Sendo coach de um time de flag feminino

Um descompromisso que se tornou paixão

Cristofer Santos
campo minado
3 min readAug 10, 2017

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Repassando treinamento de base para atletas de outros esportes em um treino aberto. Foto: Leo Canabarro.

Era apenas mais um final de semana, eu não tinha intenção alguma naquele dia a não ser ver um jogo de flag feminino (detalhe que eu nunca tinha visto um antes). Era recente a fusão do Devil com o Saints e as meninas do flag faziam seu último jogo com o nome de “Saints”, lembro que nessa data fui apenas dar um apoio para elas devido à fusão entre os times.

Depois que aprendi a jogar futebol americano e me apaixonei por jogar na defesa, sempre que vejo um jogo de qualquer esporte que seja, fico analisando e admirando como a defesa joga, com suas formações táticas e técnicas. Naquele dia em que eu fui ver o amistoso das meninas — hoje Underdogs — vi muitas coisas naquele jogo que me incomodaram muito. Eu vi jogadoras de cabeça baixa, jogadoras que não sabiam o que fazer, jogadoras que foram treinadas e treinadas mas não souberam usar o que “aprenderam”. Em um resumo, não vi dois times em campo. O que mais me incomodou naquele dia não foi o resultado do jogo, mas sim a minha tentativa de ajudar ter sido ignorada duas vezes. Isso me deixou irado! Após o final do jogo, comuniquei o head coach da época que iria começar “ajudar” as meninas. Claro que minha ideia na época era apenas melhorá-las tecnicamente, mas foi muito além disso.

Não sabia o que era ser um coach, não sabia como treinar algum atleta, principalmente um monte de meninas, em que algumas pessoas diriam que é muito mais difícil, porém apenas queria torná-las melhores do que foram naquele jogo. Treino após treino, semana após semana e ano após ano, fui pegando um apego pelas meninas e meu “descompromisso”, se tornou algo com dia sempre marcado e eu não poderia ficar mais sem. Descobrir com o tempo que fiquei apegado às minhas jogadoras, descobrir com o tempo que não estava mais só ajudando, descobrir que as tinha tornado jogadoras e muito melhor do que isso, elas eram minhas jogadoras com tudo o que eu havia ensinado. Confesso que não sou o melhor coach do mundo, inclusive as vezes me acho muito fora dos padrões de técnicos que existem, mas acredito que seja meu diferencial, pois ao longo de uns 3 anos (não é certo pois já perdi a conta), a evolução que eu vi dessas minhas meninas é meu maior orgulho.

A história do meu descompromisso se inicia numa tentativa de apenas ajudar, porém não sou o tipo de pessoa que faz o mínimo, gosto e amo fazer o máximo principalmente quando sou responsável por pessoas tão maravilhosas que me incentivam todos os finais de semana a dar o meu melhor e fazer delas cada vez melhores. Não é ganhar campeonatos que me faz ter algum orgulho delas, muito pelo contrário, ganhar ou perder depende de quem treina e se dedica, o resultado apenas vem. O que me faz ter orgulho delas é cada lição que elas aprenderam, é a vontade que elas demonstram e a felicidade de estar ali cedo aos domingos treinando e acreditando no que é passado.

Sou o coach mais sortudo do mundo e meu maior reconhecimento fica por frases iguais a que li hoje: Você é fod*! Rs!

Com o time de flag feminino Underdogs e o terceiro lugar que conquistamos no campeonato APFA 2016. Foto pessoal.

Meu nome é Cristofer, tenho 25 anos, trabalho com TI e sou jogador de futebol americano pelo SP Storm e Coach de Flag Football do time feminino Underdogs. Jogo futebol americano desde 2010 no extinto Devilz FA e passei por times como Underdogs FA e Diadema UD.

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