Na falta de um HC, decidi aprender a ser um
Como um grupo de "teimosas" fez eu aceitar — e amar — o desafio de liderar um time feminino de flag football
Em julho de 2016, rolando minha Timeline vi uma publicação do paulista de flag feminino e resolvi compartilhar na página do time. Assim, como quem não quer nada… “Vai que cola né?”
Sou Vice-presidente do Guaratinguetá White Cranes, equipe que, na época, tinha apenas a modalidade flag masculino 8x8 e sempre ouvíamos das namoradas/esposas que tínhamos que montar o time feminino, que elas queriam jogar também e não só assistir.
Só para vocês se localizarem (é rapidinho), jogo flag desde março de 2015, cheguei no time no mesmo mês e dezembro do mesmo ano jogaram a "bucha" da presidência do time para mim e para o Michel.
Nós temos dois “defeitos”:
- Somos exigentes, queremos sempre fazer o melhor;
- Somos ambiciosos, não queremos ser grandes, queremos ser gigantes.
A nossa vontade era ter times de flag masculino e feminino, FA masculino e feminino, escolinhas e tudo mais, mas isso era mais uma vontade nossa (dos coachs) do que qualquer outra pessoa.
Para isso precisávamos de ajuda! Tínhamos apenas uns 7 meses de trabalho e ainda estávamos estruturando a parte administrativa da equipe, além de estarmos disputando o Paulista… Como poderíamos tocar outro projeto? A “ajuda” não veio, mas 4 meninas começaram a ir nos treinos e ficavam lançando bola no campo ao lado.
Como ainda não conseguia dar toda atenção, as meninas “treinavam” uns 2 sábados por mês e foi assim até o fim de 2016. Com o tempo, já não eram mais 4 — mesmo sem nenhuma ajuda — já estavam quase em 10 meninas. Entre elas a minha esposa, que reclamava que estava ruim, pois cada sábado uma pessoa passava algo diferente, e não ter treino preparado estava desanimando-as.
Em dezembro o pontapé do FA masculino tinha sido dado, foi quando resolvi que estava na hora de abraçar mais uma loucura. Em janeiro passei a ser o HC delas, pois vi que não era justo um grupo tão “teimoso”, com tanta força de vontade e dedicação, não ter nenhum incentivo. Comuniquei que a partir de então eu iria preparar os treinos e ensinaria tudo a elas e que todas podiam contar comigo.
Naquela noite deitei para dormir e me veio na mente: “Mano, eu devo ser retardado! Eu trabalho, tenho família, jogo FullPad, Flag e agora inventei mais essa! Vou acabar decepcionando elas!”
Na verdade o meu medo não era não ter o tempo necessário, era não ser capaz de fazer aquilo, afinal eu não tinha experiência na parte técnica/estratégica da coisa, eu ainda precisava aprender. Resolvi estudar, me aprofundar e em janeiro desse ano, começamos os treinos.
De cara o que me deixou surpreso foi a dedicação das meninas. Eu marcava aula teórica, treinos durante a semana a noite, treino sábado à noite, e sempre tinha muita presença. E isso foi me dando motivação, elas começaram a entender o esporte muito bem, aprenderam junto comigo, e tinham paciência nos momentos em que experimentávamos coisas e não dava muito certo.
Abraçaram o time, queriam que tudo desse certo. Faziam rifas, vendiam produtos com nossa marca. Na verdade, menos de 15 meninas fizeram muito mais em tão pouco tempo do que qualquer um de nós no masculino.
Confeccionei um playbook — depois de muitas tentativas frustradas. Elas ajudavam muito, dando ideias e sugestões, sempre com uma paciência gigantesca e quando chegamos em um número bom de jogadas e formações, resolvi que era hora de enfrentarmos alguém.
Quis o destino, que após vários compromissos marcados e desmarcados por impossibilidade na agenda, nosso primeiro amistoso fosse um dia depois do aniversário de um ano do primeiro treino. O jogo foi contra o São José Jets, nossos amigos de flag masculino, que estavam com o time feminino também em formação.
Ganhamos o jogo, mas o placar eu nem me importei pois vi que ali tinhámos um tesouro! São quase 20 meninas que não irão largar o osso e vão fazer o esporte ser tão grande quanto puderem. Elas acreditaram em mim, mesmo quando eu mesmo não acreditava, e entendiam que eu errava (e como errei hahaha), sabendo que eu sempre quis o melhor para elas.
Nesse dia teve bolo, teve banho de água gelada, foi simplesmente inesquecível. Quem me escuta (ou lê), acha que eu estou exagerando, mas tenho certeza que qualquer um que passa pela mesma situação, sabe o quanto isso é marcante e gratificante.
Hoje temos 5 mulheres que fazem parte da cúpula da equipe, sendo 3 diretoras, e te garanto: Nenhuma delas pediu o cargo… eu dei porque precisava de gente competente e comprometida. E até agora ninguém me decepcionou.
Para finalizar, tenho orgulho das meninas que lidero! Elas são mais dedicadas que o qualquer time masculino, e eu — como todo mundo que já escreveu para o Campo Minado — sei muito bem o porquê temos uma seleção de flag feminina atuando e a seleção masculina ainda está no papel. Obrigado meninas por acreditarem em mim! Um cara que até dois anos só assistia FA na TV e nem sabia a diferença entre Hanf Off e Playaction. Eu amo vocês! ❤
Meu nome é Tiago “Sid” Oliveira, tenho 28 anos, trabalho com Programação de Manutenção na área industrial e sou Vice Presidente e jogador de futebol americano e flag 8 x 8 pelo Guaratinguetá White Cranes e Coach de Flag Football do time feminino. Jogo futebol americano desde 2015 e torcedor do Green Bay Packers.