seleções do México e Áustria. Em outubro temos a Pink Bowl, essa na Holanda, com times de todos lados também. E detalhe, estes campeonatos conseguimos costear com o dinheiro do time! Aqui conseguimos mover uma boa quantidade com ajuda dos amigos e familiares. Vendemos camisetas e rifas e temos pequenos patrocínios, que juntos no final ja cobrem grande parte dos gastos. Infelizmente, ainda não conseguimos nada da prefeitura, apesar das muitas tentativas.

CM: Pretende voltar para o Brasil? Se sim, pretende trazer algo novo da experiência no exterior?

DENY: Não tenho planos de voltar ao Brasil mas sempre que posso estou em comunicação com as meninas do RJ e São Paulo. Gostaria de extender essa comunicação com outro órgãos do meio ou até mesmo outro atletas. Acho que é muito válido a troca de experiências, mesmo de longe acredito que daria sim pra encaixar alguma coisa….algum projeto…vamos ver. As portas sempre estarão abertas.

KELLY: Na realidade ainda não tenho ideia se vou voltar ao Brasil pra ficar, mas com certeza volto pra passar uma temporada. E claro, no que puder passar de novo para ajudar na evolução, vou passar. Por mais que aqui o flag não esteja tão desenvolvido quanto o Brasil, acredito que os treinos feitos no FA são muito úteis pro flag também.

CM: Traçando um paralelo com o Brasil: Como está o flag brasileiro e o do seu país de morada? Quais são as diferenças? Como podemos melhorar isso?

DENY: Eu acho que não tem um atleta brasileiro que não vá concordar comigo que, o que falta no Brasil é o apoio maior de patrocinadores, visibilidade na mídia e o aumento do número de torcedores/fãs do esporte. Tornar o esporte mais visível e aumentar o número de atletas é um grande começo para uma melhoria nacional. O rugby tá aí pra mostrar que e possível ter um esporte pouco visado mas com atletas nacionais de ponta. Profissionalização de atletas, intercâmbio de técnicas e táticas, treinamento de técnicos e atletas no exterior seria um excelente começo. O que não falta no Brasil é talento! Os atletas brasileiros não só dão o fisico mas dão o coração. Diferente da maioria dos outro países, na minha singela opinião. Se o Brasil tem potencial? "Vixe", tem de sobra. Disso não tenho dúvidas!! Infelizmente a falta de patrocínio torna tudo mais difícil. Para sobreviver de qualquer esporte profissional tirando o futebol é difícil (vôlei, basquete, handball), imagina de um esporte amador? Só loucos apaixonados pelo esporte mesmo! Bom, as diferenças… os times nos EUA são formados e se mantém juntos baseados em performances, diferentemente no Brasil. No Brasil eu tinha uma família de amigos (Coyotas e agregados). Quem foi Coyota nunca deixou de ser. Nunca deixamos de nos comunicar mesmo após 10 anos, inclusive temos um grupo no whatsapp para facilitar esse contato. Ano passado tivemos um churrasco em comemoração aos 10 anos de time no Brasil. Quando eu penso em um time, não tem como não pensar no Coyotes. Éramos unidas, amigas e tínhamos uma química surreal. Já nos EUA sinto que tudo é mais restrito aos treinos e jogos. Amizade é muito mais difícil na terra do Tio Sam.

KELLY: Na Espanha no geral existe a cultura do flag ser a porta de entrada para o FA (o que não deixa de ser verdade), então se ensina majoritariamente para crianças e jovens até 16 anos. Passou dessa idade, automaticamente você passa a praticar FA. Na região de Barcelona o flag feminino não é tão difundido e não existem campeonatos regulares que durem o ano inteiro, pra se ter uma ideia, só existe um time misto de flag em Barcelona que normalmente disputa campeonatos e mesmo em outras regiões da Espanha como Asturias, onde existem mais times de flag adulto, o nível ainda é abaixo do flag praticado no Brasil. A federação espanhola está engatinhando no que diz questão ao flag e acredito que a Espanha aprenderia muito mais com o Brasil em relação ao flag, tanto em questões táticas, de treinamentos, quanto organizacional. Já em relação ao FA feminino o panorâmico muda. O FA feminino tem campeonatos regulares anualmente desde 2002 (nem sabia o que era FA nessa época). E o que vejo aqui do Rookies, é que além da estrutura incrível, com campo próprio e equipamentos, existe uma regularidade nos treinos impressionante, com treinos intensos e objetivos. Comprometimento seria a palavra certa. E isso eu sinto que falta no Brasil: se comprometer com uma causa e não tratá-la como obrigação. No que diz respeito a seleção também estão avançadas, pois disputam muitos amistosos com outras seleções e fazem treinos regularmente juntas. Acredito que a geografia do país ajuda já que pra juntar todas as meninas de diferentes times não fica tão caro igual ao Brasil, mas não é uma desculpa pra seleção brasileira de FA feminino AINDA não existir. No geral o Brasil está muito bem no flag, desde que comecei a jogar até agora existe 10x mais times e cada ano o nível sobe incrivelmente. Tenho acompanhado os campeonatos e estou muito feliz com a evolução de tudo aquilo que um dia fiz parte e tenho certeza que não para por aí.

MICHELE: Todo mundo sempre pensa que tudo funciona melhor para o flag fora do Brasil, que não temos apoio suficiente e que dão mais visibilidade para o FA. Bom, não em todos os lugares e a Espanha é um deles. Agora em setembro foi o Europeu de flag e temos algumas meninas na seleção, então pude ver mais de perto como as coisas eram feitas. Me lembrou bastante o primeiro mundial do Brasil, lá em 2012, quando a gente juntou 15 minas poucos meses antes do mundial e pensamos que daria tempo. Mesma história mas em outro país e mesmo assim elas conseguiram um bronze no campeonato, por isso acho que as coisas só vão melhorar pra elas, assim como melhorou para gente e apoio por parte da federação. Na parte de campeonatos, acho que no Brasil é muito melhor organizado e preparado que aqui — mais nível e muito mais times. Espero que mais para frente as coisas mudem… Enquanto isso, seguirei por aqui meu projeto de semi-aposentada, jogando pela Europa e acompanhando as etapas do brasileiro por internet, que está super emocionante!

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Diana Fournier
campo minado

manauara, head of product user researcher at @picpay, catlover, tattoed girl