Vamos ao Tape: Como Identificar um RPO

A nova onda da NFL é constantemente mal explicada. Aprenda você mesmo como identificar um Run Pass Option.

Pedro Pinto
ZONA FA
9 min readAug 23, 2018

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Estamos de volta!

A minha coluna semanal Vamos Ao Tape está oficialmente de volta. Por questões de falta de tempo, tive que desligar a coluna por um tempo, mas agora ela retornou! Estarei por aqui no ZONA FA toda quinta-feira com uma análise específica para vocês!

O tema para a reinauguração da coluna será o Run-Pass Option, mais conhecido como RPO. Na temporada passada, este conceito — popularizado nas ligas de High School e College Football — se tornou parte do cotidiano do torcedor da National Football League. Parecia que toda jogada na NFL, especialmente do Philadelphia Eagles, era algum tipo de RPO sendo executado. A grande verdade é que boa parte das jogadas em que narradores americanos dizem ser um RPO (alô Al Michaels), passam longe de serem RPOs.

O RPO, por definição, é uma jogada que conta com um conceito de corrida e um conceito de passe ao mesmo tempo. Parece simples, mas nem tanto.

Para começar a entender o RPO, precisamos primeiro lembrar de uma regra fundamental da NFL: Se um jogador inelegível para receber um passe (linha ofensiva) estiver a cinco jardas ou mais além da linha da scrimmage, a arbitragem deverá marcar uma falta por jogador inelegível além da LOS, mesmo não sendo para ele o passe.

Analisando esta regra, imaginem um passe de 20–30 jardas, que demora para se desenvolver, sendo que a OL está avançando para bloquear para uma corrida. Isto resultaria em uma falta em 100% das jogadas.

O que devemos lembrar sempre é que um passe em um RPO QUASE NUNCA viaja mais de 10 jardas, por dois motivos:
1 — O QB não tem tempo para esperar uma rota mais longa.
2 — Será marcada falta por jogador inelegível.

A leitura no RPO não consiste de reconhecimento de coberturas e sim de apenas UM jogador no lado defensivo da bola. Parece muito fácil, e é exatamente por este motivo que o RPO se tornou tão popular.

Vamos analisar algumas jogadas do Super Bowl LII para melhor entender o fenômeno do RPO.

Aqui vemos o Eagles em uma situação de 2nd & 3, na linha de 26 jardas do Patriots, com 11:07 restando no primeiro quarto. Era o primeiro drive da partida.

Neste primeiro lance, podemos ver Jay Ajayi correndo off tackle para um ganho simples de quatro jardas, o que seria o suficiente para um first down. Reparem que mesmo com a corrida os três recebedores do lado esquerdo executam rotas. Os dois mais externos em five yard ins e o mais interno executa uma slant. Pode aparentar ser uma corrida normal, mas com a imagem do endzone, podemos entender melhor.

Após o snap, tem um detalhe fundamental para podermos ver que se trata de um RPO. O center, left guard e left tackle, executam movimentação de pocket para proteger Nick Foles. Diferente deles, o right guard, right tackle e tight end, executam movimentação de outside zone. Este é o primeiro indicativo de um RPO: A linha ofensiva apresenta responsabilidades completamente diferentes quando se compara o lado esquerdo com o direito. É claro que existem RPOs onde a linha ofensiva inteira executa algum tipo de bloqueio de corrida, seja gap blocking ou zone blocking. Isto nos leva ao segundo indicativo de um RPO.

Na imagem a seguir, reparem como Foles executa o handoff com os olhos fixos no linebacker #52, Elandon Roberts.

A leitura de Foles é extremamente simples:

1 — Se o key defender sentar ou afastar pra marcar o passe, entregue o handoff.

2 — Se o key defender atacar a corrida, passe a bola para o recebedor livre.

Neste caso, é Trey Burton que está executando a rota e a bola seria nele, caso Roberts tivesse atacado a corrida.

O motivo pelo qual é considerado uma leitura fácil é o fato de que essa jogada é criada baseada somente na contagem de jogadores. o técnico quer colocar seus atletas em uma situação vantajosa onde o número de bloqueadores é igual ou maior que o número de defensores num determinado espaço do campo.

Os jogadores de linha ofensiva que executam pass protection, fazem isso no caso do LB #52 atacar a corrida. Eles darão tempo a Foles para que ele possa ler o conceito de passe no backside da jogada.

Se o número de defensores for maior que o número de bloqueadores, lance a bola para o atleta que está atacando o espaço vazio no campo.

Na próxima jogada, 1st & 10 na linha de 27 jardas do Patriotas com 10:32 pra rodar no primeiro período. Vemos mais um RPO do Eagles, desta vez um ganho de seis jardas, novamente com Ajayi. Uma corrida de seis jardas pode não parecer explosiva, mas vale lembrar que se em toda corrida, o ataque ganhar 4 jardas, sempre irá renovar seus downs, além do fato de uma 2nd & 4 ser uma situação extremamente favorável se você for o ataque.

Reparem no lado esquerdo da formação. Novamente vemos um conceito de passe, desta vez com Zach Ertz correndo uma bend para limpar o meio do campo e abrir espaço para a five yard in de Nelson Agholor. A rota de Alshon Jeffery, no inferior da tela, é feita simplesmente para limpar o cornerback do lance e bloqueá-lo mais distante da LOS.

Novamente vemos a linha ofensiva executando funções diferentes na jogada. O lado direito em outside zone e o lado esquerdo em pass pro. Apesar da formação ter mudado e das rotas serem diferentes, a leitura de Foles segue sendo a mesma no #52. Novamente, é uma contagem do número de jogadores que o ataque terá que bloquear. Roberts vai sentar e optar por defender o passe, fazendo com que Foles deixe a bola com Ajayi. A rota que Foles buscaria seria a de Agholor (que não aparece na tela na última imagem). Vale lembrar que a rota de Ertz existe para limpar o campo e criar espaço para Agholor, caso Roberts ataque a corrida.

Desta vez, há um agravante que faz com que apareça um gap enorme para Ajayi.

Quando um linebacker vai executar a sua leitura da jogada, a primeira coisa que ele presta atenção é o triângulo. Existem opiniões diferentes de como a leitura do triângulo deve ser feita, mas a mais comum é:

1 — Leia movimentação do Guard de seu lado da formação.

2 — Olhos na bola (basicamente olhos no quarterback)

3 — Olhos no running back.

A combinação dessas leituras dificilmente leva a uma leitura incorreta, mas não foi o caso nessa jogada.

Os defensores que alinham do lado da outside zone, estão lendo corrida aberta, portanto abrem para pará-la. Quando vemos os defensores do lado em que a OL faz pass protection, eles vêem um QB com a mão no peito do RB, mas olhando para o fundo do campo. Na cabeça deles, isso significa play action, então eles executam pass rush e o LB afunda para marcar o passe. Isso resulta em um gap absurdo no meio do campo.

Vamos dar um salto para o 4th quarter. Com 4:52 restando na partida, o Patriots lidera no placar por 33–32. Philadelphia se encontra na sua própria linha de 47 com 1st & 10.

O resultado da jogada é um ganho de apenas uma jarda, mas não se deve a um erro de leitura. A defesa de New England teve mérito em parar a corrida pois conseguiram executar as suas responsabilidades de forma mais eficaz que o Eagles.

O conceito de passe neste lance é um bubble screen no lado direito com Mack Hollins e Ertz bloqueando para Agholor. Após o snap, Ertz acaba bloqueando Devin McCourty, que era o key defender na jogada. Se ele atacasse a corrida, Ertz faria o bloqueio no segundo nível no jogador com o número 3 ao seu lado, Patrick Chung. Se McCourty atacasse a corrida, seriam dois bloqueadores de Philadelphia contra dois defensores de New England.

Visto do endzone, os bloqueios ficam claros.

A linha ofensiva inteira trabalha em inside zone para a esquerda, com o backside tackle e guard em combo block, onde quem sobrar, sobe para bloquear Kyle Van Noy. A leitura segue sendo em McCourty. O detalhe fica para o jogador no quadrado amarelo, Eric Lee. Vendo as reponsabilidades, ele também é um jogador sem bloqueio. O motivo disso é que, o conceito que está sendo executado, não é esperado que o edge defender do backside consiga parar a corrida, pois ele não tem leverage para tal. Por este motivo, ele não é bloqueado na jogada como parte do desenho da jogada em si. Vamos para a contagem de jogadores.

A regra que aplicamos a Lee também vale para McCourty. Ele não tem leverage para parar a jogada. Com isso, o Eagles tem, independente da movimentação de McCourty, uma corrida favorável. Porque não entregar diretamente para LeGarrette Blount?

Se McCourty resolvesse atacar a corrida, o Eagles estaria em uma posição favorável para um big play, com Agholor pegando a bola em campo aberto tendo um confronto de dois bloqueadores contra dois defensores. Como este não foi o caso, Foles entrega tranquilamente para Blount. Mérito da defesa do Patriots que parou a corrida com facilidade.

Por fim, veremos um RPO onde a leitura determinou que Foles deveria passar a bola.

Com 2:43 restando no último quarto e a bola na linha de 24 jardas do Patriots, ataque do Head Coach Doug Pederson se aproximava do touchdown que os colocaria definitivamente à frente no placar, dando o primeiro Super Bowl da história do Philadelphia Eagles.

1st & 10, a jogada se inicia com um motion de Torrey Smith para armar como H-back, como podemos ver no seu posicionamento no início da imagem abaixo.

O key defender nesta jogada está alinhado com Nelson Agholor no slot. Assim que sai o snap, Foles vira seu corpo para fazer a leitura e identifica uma blitz do #25, Eric Rowe.

A leitura em cima de Rowe é essencial para a corrida pois se trata de um counter. Veremos a movimentação da linha ofensivamente mais à frente, mas ele precisa acompanhar as rotas para a corrida dar certo. Como el vem em blitz, Agholor fica sozinho, isolado na flat. Ele recebe a bola imediatamente e usa sua velocidade para ganhar 10 jardas e um first down.

Acima, vemos o counter que seria executado pela linha ofensiva. O right tackle #65, Lane Johnson, executar o skip pull para pegar o defensor do lado onde a corrida vai ocorrer, que seria o Van Noy, #53.

Como Eric Rowe (não aparece na imagem) executa um blitz, a contagem não é favorável para o Eagles e a rota de Agholor passa a estar completamente livre.

Com isso, Foles lança para Agholor, mais uma vez executando uma boa leitura do Run Pass Option de Doug Pederson.

O objetivo do artigo de hoje foi de simplificar o entendimento do Run Pass Option. É comum tratar o futebol americano como um bicho de sete cabeças com relação a tática, quando no fim das contas, trata-se apenas de colocar seus atletas na melhor posição para o sucesso.

Nos falamos semana que vem!

Este foi mais um artigo da coluna Vamos ao Tape. Toda semana vamos estudar game film de algo que chamou a atenção do nosso analista e explicaremos o que ocorreu nas jogadas analisadas.

Se tiverem dúvidas ou perguntas para os nossos analistas, envie para:

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Pedro Pinto
ZONA FA

Former NFL Analyst @ Esporte Interativo/ Zona FA Analyst /Director of Football Ops @ R.A.M. / Offensive Co. @ Vasco Patriotas / QB Coach @ Brasil Onças U19