Os 10 melhores quarterbacks da Semana 14 da NFL

Henrique Bulio
ZONA FA
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9 min readDec 12, 2017

É um discurso clichê, mas quarterbacks são os mais importantes jogadores de uma equipe de futebol americano, e nenhuma asset é tão valiosa quanto um franchise quarterback. Tenha um jogador competente na posição e seu time tem chances muito maiores de ser relevante numa temporada.

Analisar quarterbacks, entretanto, não é assim tão fácil. Sendo o futebol americano um esporte com milhões de variáveis, formações e possibilidades diferentes, dissecar a atuação de um jogador na posição vai muito além do que simplesmente classificá-los por meio do passer rating.

Pensando nisso, eu, Henrique Bulio, estarei publicando no Zona FA uma classificação semanal das dez melhores atuações na posição até o fim da temporada. O objetivo aqui é analisar as atuações puramente por meio das vertentes da posição — ou seja, as estatísticas não são tão importantes.

10. Brett Hundley, Green Bay Packers

(35/46, 265 jardas, 3 touchdowns, 111.2 passer rating, 7.07 AY/A)

Mike McCarthy foi muito menos conservador do que se esperava com Hundley no último domingo, imprimindo diversas empty sets e arriscando um número considerável de quartas descidas. Com efeito, o front seven do Browns conseguiu pressionar o jogador, mas em contrapartida teve de se manter honesto pela ótima mobilidade do quarterback do Packers.

Hundley lançou uma alta quantidade de passes mais curtos, misturando rotas curl junto a screens com frequência. O jogo terrestre do Packers não foi consistente o suficiente a ponto de Green Bay utilizá-lo mais vezes (27 carries, 85 jardas, TD, 3.1 YPC) e o fato dos cabeças de queijo estarem em desvantagem por quase todo o jogo também contribuiu com o alto número de passes do ex-Bruin. Uma boa execução do game plan resultou numa boa vitória de virada contra um Browns que jogou a melhor partida de sua temporada até então.

9. Jared Goff, Los Angeles Rams

(16/26, 199 jardas, 2 touchdowns, 110.9 passer rating, 9.19 AY/A)

Não havia motivo para o Los Angeles Rams apostar num game plan com base num jogo aéreo explosivo, já que Todd Gurley II teve uma média de 7.4 YPC além de 77% de sucesso nas jogadas de corrida. Além disso, a ausência de Robert Woods limitava as opções mais explosivas para o ataque da Costa Oeste.

Contra uma das melhores — senão a melhor — linha defensiva da NFL, Goff não demonstrou pânico no pocket, mesmo sabendo que os hits viriam aos montes. Sim, talvez as jogadas muito explosivas não tenham saído em abundância; contudo, o segundo anista executou com bastante qualidade o plano de jogo buscado por Sean McVay quando lançando a bola: atacar o segundo nível da defesa de Philadelphia com rotas intermediárias e dando chances de seus recebedores conquistarem um bom número de jardas depois da recepção — Cooper Kupp foi o principal beneficiado disso durante o jogo.

Você já deve ter ouvido falar sobre o quanto o desenho do ataque de Sean McVay ajudou Goff a desenvolver seu jogo na atual temporada. O que não pode ser ignorado é o quanto Jared melhorou sua pocket presence — entender como as proteções funcionam e de onde viriam as pressões do Eagles foram dois exemplos claríssimos durante o jogo na California. Não foi uma exibição sexy em termos estatísticos, mas foi eficiente dado o que o Rams se propôs.

8. Jimmy Garoppolo, San Francisco 49ers

(20/33, 334 jardas, 1 touchdown, 1 interceptação, 92.2 passer rating, 9.36 AY/A)

Se você assiste a um jogo de Jimmy Garoppolo, o que mais costuma chamar à atenção do espectador é o quão rápido a bola sai das mãos do quarterback. Enfrentando o Texans — que, mesmo sem J.J. Watt e Whitney Mercilus, possui em Jadeveon Clowney um dos melhores pass rushers em toda a liga e esteve na cara de Garoppolo o jogo inteiro — , a nova estrela da Costa Oeste conseguiu mascarar a fraqueza de sua linha ofensiva soltando a bola de forma veloz e consistente.

San Francisco não tem bons recebedores, a linha ofensiva é porosa e o jogo corrido pouco ou nada produz. No último domingo, Garoppolo conseguiu elevar muito a produção dos primeiros — até mesmo Marquise Goodwin teve um jogo superior a 100 jardas! — com passes dando chance para YPC. Ele foi calmo em suas progressões, não se desesperando com a pressão texana e lançando muito bem em passes intermediários. As duas primeiras exibições do novo brinquedinho de Kyle Shanahan são animadoras pro futuro californiano.

7. Mitchell Trubisky, Chicago Bears

(25/32, 271 jardas, 1 touchdown, 112.4 passer rating, 9.09 AY/A)

De longe o melhor jogo de Trubisky na sua temporada de calouro até então, mesmo com elementos semelhantes aos que o Bears utilizou durante toda a temporada — leituras reduzidas a metade do campo na maioria das vezes, diversos play-actions e rollouts para o lado direito do campo. Chicago até mesmo utilizou option plays, sendo um touchdown anotado por Trubisky nesse segmento.

A maior evolução do calouro durante as suas partidas tem sido suas tomadas de decisão, sem dúvida alguma. Seus passes são pouco forçados, pois o Bears tem como base o jogo terrestre no ataque, o que abre naturalmente abre espaço para play-actions e dificulta a defesa contra o passe. O touchdown para Adam Shaheen na red zone teve precisão impecável. Por fim, os passes intermediários estiveram afiados no último domingo: segundo o Pro Football Focus, foram 7 completos entre 9 tentativas nestes.

6. Dak Prescott, Dallas Cowboys

(20/30, 332 jardas, 3 touchdowns, 137.1 passer rating, 13.07 AY/A)

Ótimos números pra uma atuação boa. Prescott jogou muito bem, explorando os imensos buracos deixados por New York na secundária e colocando a bola em janelas pequenas de passe. Ainda assim, não vamos exagerar: foram apenas dois passes em que a bola viajou pelo menos vinte jardas, com o touchdown para Jason Witten no último quarto sendo o único completo desses.

Esse jogo foi importante para Prescott pelo lado mental, já que foram poucos (ou nenhum) os erros cometidos. Dallas contou com uma grande atuação da equipe como um todo, com ótimas jogadas explosivas e um alto número de jardas após a recepção de seus wide receivers. Dak não tentou fazer o excepcional: ele se manteve calmo no pocket, seu footwork esteve calibrado e suas decisões foram simples, mas efetivas. Com efeito, o Cowboys voltou a ter boas exibições de seu quarterback e voltou a ter um record positivo.

5. Ben Roethlisberger, Pittsburgh Steelers

(44/66, 506 jardas, 2 touchdowns, 99.7 passer rating, 8.27 AY/A)

66 passes não é um número comum e isso se acentua ainda mais se considerarmos que a defesa do Ravens é uma das melhores da liga. 506 jardas são o máximo já lançadas por um quarterback durante essa temporada. Números que impressionam se considerarmos que Roethlisberger tem 35 anos.

O plano do quarterback era bem simples: lance para seu principal recebedor e deixe-o fazer o resto. Com o melhor wide receiver da liga em campo, 18 desses 66 passes foram em sua direção (Antonio Brown terminou a partida com 11 recepções e 213 jardas) e, com milimétrica precisão na maioria de seus passes longos, a secundária de Baltimore teve um dia para se esquecer. O Ravens sabia que um passe estava vindo, mas nem isso podia parar um signal caller que queimou a secundária de todos os jeitos. O Steelers tem qualidade suficiente para atacar verticalmente toda e qualquer defesa, e um quarterback capaz de conectar em qualquer lugar do campo.

4. Carson Wentz, Philadelphia Eagles

(23/41, 291 jardas, 4 touchdowns, 1 interceptação, 100.8 passer rating, 7.95 AY/A)

Num dia em que a linha ofensiva do Eagles esteve longe do seu melhor, o momento mais triste e marcante não ocorreu por uma falha de bloqueio ou algum hit em Wentz. Chegaremos lá num momento; o que temos de ter em mente é que, até o momento em que a mágica temporada do segundo anista se encerrou, Carson mais uma vez tinha uma ótima atuação — e, dessa vez, contra uma defesa entre as mais agressivas da liga.

Esqueça a interceptação no início do jogo: ela proveio de um tipped pass num passe que Nelson Agholor deveria ter agarrado. Os três drives seguintes demonstraram todas as qualidades as quais justificavam a campanha pelo prêmio de MVP ao fim da temporada: Wentz encaixava passes em curtas janelas, estendia jogadas e realizava conversões improváveis mesmo contra um front seven que dominava a linha ofensiva de Philadelphia durante a partida.

Uma melhora notável nos atributos do jogador é no footwork, que está muito mais calmo ao passo que Wentz realiza suas progressões nas jogadas. A mesma melhora no footwork foi responsável por reduzir a quantidade de overthrows, tão presente na rookie season. No jogo anterior contra Seattle, a constante pressão provinda do lado esquerdo da linha ofensiva forçou Wentz a apresentar um trabalho de pés inconsistente, resultando em passes imprecisos. Contra Los Angeles, Carson se movimentou com perfeição no pocket, fazendo ajustes rápidos que resultaram em jogadas produtivíssimas — a longa conversão de terceira descida com Torrey Smith no fim do segundo quarto é um perfeito exemplo disso.

A parte triste do jogo, obviamente, é o fato da grave lesão no joelho sofrida pelo quarterback no segundo tempo: Wentz rompeu o ligamento cruzado anterior numa jogada anulada por falta e, ainda assim, permaneceu em campo por mais quatro jogadas, lançando seu quarto touchdown da partida numa quarta descida. A maravilhosa temporada do candidato ao prêmio de MVP se encerrou de forma melancólica.

3. Blake Bortles, Jacksonville Jaguars

(18/27, 268 jardas, 2 touchdowns, 123.7 passer rating, 11.41 AY/A)

A montanha-russa da Florida teve um excelente jogo contra uma das defesas mais ferozes em toda a NFL, explorando a fragilidade atual da defesa de Seattle dadas as lesões sofridas por seus principais jogadores. Bortles atacou a secundária do Seahawks verticalmente diversas vezes, completando todos seus passes longos (nos quais a bola viaja pelo menos 20 jardas).

Embora o melhor jogador da posição esteja fora da temporada, o Jaguars pode se gabar de ter em Keenan Cole e Dede Westbrook dois wide receivers com velocidades invejáveis. Com efeito, não é de surpreender as quase 10 jardas por tentativa de passe obtidas no duelo. Embora sua mecânica de passe ainda seja notavelmente longa, seu trabalho de pés parece estar mais coordenado, o que resulta em melhor movimentação no pocket e melhor precisão nos lançamentos. Jacksonville não depende de ótimas exibições do jogo aéreo para vencer suas partidas, conquanto seja um atributo muito bem vindo em em visão a pós-temporada que se avizinha.

2. Philip Rivers, Los Angeles Rams

(18/31, 319 jardas, 2 touchdowns, 114.9 passer rating, 11.58 AY/A)

As sete vitórias nos últimos nove jogos do Los Angeles Chargers passam muito pela melhora de Philip Rivers ao longo da temporada. O veterano não tomou conhecimento da secundária de Washington, distribuindo a bola por todo o campo e tendo uma alta taxa de passes completos em nível intermediário — 11/13 para 268 jardas e um touchdown em passes que viajaram pelo menos 10 jardas, segundo o Pro Football Focus.

O passe mais bonito do quarterback na rodada veio no segundo quarto, quando o Redskins se encontrava em Cover 1 numa 1st & 10 na linha de 25 jardas do campo de defesa. Tyrell Williams correu uma rota post saindo da direita e, após bater Josh Norman na cobertura man to man, Rivers conectou uma deep ball perfeita no meio do campo, elevando a diferença no placar para 20 a 6. O entrosamento com Keenan Allen também tem sido de impressionar, já que Rivers confia em seu principal recebedor para vencer os cornerbacks em bolas 50/50 e Allen tem feito recepções maravilhosas — o flea flicker no início do terceiro quarto foi a jogada que praticamente encerrou o confronto: Los Angeles anotaria mais um touchdown na jogada seguinte e Washington nunca chegaria perto de ameaçar o placar.

O Chargers começou a temporada de modo horrível; no entanto, com a bagunça que a AFC West se tornou somada a todo o talento da equipe da California, Los Angeles é agora a equipe favorita na divisão e, com um quarterback entre os melhores da liga mais uma vez, pode ameaçar qualquer equipe nos playoffs.

1. Jay Cutler, Miami Dolphins

(25/38, 263 jardas, 3 touchdowns, 112.1 passer rating, 8.50 AY/A)

Uma vitória surpreendente sobre o New England Patriots teve como momento mais impressionante a brilhante atuação de Jay Cutler contra uma defesa que mandou um alto número de blitzes ao longo da partida — segundo o Pro Football Focus, foram 21 blitzes em 41 dropbacks do veterano.

Foi uma atuação onde Cutler fez jogadas que não se costuma ver do mesmo — escapar da pressão e converter terceiras descidas, por exemplo, é algo raro de se ver. New England tentou distinguir pressões e coberturas, e Cutler explorou a falta de qualidade dos linebackers com maestria — Adam Gase chamou diversas jogadas com Jarvis Landry in motion buscando conquistar jardas depois da recepção e o plano deu certo.

O discurso de “Cutler joga bem em primetimes” é de fato real: se os números são bons, o film é melhor ainda, pois os recebedores de Miami ainda desperdiçaram algumas ótimas oportunidades. Mesmo assim, é justo dizer que, surpreendentemente, Cutler teve a melhor atuação de um quarterback na semana 14 da NFL.

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Henrique Bulio
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Numa eterna cruzada contra o feijão por cima do arroz.