Reflexos da crise hídrica na UnB

Pedro Henrique Gomes
Campus Online
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3 min readApr 26, 2017
O Centro Olímpico vai receber um sistema de caixas d’água. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

A crise hídrica que o Distrito Federal enfrenta impacta em diversas atividades da sociedade. Na Universidade de Brasília (UnB), o caso mais emblemático é o do Centro Olímpico (CO). Os vestiários do prédio ficam fechados nos dias que falta água porque não há caixa d’água. Do início do semestre, 7 de março, até agora, foram sete semanas no regime de economia.

Felipe Rondina, 20 anos, é estudante de Educação Física e já enfrentou cinco dias de racionamento neste semestre. “Alguns professores deram aula, outros não. Eu até tive uma aula prática. Foi bem ruim, porque água consigo levar de casa, mas não poder ir ao banheiro foi péssimo”, relata.

O professor Sérgio Koide, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB e membro da Comissão da Crise Hídrica da Universidade, diz que medidas estão sendo tomadas. “A comissão pediu autorização para comprar uma caixa d’água elevada e outras para fazer um sistema de armazenamento na superfície. Mas é uma emergência, precisamos de uma dispensa de licitação. Pretendemos fazer isso por tomada de preço”, conta.

O prazo para a implantação do sistema de caixas d’água no Centro Olímpico é o segundo semestre deste ano, mas pode terminar antes. “Se tudo correr bem, antes do meio do ano podemos estar com isso feito”, informa Koide.

Problemas em outros prédios

Os problemas, porém, não se restringem ao CO. Myllena Cardoso, 20, estudante do 7º semestre de Física, reclama de um problema ocorrido na terça-feira (11) na Faculdade de Tecnologia (FT). “Saí do Bloco de Salas de Aulas Sul (BSAS) correndo, pois tenho aula até as 13h50 lá e aula na FT às 14h. E quando cheguei na FT, morrendo de sede, não tinha água. Eu e meu namorado tivemos que comprar água”, reclama.

Segundo a estudante, outro incômodo ocorreu na segunda-feira (17), dia em que houve racionamento. “Foi por volta de 15h40. Esperava minha aula começar. E nos bebedouros estava saindo um fio de água bem sujo”, afirma. Segundo o professor Sérgio Koide, isso acontece porque a tubulação da Asa Norte é feita de ferro fundido, em que a ferrugem fica como escamas. As escamas secam quando a água é cortada e são levadas pelos canos quando o abastecimento é normalizado.

“Em termos de qualidade não há problemas, só o teor de ferro que aumenta. A única solução é deixar a água correr um pouco. Isso vai melhorando à medida que formos repetindo os ciclos de racionamento”, explica o professor. Já o estudante Alexandre César cita a baixa pressão da água nos banheiros do Bloco de Salas de Aula Norte (BSAN). “Quando não estão totalmente sem água, o fluxo é ruim, pouco”, argumenta.

Redução do consumo

Além das medidas emergenciais, a Comissão de Crise Hídrica, presidida pelo vice-reitor Enrique Huelva, também elabora um plano para reduzir o consumo de água do Campus Darcy Ribeiro. Hoje esse consumo está na casa dos 30 mil metros cúbicos ao mês, pelos cálculos de Sérgio Koide. Modificações na tubulação do Instituto de Ciências Centrais, o Minhocão, estão entre as medidas estudadas para economizar água.

“É um prédio que sempre tem muitas perdas. As instalações são velhas e complicadas de mexer porque tubulação passa pela galeria de serviços no subsolo. Mas é uma coisa que teremos que mudar”, argumenta Sérgio Koide. Outra ação é a troca dos vasos sanitários e torneiras do CO por produtos com válvulas que liberam uma quantidade menor de água.

Arte: Marcelo Jatobá/Secom UnB. Fonte: Sérgio Koide/UnB

Sérgio desenvolve desde 1990 um projeto que monitora o consumo noturno dos prédios do Darcy Ribeiro, horário em que os gastos são quase zero. O objetivo é identificar vazamentos e outros problemas na rede de abastecimento. Os resultados impressionam: o consumo, que já chegou aos 70 mil metros cúbicos por mês, caiu para 35 mil em 2015.

Edição: Victor Lima Gomes

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