Culpe Rick Dennison, não Tyrod Taylor

Henrique Bulio
ZONA FA
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5 min readDec 7, 2017

Uma das decisões mais controversas durante toda a temporada da NFL em 2017 ocorreu em 15 de novembro, quando o Buffalo Bills — então 5–4 e com boas chances de alcançar a pós-temporada por meio do wild card — anunciou que Nathan Peterman assumiria o posto de quarterback titular, um movimento seguindo a atuação de Tyrod Taylor na semana 10 (9/18, 56 jardas, 1 INT, 0.61 AY/A). A decisão de Sean McDermott foi extremamente questionada pois, se a temporada se encerrasse na semana em questão, o Bills teria garantida sua primeira ida a pós-temporada desde 1999, a sequência mais longa da liga sem ida aos playoffs.

Peterman é um calouro provindo de Pittsburgh que foi escolhido na quinta rodada e, como ficou claro no duelo contra o Los Angeles Chargers, essa decisão não fez o menor sentido: Nathan não estava nem um pouco preparado, lançou cinco interceptações em menos de dois quartos e já no segundo tempo, Taylor era novamente o titular. A péssima decisão da coaching staff de Buffalo pode ter peso ainda maior no fim da temporada nos standings de wild card, mas não é disso que se trata o texto.

O Bills adentrou 2017 com uma nova coaching staff e um novo front office, e a sensação existente desde janeiro é de que Taylor não adentraria setembro como membro da organização. A chegada de Rick Dennison poderia ter provido um pouco de estabilidade na situação do quarterback — afinal de contas, Tyrod já havia trabalhado com seu novo coordenador no Baltimore Ravens — , mas nem mesmo isso conseguiu afastar a sensação de que Taylor é a válvula de escape do ataque. Na semana 11, contra o Chargers, a sensação foi confirmada com a entrada de Peterman na vaga de titular.

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Na maioria das vezes, o que transforma alguém num bom treinador é sua capacidade de adaptar seu esquema às peças disponíveis. Quando se tenta inverter o processo, o resultado tem menos chance de dar certo. As duas maiores armas de Tyrod Taylor são sua mobilidade e seus passes longos, e o ataque de Rick Dennison limita-o em utilizá-los. Como resultado, Taylor tem sido estatisticamente um dos piores quarterbacks da liga na temporada, com um ANY/A de 5.29.

Rick Dennison, aliás, nunca foi o play caller mesmo em suas outras passagens como coordenador. Em Denver (2007–08), Mike Shanahan era quem chamava as jogadas; em Houston (2010–13), essa tarefa cabia a Gary Kubiak; e por fim, de volta a Denver (2015–16), novamente tal tarefa cabia a Kubiak. A primeira vez na qual Dennison assumiu tal função foi na atual temporada. Suas chamadas tem sido quase sempre conservativas, tentando evitar turnovers, o que se justifica pelo baixo nível do personnel ofensivo — apenas um playmaker de qualidade, recebedores com problemas de drops e que não conseguem obter separação, uma linha ofensiva porosa e que dá pouco tempo para Taylor desenvolver suas progressões.

A capacidade de improvisação, a mobilidade e os ótimos passes longos de Taylor estão presentes na jogada acima. Um play action aonde os linebackers do Falcons são atraídos para a parte esquerda do campo, forçando Tyrod a improvisar na jogada — há um linebacker como spy (jogador que é responsável por marcar algum membro do ataque que corra com a bola, geralmente em option plays) e isso dificultaria que o quarterback do Bills conquistasse o first down correndo com a bola. Enquanto isso, Charles Clay corre uma rota corner saindo da esquerda. Taylor o vê na frente de Keanu Neal, lança com perfeição e consegue uma big play; Atlanta era favorita por 9 pontos nessa partida: Buffalo venceu fora de casa os atuais campeões da NFC por 6.

É uma verdade que a altura do jogador (6-foot-1) não é ideal, embora também seja verdade que isso deixa de ser um problema quando um quarterback tem facilidade de jogar fora do pocket. De todos os problemas com o ataque do Bills, esse é o maior: Dennison tem forçado Taylor a jogar dentro do pocket e atacar rotas mais curtas, como numa West Coast Offense tradicional. As maiores qualidades de Tyrod são justamente as contrárias. Por que você forçaria seu principal jogador a jogar contra as qualidades dele? O resultado disso é o supracitado ANY/A de 5.29 em 2017, uma queda em relação as outras duas temporadas como titular em Buffalo (2015: 6.79; 2016: 5.92).

O ataque do Bills, por sua natureza conservadora, é muito previsível. A equipe muito raramente arrisca conversões mais longas em terceira descida.

No jogo contra o Denver Broncos, aonde o Bills venceu por 26–16, a equipe converteu 4/8 terceiras descidas nas quais passou a bola. Em apenas uma delas, entretanto, o passe foi lançado além da linha do first down, embora a maioria das jardas da jogada tenham sido conquistadas após a recepção.

Nos primeiros jogos da temporada, o Bills atacou o meio do campo em grande parte das terceiras descidas. O melhor jogo da temporada da equipe — tanto do quarterback, quanto do coordenador, quanto da defesa — foi contra o Falcons, aonde as chamadas foram criativas e o ataque foi produtivo. Aqui, uma variação do conceito mesh (duas rotas se cruzando no meio do campo) com ISO abre espaço para Andre Holmes receber um passe rápido e realizar a conversão; esse drive terminaria em touchdown. Isso seria excelente se fosse a norma, e não a exceção.

O sistema ofensivo empregado por Dennison é a causa do ataque do Bills ser o sétimo pior da liga em jardas totais e pelo ataque aéreo ser o terceiro pior. É um ataque muito previsível e conservador, utilizando pouco as melhores armas de seu líder. Taylor não é um jogador de elite, nunca foi e nunca será. Todavia, Taylor não é o problema, nunca foi e nunca será.

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Henrique Bulio
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Numa eterna cruzada contra o feijão por cima do arroz.