Esquema + Talento: Vai Encaixar?

Analisando o esquema tático do San Diego Chargers

Pedro Pinto
ZONA FA
7 min readJun 11, 2016

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Mike McCoy, Head Coach do San Diego Chargers

Nesta série de análise tática, vamos avaliar o encaixe ofensivo das 32 franquias da NFL. Analisando o atual roster de cada equipe, veremos se será possível para o Head Coach implementar a sua filosofia de jogo, seja West Coast, Air Coryell, Erhardt-Perkins, Spread, etc.

O motivo pelo qual farei esta análise é para demonstrar que, mesmo com a presença de grandes jogadores e gênios como Heach Coach ou Offensive Coordinator, é fundamental que a habilidade dos jogadores encaixe com o estilo de jogo dentro de campo. Se fôssemos, por exemplo, inserir Alex Smith em um ataque focado em passes em profundidade como o Air Coryell, dificilmente este ataque teria sucesso, assim como inserir Adrian Peterson em um ataque com a filosofia Spread Offense não faz o menor sentido.

Para avaliarmos os encaixes ofensivos, daremos notas por letra: A, B, C, D ou F. A é a melhor nota possível e F é a pior nota possível. Pode haver a inclusão de + ou - para demonstrar uma pequena diferenciação na nota. Eu prefiro as notas por letra, pois é um pouco mais conceitual do que notas por número em que se dá uma avaliação exata do desempenho/encaixe do time.

O sistema que vamos avaliar hoje é o do San Diego Chargers e seu Head Coach, Mike McCoy.

Melvin Gordon recebe um handoff de Philip Rivers
  • Filosofia Ofensiva: West Coast Offense/Erhardt-Perkins

Primeira equipe desta série que não é possível colocar uma única filosofia como a base da franquia. O West Coast Offense, filosofia criada por Bill Walsh na década de 70–80 com o Bengals e 49ers, é um sistema ofensivo baseado leituras rápidas do quarterback. O Erhardt-Perkins nasceu na década de 70 com Ron Erhardt e Ray Perkins no New England Patriots e consiste principalmente em ter um jogo terrestre potente e ampla utilização do play-action para criar espaços na secundária adversária. Em San Diego, Mike McCoy é adepto do Erhardt-Perkins mas o seu coordenador ofensivo Ken Wisenhunt é da escola do West Coast Offense. A expectativa é de que as filosofias sejam mescladas, uma vez que McCoy é conhecido por conseguir se adaptar ao talento no seu roster e realizar modificações no seu sistema ofensivo.

Independente da forma com que será realizada a mescla de filosofias, Philip Rivers terá comando absoluto do ataque. Um dos melhores quarterbacks e recém nomeado #46 no ranking Top 100 da NFL.com em votação feita pelos próprios jogadores, Rivers é a alma da franquia. A expectativa é de que em 2016, o jogo corrido volte a ser o foco do ataque. Em 2015, as jogadas de corrida eram extremamente previsíveis e o ataque acabou se tornando unidimensional. Com a volta de Wisenhunt, o foco passará a ser nos passes curtos e mais uma vez, ênfase no jogo terrestre. No jogo aéreo, os recebedores são ideais para o West Coast Offense, o que tornará esta fusão de filosofias mais fácil para o ataque.

Philip Rivers chama um audible na linha de scrimmage
  • Quarterback

Integrante do Chargers desde 2004, Rivers é um dos jogadores mais vibrantes da liga. Se diverte no aspecto do trash talk e banca o que fala com sua habilidade. Faz leituras perfeitas das defesas e dono de uma mira espetacular, o jogador de 34 anos é um encaixe perfeito em basicamente qualquer sistema ofensivo da liga. Seu único grande defeito é quando é forçado a fazer passes em movimento, onde sua qualidade no passe cai consideravelmente. Desconsiderando este aspecto, uma vez que Rivers é um puro pocket passer, a expectativa para 2016 é a mesmo de sempre: domínio total. Na temporada passada, quebrou seu próprio recorde com 4.792 jardas passadas, mas lançou para touchdown em apenas 4,4% dos seus passes, o valor mais baixo de toda sua carreira. Isto ocorreu ao fato do Chargers ter sofrido com lesões desde a preseason e o elenco seguiu desfalcado ao longo do ano.

No West Coast Offense de Wisenhunt, Rivers é ideal para decifrar rapidamente as defesas e colocar a bola nas mãos do jogador adequado. Se aliar esta filosofia à capacidade de adaptação de McCoy, poderemos ver um Philip Rivers atuando melhor que em 2013, temporada em que foi eleito ao Pro Bowl. O resumo de Rivers é bem simples: até o momento, é o melhor quarterback a ser avaliado nesta série e certamente seguirá no debate para ser um dos Top 5 QBs da National Football League em 2016.

Melvin Gordon faz um corte para ganhar mais jardas
  • Jogo Terrestre

Unidade que sofreu demais em 2015 mas pode renascer em 2016. Lesões na linha ofensiva foram um problema grave e que forçaram o ataque a recorrer ao jogo aéreo constantemente. Melvin Gordon, líder em jardas corridas em 2015 com apenas 641, precisa demonstrar que valeu a escolha de 1a rodada no Draft retrasado. O calouro não anotou um touchdown em 2015 e foi uma tremenda decepção com apenas 3,5 yards per attempt. Danny Woodhead segue sendo uma boa opção no jogo aéreo mas não pode ser considerado uma opção #1 para running back. Ele seguirá sendo utilizado como third down back, aspecto importantíssimo no ataque de Ken Wisenhunt.

A linha ofensiva sofreu bastante em 2015 sendo uma das piores da liga, mas com a unidade saudável em 2016, o lado esquerdo está sólido com Dunlap e Franklin, ambos tratores humanos no jogo corrido. Com Fluker de guard pelo lado direito, este aspecto do ataque do Chargers promete um salto em qualidade para a próxima temporada. Ainda assim, Melvin Gordon precisa ser mais paciente na leitura dos bloqueios para que possa ser efetivo. Em diversos momentos da temporada, Gordon parecia querer forçar a abertura de um buraco na linha ao invés de ter a calma necessária para esperar a jogada se desenvolver.

Keenan Allen busca avançar após sua recepção
  • Jogo Aéreo

Com Keenan Allen 100%, Travis Benjamin vindo do Cleveland Browns e a escolha de Hunter Henry na segunda rodada do NFL Draft, o ataque volta a possuir as armas necessárias para dar mais oportunidades a Philip Rivers. Ainda tem o Antonio Gates que, mesmo sendo apenas uma fração do que já foi, pode aparecer em dados momentos da temporada e dominar uma partida ou outra. Lembrando novamente que o ataque deve contar com uma mescla das filosofias de McCoy e Wisenhunt, os jogadores disponíveis no roster são altamente capazes de atuar no sistema esperado. Allen é um dos melhores recebedores da liga, Benjamin chega para ser um deep threat e Henry terá a tarefa de absorver a maior quantidade de informação de Antonio Gates para que quando este se aposente, ele se torne o seu sucessor.

Em conceitos de West Coast Offense, todos os recebedores são capazes de gerar jardas após a recepção. No Erhardt-Perkins, a necessidade de se criar separação dos seus marcadores está presente em quase todos os integrantes do corpo de recebedores. Se formos falar da linha ofensiva, devemos reforçar que se conseguiram ficar saudáveis, Rivers não terá problemas para se manter em pé em 2016. Dunlap é um excelente left tackle e o interior da linha é de altíssima qualidade.

Antonio Gates faz recepção em cima da defesa do Seahawks
  • Encaixe

Desde a chegada de Philip Rivers em 2004, o San Diego Chargers tem sido um ataque altamente produtivo e o jogo aéreo nunca foi um problema. Os recebedores sabem criar separação de seus marcadores e Rivers é um dos quarterbacks mais inteligentes da NFL. Existe a necessidade deste ataque ser minimamente produtivo no jogo corrido, coisa que não aconteceu em 2015. Se conseguirem estabelecer o jogo terrestre, isto cria espaço para o play-action que por sua vez, cria mais oportunidades para jogadas em profundidade. Se isto ocorrer, Rivers terá ainda mais oportunidades no jogo aéreo e este ataque voltará a ser mortal.

Todas as peças estão presentes para que o Chargers tenha sucesso em 2016. A temporada de 2015 foi um ano atípico o que levou muitos a pensarem que o Chargers possui um dos rosters mais fracos da NFL o que é longe de ser uma verdade. Lesões afetaram demais o desempenho do time e quando se perde o entrosamento, a qualidade cai exponencialmente. O San Diego Chargers tem talento para brigar pelo título da AFC West.

Nota: A-

Esta foi mais uma avaliação da série sobre encaixes ofensivos que faremos aqui no ZONA F.A. Em breve vamos analisar a próxima franquia e seguiremos até completarmos as 32 existentes na NFL.

Se tiverem dúvidas ou perguntas para os nossos analistas, envie para:

Até a próxima!

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Pedro Pinto
ZONA FA

Former NFL Analyst @ Esporte Interativo/ Zona FA Analyst /Director of Football Ops @ R.A.M. / Offensive Co. @ Vasco Patriotas / QB Coach @ Brasil Onças U19