Vamos Ao Tape: a Carreira de Drew Brees

Voltamos no tempo para dissecar os momentos mais marcantes na carreira do first ballot Hall of Famer

Pedro Pinto
ZONA FA
12 min readOct 12, 2018

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Não há necessidade de explicar o motivo da escolha de Drew Brees como o tema da coluna de hoje. Certamente um Top 10 quarterback na história da liga e até o final de sua carreira, vai merecer fazer parte do debate de Top 5.

No Monday Night Football da Semana 5 da National Football League, o camisa nove do New Orleans Saints bateu o recorde de jardas totais passadas na carreira na NFL, recorde que pertencia a Peyton Manning, ex-quarterback do Indianapolis Colt e Denver Broncos.

Para aqueles que não conhecem, Drew Brees é um quarterback que entrou na liga em 2001 vindo do Purdue Boilermakers, com a escolha #32 overall, a primeira da segunda rodada do NFL Draft. Foi o último Draft sem o Houston Texans, que teria seu primeiro ano na liga em 2002. Com isso, haviam somente 31 franquias na liga e o San Diego Chargers tinha a primeira escolha da segunda rodada.

Sempre visto como um baixinho que poderia ter problema na NFL, ele mostrou que a característica pouco importa se o atleta tem qualidade de jogo, algo que Brees tem de sobra.

A saída de Brees do Chargers foi, na verdade, uma mistura de preocupação com a recuperação de sua lesão aliado a uma disputa de poder dentro da franquia, iniciada em 2003.

Escolhido em 2001, a escolha de Brees veio sob a gerência de John Butler, então general manager do Chargers. Na temporada de 2002, ele trouxe o renomado head coach Marty Schottenheimer para liderar a equipe. Para Marty, Brees era claramente o futuro da franquia.

A saída de Brees de San Diego começa 11 de abril de 2003, quando Butler veio a falecer devido a câncer. AJ Smith foi promovido de dentro da franquia e se tornou o novo GM.

Com pensamentos diferentes de Schottenheimer, Smith queria montar a franquia com a sua visão. Em 2004, Smith identificou em Philip Rivers um quarterback que seria o ideal para a franquia. Em sua opinião, Brees não era a melhor opção. A partir deste momento, começa a disputa por poder entre Smith e Schottenheimer pois para o head coach, não havia motivo pela escolha de Rivers.

O camisa 17 passaria dois anos no banco em San Diego até que na última partida da temporada de 2005, Schottenheimer decide colocar Brees como titular em uma partida cujo resultado não iria interferir com o final da temporada, pois San Diego já estava eliminado dos playoffs, mas devido à disputa de poder, Marty deixa Brees como titular e não permite que Rivers tenha a experiência de ter seu primeiro jogo com starter. A lesão veio quando John Lynch, então safety do Denver Broncos, conseguiu um sack em cima de Drew Brees que resultou em um fumble. Correndo atrás da bola, Brees acaba sofrendo uma lesão gravíssima no ombro, causando uma ruptura em 360 graus do shoulder labrum.

Não sou médico e desconheço o nome em português, portanto peço perdão aos leitores por este momento (risos).

Agora começa o dilema. Logicamente, Smith tinha medo de que Brees nunca mais voltasse a jogar e os especialistas diziam que Brees tinha apenas 25% de chance de recuperar a força de seu ombro. Junte isso ao fato de ter selecionado Rivers como futuro da franquia e o contrato de Brees ter acabado, isso leva Smith a oferecer um contrato de QB reserva a Brees, basicamente dizendo que ele seria banco de Rivers.

É claro que Schottenheimer queria Brees como titular, mas neste caso era difícil arranjar um motivo para mantê-lo no elenco sem 100% de chance de recuperação.

Brees nega a oferta de San Diego e recebe duas ofertas, uma do Miami Dolphins de Nick Saban, e outra do New Orleans Saints de Sean Payton. Payton diz a Brees que se ele estiver saudável para training camp, a vaga de QB1 seria dele.

Além de tudo isso, New Orleans estava se recuperando dos estragos causados pelo furação Katrina e Brees, ao visitar a cidade e ver como ela estava devastada, viu sua ida a New Orleans como uma oportunidade não só para sua carreira, mas também para ajudar a cidade a se reerguer.

Com isso, Drew Brees assina um contrato com o Saints no dia 14 de março de 2006 e o resto, como dizem, é história.

Antes de chegar ao momento em que Brees quebra o recorde de jardas totais passadas na carreira, vamos passar por algumas jogadas históricas em sua carreira. Inclusive, queria agradecer Guilherme Beltrão pela sugestão do tema através deste artigo, que relata os momentos mais marcantes da carreira de Drew Brees. As jogadas de hoje foram baseadas nos momentos marcantes descritos no artigo.

Recomendo demais a leitura do artigo pois infelizmente devido à falta de acesso a all-22 game film, só poderemos começar a nossa análise a partir da temporada de 2011, e existem muitos jogos marcantes antes desta temporada.

Voltando para a Semana 7 da temporada de 2011, o Saints encara um Indianapolis Colts sem Peyton Manning, que viria a sair da franquia e assinar um contrato com o Broncos após o término da temporada.

Neste ano, o Saints destruiu o recorde de ataque mais produtivo da NFL em termos de jardas anotando incríveis 7,474 ao final de 16 partidas.

O jogo mais marcante foi este contra o Colts onde em um Sunday Night Football, New Orleans humilhoun Indy por 62–7 com direito a uma performance de gala do líder da franquia de Louisiana: 31 passes completos de 35 tentados, 325 jardas e 5 touchdowns.

Um dos lances mais marcantes da partida ocorreu ainda no primeiro quarto.

Vale lembrar que nessa época, as imagens HD não eram amplamente utilizadas, portanto a imagem do jogo não é tão clara quanto atualmente.

Com 9:08 ainda para rodar, a partida ainda estava 0–0 e o Saints tinha a posse de bola na lina de 14 jardas do Colts encarando um Second & 4.

Payton chama uma formação com dois tight ends e dois wide receivers separados igualmente no campo. Indianapolis aparenta estar em Cover 3 Sky mas o que Sean Payton já sabe por estudar tape, é que se ele colocar Marques Colston em motion, a defesa gira os safeties para facilitar a marcação. A marcação agora passa a ser Cover 3 Cloud, com os dois safeties e Jerraud Powers cobrindo o fundo do campo.

Com o alinhamento que ele quer, Payton chama o conceito four verticals, com uma pequena adaptação. Pelo posicionamento de John Gilmore, ele vai executar uma corner para que ele possa atacar o ponto adequado do campo.

O conceito encaixa perfeitamente. O perigo de Jimmy Graham correndo livre na seam faz com que Pat Angerer hesite, esperando para ver onde o tight end vai atacar. Enquanto isso, Colston esticar sua rota mais para a lateral, sabendo que Antoine Bethea vai se preocupar com Graham atacando sua zona. Com Lance Moore atacando o canto do endzone, ele força Powers a acompanhá-lo. Essa combinação cria o espaço para o passe perfeito de Brees para Colston, abrindo o placar em um touchdown de 14 jardas.

Ainda na temporada de 2011, chegamos à Semana 16 onde Drew Brees bate o recorde de Dan Marino de jardas totais passadas em uma temporada em jogo contra o Atlanta Falcons.

O recode de 5,084 jardas estabelecido em 1984 era considerado o recorde que jamais seria quebrado por um quarterback, mas com a evolução do esporte, já vimos alguns QBs passarem desta marca. Hoje, vamos reconhecer Brees como o primeiro a conseguir este feito.

Primeiramente, vejamos os stats de Brees no embate: 23 de 39 passes completados, 307 jardas, 4 TDs e 2 INTs. Mais um belo jogo.

Para homenagear este momento histórico, vamos à jogada em que Brees bate o recorde.

Foi o último lance de Brees na partida e o Saints liderava por 38–16 com 2:56 restando na partida. Bola na linha de 9 jardas com Second & Goal para New Orleans.

O ataque roda o conceito stick no lado direito. No lado esquerdo da formação, tinham rodado anteriormente no jogo o conceito smash. Aqui, eles aparentam estar rodando o mesmo conceito, mas Darren Sproles agora executa um anle route.

A defesa se encontra em Cover 4.

Por já terem visto esse conceito anteriormente na partida, a defesa do Falcons marca perfeitamente a jogada, se fosse de fato smash no lado esquerdo.

Curtis Lofton e Thomas Decoud tem como responsabilidade marcar a rota de Colston que passa por suas respectivas zonas. Lofton na verdade, deveria marcar a rota de Sproles quando ela ataca o meio do campo, mas como ele ataca o lado direito da defesa, ele imagina que não será sua responsabilidade.

Enquanto isso, Sean Weatherspoon pensa que Sproles vai para o flat e acaba criando o espaço necessário para o passe. Brees reconhecei a cobertura presnap e sabe que seu running back estará livre. Ele olha para o canto do endzone para prender a cobertura tempo suficiente para que a janela fique aberta. Touchdown Saints.

Vamos agora para 2012.

Na Semana 5, Drew Brees bateu mais um recorde histórico da NFL: a sequência de partidas consecutivas com um touchdown passado, recorde que pertencia a Johnny Unitas. O recorde era de 47 jogos consecutivos e foi estabelecido em 1960 (não, você não leu errado).

O que tornou esta partida ainda mais significante para Brees foi o fato de ter batido o recorde contra seu ex-time, o San Diego Chargers.

Em mais uma performance de gala, Brees completou 29 de 45 passes, 370 jardas com 34 TDs e 1 INT. Tudo isso em mais um prime time game, Sunday Night Football.

Com 3:05 restando no primeiro quarto, Brees encara um Third & 6 na linha de 40 jardas de San Diego, perdendo por 7–0.

Alinhados em empty com 3 recebedores na direita, Brees mostra uma boa decisão que ele tomou no huddle.

No estudo do adversário, ele reconheceu que a defesa gostava de disfarçar coberturas em situações de third & medium. Com isso, ele chama a jogada que Sean Payton passou pra ele e diz o snap count para o ataque no final do huddle. Neste caso, vemos que ele informou que a primeira sequência seria falsa, que ninguém deveria se movimentar, para ver se a defesa indicaria qual a verdadeira cobertura.

O que aparentava ser uma Cover 4 com blitz no lado esquerdo do ataque é na verdade Cover 3 zone blitz com blitz do safety no lado direito e dos dois LBs.

Brees reconhece a cobertura e agora é a mesma coisa que fazer uma prova sabendo as respostas antes mesmo de começar.

No fim das contas, o play call foi perfeito desde o início, já esperando que a chamada fosse Cover 3.

A rota out de David Thomas faz confunde Marcus Gilchrist, que provavelmente era o responsável pela hook zone no meio do campo. Com isso, Eric Weddle é forçado a aguardar a definição da rota de Greg Camarillo e não pode ajudar os cornerbacks.

O playcall foi fantástico por um segundo motivo. Sabendo que os cornerbacks são agressiso, especialmente Quentin Jammer, ambos os recebedores abertos executam double moves para forçá-los a marcar a rota mais curta para em seguida atacar o fundo do campo.

Drew Brees demonstra novamente o seu entendimento da situação e ganha tempo no pocket, simplesmente aguardando Henderson ficar livre. Pela progressão de suas leituras, o passe era fácil em Camarillo, que estava sozinho e seria um first down tranquilo, mas ele reconheceu a oportunidade para um touchdown e aproveitou.

Vamos dar um salto até 1 de novembro de 2015.

Partida válida pela Semana 8 da temporada de 2015, Drew Brees e Eli Manning protagonizaram uma das partidas de maior pontuação da história da NFL e de quebra, Brees entrou para o seleto clube de quarterbacks que passaram para sete TDs em um jogo em vitória por 52–49 em cima do New York Giants.

Estatísticas de Brees na partida: 39 de 50 passes acertados, 505 jardas, 7 TDs e 2 INTs.

Vamos analisar o touchdown que empataria a partida em 49–49 e colocou Brees no clube dos 7 TDs.

Second & 8 com a bola na linha de 9 jardas, o Saints abre em uma formação 3x1.

Reparam alguma coisa? Vejam como o conceito de passe, mesmo que com algumas alterações, ataca o campo da mesma forma que o TD para Sproles que bateu o recorde de Dan Marino.

Vejam agora a cobertura da defesa, em Cover 4.

Benjamin Watson executa uma deep out e consegue puxar a marcação de Landon Collins e Jayron Hosley.

Colston executa uma curl com o mesmo princípio da jogada com Sproles em 2012, puxar a marcação do linebacker, que neste caso é Unai’ Unga.

Com isso, Jonathan Casillas fica exposto. Ele que já não é um linebacker conhecido por sua marcação contra o passe, é forçado a tomar ua decisão em cima de CJ Spiller que faz uma choice route. Spiller faz primeiramente a leitura de Hosley, para identificar a cobertura e reconhece o Cover 4. Com isso, ele sabe que agora ele tem Casillas sozinho no 1x1. Ele faz um rápido stutter step para forçar Casillas a hesitar e ataca o meio do campo em uma angle route. Como Unga foi puxado por Coltson, há espaço para o passe e o touchdown de empate na partida.

Chegamos agora ao momento em que Brees bate o recorde de jardas totais na carreira.

Número da partida: 26 passes completos de 29 tentados, 363 jardas e 3 TDs.

Vencendo por 20–6 com 2:46 restando no segundo quarto, o Saints encara first & 10 na própria linha de 38 jardas.

Formação 3x1, a defesa do Washinton Redskins aparenta demonstrar Cover 2 Zone, mas vai fazer a rotação tarde dos safeties para rodar Cover 3 Buzz. Porém ocorre uma falha na comunicação e Josh Norman mantém a marcação Cover 2 Zone, resultando em busted coverage com Tre’Quan Smith conseguindo um touchdown de 62 jardas.

O conceito que o Saints roda é three verticals com uma shallow sendo executada pelo recebedor solo, para puxar a marcação dos linebackers. Como podemos ver, verticals é um dos conceitos prediletos de Sean Payton.

Drew Brees reconhece a rotação dos safeties e percebe o busted coverage, soltando a bola para Smith e conseguindo assim, em mais um prime time game e com mais um touchdown, bater o recorde de jardas totais passadas na carreira.

Algo que poucas vezes reparamos mas deve ser celebrado também, é a reação dos colegas de equipe de Brees. Isso demonstra como Brees, além de ser um jogador fantástica, é um ser humano incrível. Os jogadores comemoram com ele como se o recorde fosse deles mesmos. Para se ter uma reação dessas, de outros pessoas comemorando as suas conquistas como se fossem delas, não basta ser um ótimo líder, precisa ser uma pessoa de bom coração também.

Este foi mais um artigo da coluna Vamos ao Tape. Toda semana vamos estudar game film de algo que chamou a atenção do nosso analista e explicaremos o que ocorreu nas jogadas analisadas.

Se tiverem dúvidas ou perguntas para os nossos analistas, envie para:

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Pedro Pinto
ZONA FA

Former NFL Analyst @ Esporte Interativo/ Zona FA Analyst /Director of Football Ops @ R.A.M. / Offensive Co. @ Vasco Patriotas / QB Coach @ Brasil Onças U19