Esquema + Talento: Vai Encaixar?

Analisando o esquema tático do Tampa Bay Buccaneers

Pedro Pinto
ZONA FA
7 min readMay 13, 2016

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Dirk Koetter, Head Coach do Tampa Bay Buccaneers

Nesta série de análise tática, vamos avaliar o encaixe ofensivo das 32 franquias da NFL. Analisando o atual roster de cada equipe, veremos se será possível para o Head Coach implementar a sua filosofia de jogo, seja West Coast, Air Coryell, Erhardt-Perkins, Spread, etc.

O motivo pelo qual farei esta análise é para demonstrar que, mesmo com a presença de grandes jogadores e gênios como Heach Coach ou Offensive Coordinator, é fundamental que a habilidade dos jogadores encaixe com o estilo de jogo dentro de campo. Se fôssemos, por exemplo, inserir Alex Smith em um ataque focado em passes em profundidade como o Air Coryell, dificilmente este ataque teria sucesso, assim como inserir Adrian Peterson em um ataque com a filosofia Spread Offense não faz o menor sentido.

Para avaliarmos os encaixes ofensivos, daremos notas por letra: A, B, C, D ouF. A é a melhor nota possível e F é a pior nota possível. Pode haver a inclusão de + ou — para demonstrar uma pequena diferenciação na nota. Eu prefiro as notas por letra, pois é um pouco mais conceitual do que notas por número em que se dá uma avaliação exata do desempenho/encaixe do time.

O sistema que vamos avaliar hoje é o do Tampa Bay Buccaneers e seu Head Coach, Dirk Koetter.

Jameis Winston conversa com seu então coordenador ofensivo, Dirk Koetter
  • Filosofia Ofensiva: Air Coryell

Talvez o sistema ofensivo mais revolucionário da história da NFL, foi criado no final da década de 70 por Don Coryell. Este sistema utiliza rotas em profundidade para esticar a defesa verticalmente e apresenta inúmeras opções de passes em profundidade para o quarterback. O momento em que esta filosofia fez sua primeira marca memorável na NFL foi com o San Diego Chargers da década de 80 em que Coryell era o Head Coach. Junto ao seu quarterback integrante do Hall of Fame, Dan Fouts, bateram recordes e lideraram a NFL em jardas totais por cinco temporadas seguidas. Este sistema conta com uma porcentagem mais baixa de passes completos mas em compensação, gera grandes avanços quando as recepções são feitas. O modelo inicial desta filosofia não pedia que o recebedor fizesse uma rota exata. O ponto de ênfase era que ele estivesse no ponto certo no momento certo para fazer a recepção, além do fato dele não ter alinhamento exato na linha de scrimmage. Como vocês podem ver, quando foi criado, era um sistema muito simples em que as características principais dele eram a presença de um quarterback que ficasse dentro do pocke edono de um braço potente, wide receivers velozes, uma linha ofensiva enorme e excelente em proteção de passe e um tight end que soubesse fazer boas rotas para receber passe. O que hoje em dia é padrão em muitas equipes, Kellen Winslow Sr. foi o primeiro tight end da história da liga a exercer uma função em que vemos atletas como Rob Gronkowski e Travis Kelce fazendo na atualidade. Aliado ao jogo aéreo, o ataque contava com um Power Run Scheme que por muitas vezes contava com apenas um running back no backfield. Muitas atribuem o Air Coryell por ser um dos sistemas a ajudar no estabelecimento do one-back set na NFL.

O foco deste ataque é que ele é praticamente o oposto do West Coast Offense. No sistema de Bill Walsh, o ataque compensa pela falta de talento físico no ataque permitindo leituras rápidas para o quarterback e esticando a defesa horizontalmente. No Air Coryell, a presenca de recebedores extremamente velozes que podem esticar uma defesa verticalmente é fundamental assim como um quarterback que consegue acertar os passes em profundidade. Este modelo é visto por muitos como o que deu o primeiro passo para a NFL passar a ser uma liga que favorece o jogo aéreo, como pode ser evidenciado pelo Chargers de 1979 que se tornou o primeiro time da história da AFC a ter mais passes (541) do que corridas (481) na temporada. Hoje em dia, esta filosofia está profundamente enraizada na NFL e conta com inúmeras variações do sistema, além de todos os times contarem com algum aspecto do esquema, por menor que seja, em seus playbooks.

Quarterback do Tampa Bay Buccaneers, Jameis Winston
  • Quarterback

Em termos de habilidades para um comandante do Air Coryell, Jameis Winston é o protótipo ideal para este ataque. Quarterback que possui um instinto natural dentro do pocket, braço potente e acostumado a executar five e seven-step drops, todas estas são características que técnicos que utilizam esta filosofia procuram para que esta possa funcionar. Apesar de ser apenas um segundo-anista em 2016, Winston já apresenta a calma e liderança que grandes quarterbacks da NFL possuem. Começou a temporada de 2015 cometendo muitos erros de leitura mas isto é sempre esperado de um rookie. Já no seu primeiro ano, ultrapassou a marca das 4.000 jardas passadas. A porcentagem de passes completos (58,3%) ficou abaixo do esperado, mas vale lembrar que isto faz parte desta filosofia de ataque. Winston possui uma habilidade incrível em acertar os passes em profundidade, em especial os deep outs. O seu desempenho foi tão acima do esperado, que a diretoria de Tampa Bay demitiu Lovie Smith e inseriu o então coordenador ofensivo, Dirk Koetter como Head Coach para 2016 devido ao medo de perdê-lo para outra franquia. O planejamento para 2016 é de manter o crescimento do Bucs como uma potência ofensiva na NFL e com as armas que citaremos nos próximos setores neste artigo, veremos que o futuro é promissor em Tampa Bay. Junto a Koetter, Winston é certamente a grande estrela desta franquia pelos próximos anos.

Jameis Winston observa enquanto Doug Martin encontra um buraco criado pela linha ofensiva
  • Jogo Terrestre

Após duas temporadas medíocres, Doug Martin voltou a ser uma peça fundamental na engrenagem do ataque de Tampa Bay, ficando atrás apenas de Adrian Peterson em jardas totais na temporada regular de 2015 com 1.402. Muitos atribuem a chegada de Koetter, um dos atuais gênios ofensivos da NFL, como o momento em que Martin se reencontrou na liga, participando de um ataque equilibrado. Mesmo com uma linha ofensiva que não está entre as melhores da National Football League, Martin obteve enorme sucesso e após um ano de experiência no esquema, pode ser que tenha uma temporada ainda melhor. Apesar da perda de Logan Mankins para a aposentadoria, a unidade central do ataque promete evoluir bastante em 2016 o que deixa qualquer torcedor da franquia esperançoso.

A ameaça de perder Martin para Free Agency foi rapidamente solucionada e o halfback assinou um contrato de cinco anos com a franquia. Se o #1 no depth chart mantiver o seu nível de produção, o jogo terrestre será bastante interessante em 2016.

Mike Evans faz um stiff arm para ganhar mais jardas
  • Jogo Aéreo

Parece que o disco tá arranhado, mas mais uma vez, é um ponto promissor do ataque do Bucs. A quantidade de armas disponíveis é impressionante. Evans, Jackson (mesmo decadente), Seferian-Jenkins e diversas outras opções secundárias oferecem Winston a possibilidade de ser um dos líderes em estatísticas em 2016. Seferian-Jenkins passou boa parte da temporada lesionado, mas quando está em 100% fisicamente, é um dos melhores tight ends recebedores da NFL o que é fundamental neste modelo do ataque Air Coryell. Jackson, mesmo não sendo a presença que era uns anos atrás, ainda é um jogador que pede a atenção de coordenadores defensivos na liga. Seus recebedores não são os mais velozes, mas o porte físico deles faz com que sejam ameaças no Red Zone, especialmente nas fade routes. Especialista em atacar os seams, Winston certamente está ansioso para inciar a sua segunda temporada na liga enquanto a NFC South já começa a pensar em formas de parar este ataque que promete ser um dos maiores pontuadores nos próximos anos.

Winston procura acertar um passe em movimento
  • Encaixe

O melhor encaixe desta série até agora, o Tampa Bay Buccaneers foi muito bem montado pelo seu General Manager, Jason Licht que assumiu a vaga em 2014 e tem como escolhas principais Mike Evans e Jameis Winston. Salve raras exceções, este ataque é extremamente jovem e basicamente todas as suas peças são perfeitas para o Air Coryell de Dirk Koetter. Talvez um dos aspectos mais importantes foi justamente o fato da franquia ter mantido Koetter na comissão técnica ao demitir Lovie Smith. O ataque do time era claramente a alma da equipe e perder a mente que fazia as peças encaixarem seria um tremendo desperdício. Já dizia Octavio Neto, “setinha pra cima” para o futuro do ataque do Tampa Bay Buccaneers.

Nota: A-

Esta foi mais uma avaliação da série sobre encaixes ofensivos que faremos aqui no Zona F.A. Em breve vamos analisar a próxima franquia e seguiremos até completarmos as 32 existentes na NFL.

Se tiverem dúvidas ou perguntas para os nossos analistas, envie para:

Até a próxima!

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Pedro Pinto
ZONA FA

Former NFL Analyst @ Esporte Interativo/ Zona FA Analyst /Director of Football Ops @ R.A.M. / Offensive Co. @ Vasco Patriotas / QB Coach @ Brasil Onças U19