Vamos Ao Tape

Analisando os erros de Philip Rivers que custaram a vitória do Chargers

Pedro Pinto
ZONA FA
10 min readNov 25, 2016

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Normalmente esta coluna é publicado na sexta-feira, mas devido a inúmeras coisas, fui forçado a abrir mão da publicação da Semana 9. Agora que estou com tudo regularizado, vamos voltar com tudo! Esta será uma semana BÔNUS com análise hoje E amanhã! Vamos de estudo de tape no ZONA FA. Na série Vamos ao Tape, analisaremos gamefilm dos times da National Football League uma vez por semana, em busca de entender atuações, erros, mudanças e filosofias implementadas na liga. O objetivo da coluna é de explicar como pequenos detalhes podem resultar em uma vitória ou até mesmo uma derrota. Alguns termos específicos serão utilizados e, caso não tenha sido utilizado antes na série, será explicado para vocês no início do artigo para facilitar a leitura do texto.

Na análise da Semana 10, vamos entender os erros de Philip Rivers na partida com o Miami Dolphins e que levaram à derrota do San Diego Chargers por 31 a 24.

  • Glossário:

1 — Cover 1 Robber: Marcação defensiva com um safety cobrindo fundo do campo, um jogador na “sobra” e o restante em marcação mano a mano.

2 — Quick Screen: Quando um recebedor rapidamente se vira ao QB na hora do snap para receber o passe imediatamente.

3 — Go: Rota que o recebedor aberto busca o fundo do campo.

4 — Seam: Rota em que o recebedor slot ou o TE fazem um go pelo meio do campo procurando passar por entre as zonas da defesa.

5 — Deep Out: Rota em que o recebedor corre 15–20 jardas de profundidade e quebra 90 graus em direção a lateral do campo.

6 — Cover 2 Man Under: Marcação mano a mano em que os dois safeties cobrem o fundo do campo.

7 — Tampa 2: Variação da defesa Cover 2 Zone que foi criada por Tony Dungy em sua época em Tampa Bay. A defesa faz uma marcação em zona com dois safeties cobrindo o fundo do campo e o middle linebacker fazendo uma zona meio mais aprofundada que o normal.

8 — Inverted Leves: Conceito de rotas em que o recebedor aberto corre cinco jardas e quebra 90 graus em direção ao meio do campo e o recebedor slot corre 10–12 jardas e quebra e 90 graus para a lateral do campo.

9 — All Out Blitz: Quando a defesa executa uma blitz com 8 defensores deixando apenas 3 três marcando em zona.

10 — Comeback: Rota em que o recebedor corre 15 jardas e quebra em direção à lateral do campo para receber o passe.

Ano após ano, Philip Rivers sempre é considerado um dos melhores quarterbacks da NFL, e de fato é. Pessoalmente, eu acredito que Rivers está no caminho para que possa integrar o Hall of Fame após encerrar a sua carreira. Os seus números por si só são impressionantes. Um total de 301 touchdowns passados na carreira e mais de 44 mil jardas. Além das estatísticas, ao assistir o tape de Rivers é possível ver que ele é um dos quarterbacks mais talentosos de sua geração. O fato de Rivers não ter um anél de Super Bowl — principalmente da temporada de 2006, com todo respeito a Peyton Manning e o Colts é claro — é uma das maiores injustiças do futebol americano da atualidade.

Com todas essas qualidades, Rivers acaba por muitas vezes tentando levar o time nas costas, coisa que tem ocorrido bastante nos últimos anos devido a lesões e queda de qualidade do roster.

Na partida válida pela Semana 10, o Chargers se encontrou por diversas vezes, com a bola na mão para vencer a partida e podemos dizer com uma certa tranquilidade que Rivers custou a vitória para San Diego.

Vamos estudar as quatro interceptações de Rivers e os erros cometidos nelas.

Na primeira interceptação, Rivers comete um erro crucial.

Com 12:42 ainda no último quarto, o Dolphins lidera no placar por 21 a 17. O Chargers se encontra em uma 2a para goal na linha de 2 jardas de Miami.

No pre snap, podemos ver pelo alinhamento defensivo que os cornerbacks estão em marcação mano a mano. Os linebackers disfarçam bem a suas responsabilidades, mas devido à baixa diversidade de marcações pela formação apresentada, Rivers teria que fazer uma leitura simples que com menos de um segundo seria possível ver que estão em Cover 1 Robber.

Pelo lado esquerdo, Rivers tem como foco Tyrell Williams (#16) na rota fade. Devido à marcação mano a mano, é uma rota favorável ao recebedor mas o mérito fica por conta de Tony Lippett (#36). Após o snap, ele faz a leitura de seu recebedor e percebe que ele faz uma quick screen para tentar puxar a marcação, mas Lippett, ciente de sua responsabilidade de proteger a endzone, se mantém afastado do recebedor e passa a ler o quarterback. Isto faz com que ele possa permitir que seu recebedor faça uma recepção mas conseguiria fazer um tackle antes que ele conseguisse o touchdown e caso a bola vá para dentro da endzone, ele poderá ajudar na cobertura.

Além da péssima chamada — dificilmente esta rota consegue enganar um defensor tão próximo da endzone — Rivers acaba confiando demais em sua leitura pre snap. Após ler Cover 1 Robber, ele automaticamente se vira para Williams e aguarda o momento certo de soltar o passe. Na imagem a seguir, podemos ver o momento do passe e como Williams parece ganhar de seu recebedor. Apesar disto, vemos como Lippett está bem posicionado para buscar uma interceptação.

Rivers acaba colocando a bola em um lugar desfavorável ao seu recebedor e com Lippett bem posicionado, acaba lançando sua primeira interceptação do último quarto.

Seguindo para sua segunda interceptação, San Diego encontra mais uma oportunidade para virar o o mesmo placar, agora com 7:09 restando na partida.

Primeira para 10 na linha de 30 de Miami, o ataque de Mike McCoy utiliza um conceito para esticar o adversário verticalmente. Os WRs do lado direito fazem uma go (o aberto) e uma seam (o slot) para puxar a marcação para o fundo do campo. Ainda no lado direito, Antonio Gates (#85) faz uma deep out. A leitura inicial da defesa é bem simples de ser feita. Pelo posicionamento dos defensores, fica evidenciado como Cover 2 Man Under. O ataque ainda conta com um playaction para tentar prender os linebackers. Em sua leitura, Rivers percebe rapidmente no pre snap a marcação mano a mano da defesa e com isso encontra o mismatch em Gates. Ele está sendo marcado por um LB que torna sua rota e seu porte físico extremamente favoráveis. Mesmo com esta boa leitura, Rivers não percebe um detalhe importante. O WR pelo lado esquerdo, que fará uma rota dig, tem seu CB protegendo a lateral do campo, permitindo que ele corra por dentro, o que tornaria sua rota extremamente favorável.

Após o playaction, podemos ver que Rivers já olha para o lado direito do campo, aguardando o momento para soltar o passe para Gates. A leitura é boa, mas há um detalhe que sempre deve ser lembrado em marcações Cover 2 Man Under. O CB marcando a go sabe que ele tem ajuda na marcação no fundo do campo e com isso, pode optar marcar o recebedor por baixo na rota enquanto mantém um olho no QB. O perigo disso é de ter um passe mal colocado e permitir que o CB tente uma interceptação.

Outro problema que podemos ver na imagem a seguir é novamente a rota dig no lado esquerdo. Com a jogada começando a se desenvolver, já podemos ver que o recebedor vai gerar separação de seu marcador e estará livre no meio da defesa após a quebra de sua rota.

No momento da quebra da rota de Gates, Rivers solta o passe para o seu alvo predileto mas acaba deixando a bola flutuar um pouco fazendo com que ela passe por cima da cabeça de Gates. Com isso, o CB marcando a go — que está de olho em Rivers para ver se pode buscar atrapalhar a recepção — percebe a oportunidade de tentar uma interceptação e vai abandonar seu recebedor após a bola sair da mão do QB. Além disso, vemos que se confirma que o recebedor pelo lado direito cria separação e está livre para recebedor o passe no meio do campo. Com estes erros, vemos o resultado do lance: mais uma interceptação.

A terceira interceptação veio com a partida empatada em 24 a 24 com 1:13 restando no jogo.

Primeira para 10 na linha de 42 jardas do Dolphins e a defesa aparenta estar em um all out blitz. A marcação está bem disfarçada pois não tem um marcador cobrindo o slot do lado esquerdo do ataque mas logo antes do snap veremos que ele é responsabilidade de Kiko Alonso (#47) pois ele corre em sua direção. Isto acaba indicando a marcação Cover 1 de Miami enquanto o Chargers executa um conceito inverted levels no lado esquerdo.

Rivers novamente comete um erro de leitura que acaba sendo também mérito da defesa. Alonso e o CB do lado direito invertem suas responsabilidades quando percebem o conceito de rotas que os WRs estão correndo. Rivers falha no reconhecimento dessa alteração na marcação e solta o passe em direção a Williams esperando que ele ficará livre.

Enquanto isso, Alonso entende que a probabilidade de Rivers procurar Williams é altíssima e com isso gira sua cabeça para ver se o quarterback está mesmo procurando o camisa 16 e de fato está. O resultado é um pick six de Alonso que viria a ser a pontuação a definir o placar final.

Na última interceptação, Rivers acaba sendo teimoso e tentando completar uma rota que ele e seu WR erraram pelo menos três vezes ao longo da partida.

Quarenta e quatro segundos restando no jogo com San Diego perdendo por um touchdown. Primeira para 10 na própria linha de 37 jardas e o ataque em no huddle.

A defesa de Miami se encontra em Tampa 2 enquanto os recebedores de San Diego tem os slots fazendo seams e os abertos com uma go/comeback que será executada dependendo da marcação.

O WR aberto da direta vê seu CB marcando tão distante que opta por alterar a sua comeback e fazer uma curl. O WR da esquerda tem o CB marcando bem próximo e opta por correr a go. O problema é que Rivers, pela sua leitura, entende que uma comeback seria o ideal.

A conexão Rivers-Williams não vinha funcionando no jogo. Erros constantes de entrosamento com o WR correndo uma rota diferente da que Rivers estava pensando em pelo menos 2–3 lances diferentes. Rivers acaba querendo voltar a tentar o passe em Williams mesmo com Travis Benjamin (#12) em uma posição melhor para receber o passe, demonstrando a teimosia e ansiedade de Rivers tem em alguns momentos, um de seus pouquíssimos pontos fracos.

O resultado da jogada é a quarta interceptação de Rivers no último quarto e que levaria a uma derrota do San Diego Chargers.

Foi possível ver nessa semana que mesmo sendo um dos grandes quarterbacks de sua geração, Rivers é capaz de cometer erros pequenos que podem custar a vitória de seu time. Este não é um defeito exclusivo de Rivers. Boa parte dos QBs fazem isso algumas vezes na temporada. O problema desta partida foi que Rivers cometeu 3 erros devido a péssimas leituras e teimosia. A terceira interceptação foi mais mérito da defesa do que falha de Rivers, mas os outros três foram Rivers tentando resolver o jogo sozinho quando ainda não era necessário.

Este foi mais um artigo de análise de game film aqui no ZONA FA. Toda semana vamos estudar tape e explicar porque deu certo ou errado.

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Pedro Pinto
ZONA FA

Former NFL Analyst @ Esporte Interativo/ Zona FA Analyst /Director of Football Ops @ R.A.M. / Offensive Co. @ Vasco Patriotas / QB Coach @ Brasil Onças U19