Vamos ao Tape: Mayfield inflama FirstEnergy Stadium rumo à vitória

Escolha #1 overall do Draft comanda vitória histórica do Browns, dando início a uma nova era em Cleveland.

Pedro Pinto
ZONA FA
9 min readSep 27, 2018

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Sejam bem-vindos à nova ordem da National Football League. A vitória do Cleveland Browns no último Thursday Night Football aparentemente resetou o universo da NFL tal qual Thanos no filme mais recente dos Vingadores, fazendo com que resultados totalmente inesperados acontecessem no domingo, como o Buffalo Bills batendo o Vikings em Minnesota (ou seria Wisconsin?), o New England Patriots iniciando uma temporada 1–2 pela primeira vez desde 2012 e o próprio Browns passando a ter uma campanha melhor que do time de Bill Belichick.

Como ainda nem passamos da Semana 4 e a liga nem se estabilizou ainda, vamos tentar voltar ao normal analisando o que foi o momento mais épico da Semana 3 da NFL: a primeiro vitória do Browns em 635 dias.

Quem assistiu o jogo viu como o ataque estava apático no primeiro tempo. Nada funcionava. Tyrod Taylor chegou a ter apenas dois de onze passes completos, enquanto a defesa tentava de alguma forma, manter o placar próximo o suficiente para terem alguma chance de vitória.

Não entraremos em detalhes sobre como chegou o momento, mas a entrada de Baker Mayfield foi pontual. Hue Jackson havia dito que Taylor seria o titular para a temporada para deixar o calouro desenvolver. Chego até a pensar se isso não seria uma ordem vindo de cima para que, no final do ano, se o time tiver mais uma temporada fraca, tenham motivos para demitir Jackson, mas isso já é outro papo.

O que o camisa seis mostrou em campo foi exatamente a coleção de motivos pelo qual John Dorsey, general manager do Browns, o fez a escolha #1 overall no NFL Draft de 2018. Pocket awareness, boa mira, braço forte, habilidade de improviso, habilidade atlética e liderança. Quando o calouro entrou em campo, o time cresceu, tanto no ataque quanto na defesa. A torcida inflamou, fazia barulho como eu não via em um jogo do Browns faziam alguns anos. Por justamente esses motivos que o novo QB1 do Browns é o tema do Vamos ao Tape desta semana.

Primeira jogada de Mayfield na partida. First & 10 na própria linha de 34 jardas. 1:42 restando no segundo quarto e perdendo por 14–0.

Mayfield tem uma formação 3x1 (três recebedores na direita, um na esquerda) e encara uma Cover 3 com zone blitz do New York Jets.

O design é bem feito pelo Jets, conseguindo disfarçar o overload blitz do lado esquerdo do ataque, coisa que poderia complicar o processamento mental de um calouro como Baker.

A chamada Todd Haley, coordenador ofensivo de Cleveland, é perfeito e simples. Utilizam o conceito stick no lado direito e slant/flat no lado esquerdo. Se Mayfield identifica marcação mano a mano, ele buscar o mismatch no lado esquerdo. Se identifica zona, ele busca a leitura no lado direito.

Veremos que Jarvis Landry precisa fazer um pequeno ajuste na sua rota devido ao posicionamento de Jordan Jenkins, que faz com que ele vire para dentro para se posicionar da forma correta, chegando no ponto certo na hora certa. Ele teria a opção de se virar para a sua direita, caso Jenkins não tivesse alterado sua rota. A leitura é bastante simples, ele precisa encontrar o espaço entre as zonas para permitir o passe do quarterback.

A leitura primaria é em Parry Nickerson. Se ele não acompanhar a flat de David Njoku, a bola vai no tight end. Como ele acompanha, a leitura passa a ser Jenkins.

Mayfield e Landry identificam que Jenkins criou espaço para o meio do campo, portanto Landry senta entre as zonas. Podemos até reparar que Mayfield ameaça lançar a bola, mas faz a leitura de que Jenkins deixa espaço para dentro. Com isso, ele reseta rapidamente e coloca a bola em Landry para o first down, dando prosseguimento à campanha que traria os primeiros pontos de Cleveland na partida.

Baker era simplesmente excepcional na execução de RPOs no seu tempo em Oklahoma e certamente o Browns não deixaria de chamar alguns conceitos.

First & 10 com 11:17 restando no terceiro quarto, Cleveland perde por 14–3.

Mesmo com o RPO interno, existe um conceito a mais na jogada caso Baker identifique um alinhamento incorreto da defesa. Landry está executando uma bubble screen e caso a defesa tenha apenas um defensor daquele lado do campo, a bola seria nele. Como existem dois, a leitura passa a ser o RPO entre uma inside zone de Carlos Hyde e uma seam de Njoku.

A contagem do box está ideal se tirarmos Brandon Copeland (#51) da contagem. Cinco defensores para cinco bloqueadores. A leitura em Copeland é a padrão de um RPO. Se ele não acompanhar a corrida e ocupar o espaço do campo em que Njoku fará sua rota, a bola é entregue a Hyde. Se ele acompanhar o flow da corrida, um espaço vai abrir atrás dele para a rota de Njokue, que foi exatamente o caso, gerando um anho de 19 jardas e um first down.

Mais tarde no jogo com o Browns perdendo por 17–14, Baker se encontra em uma first & 10 na linha de 45 jardas do Jets, com 6:11 restando na partida.

A defesa de New York mais uma vez executa um Cover 3 Buzz — o safety que desce marca uma hook zone — dessa vez sem blitz.

O Browns vai rodar um conceito de three verticals com Landry fazendo uma crosser.

Um detalhe da defesa é que Jamal Adams e Darron Lee invertem as responsabilidades de zona, para tentar confundir a mente do quarterback. Fora esse pequeno detalhe, trata-se de uma Cover 3 Buzz.

O que veremos no lance é que, como Duke Johnson passa na frente de Mayfield, os dois jogadores responsáveis pelas hook zones, Adams e Avery Williamson (#54), vão hesitar aguardando um possível draw do running back. Isto demonstra o pensamento run first da defesa do Jets. Imediatamente isso cria um espaço entre os linebackers e o safety cobrindo a zona do meio do campo. Junto a isso, a rota de Landry também serve para limpar o campo. Caso os LBs afundem imediatamente em zona, Landry se torna responsabilidade deles. Se eles afundaram para cobrir as rotas verticais, a bola vai em Landry.

Como Landry fica marcado e os responsáveis pelas hook zones se adiantaram, Mayfield tem agora uma leitura tranquila entre Rashard Higgins e Njoku. O free safety precisa optar por marcar uma das rotas. Após o snap, Mayfield olha diretamente para Doug Middleton, aguardando ele definir qual rota prefere marcar. Como ele senta no meio do campo, Mayfield sabe que tem a janela que ele precisa para acertar o passe em Higgins.

Na próxima jogada, veremos novamente o conceito stick em conjunto com slant/flat.

Third & 9 com 8:13 restando no terceiro quarto, Cleveland perde por 14–3.

O conceito é o mesmo do primeiro passe completo por Baker na partida, mas desta vez, o Jets apresenta marcação individual em Cover 1 com overload blitz no lado esquerdo do ataque.

Se formos analisar o lado direito do ataque, veremos que agora Landry consegue sair corretamente para sua rota e vira para fora, que é o jeito certo de se executar uma stick route. Como se trata de marcação individual, ele não precisa sentar na rota, portanto ele segue em direção à lateral do campo. De resto, a jogada é executada da mesma forma.

Mayfield primeiro busca ler o meio do campo. Ele encontra apenas um safety, sozinho no fundo. A leitura no lado esquerdo do ataque entrega a primeira peça do quebra-cabeça. Claiborne está em press coverage, olhando fixamente para Callaway. Isto indica marcação individual. Pelo alinhamento dos outros defensive backs e estudo de tape, Baker já sabe que se trata de man coverage. Ele agora precisa identificar quem vem em blitz e se há algum robber no meio do campo. Após o snap,veremos que não há robber, e a leitura é perfeita. Por ser mano a mano, ele deve ler o lado do conceito slant/flat. Ele sabe que Callaway vai vencer com seu inside release e ele só aguarda Williamson passar — pois ele está na marcação individual com Johnson — para lançar a bola na janela certa em direção a Callaway.

A última jogada de hoje foi uma das mais marcantes da partida.

Perdendo por apenas três pontos e 4:47 restando no último quarto, Believeland está prestes a conseguir sua primeira vitória desde 2016.

Na campanha que colocaria o Browns à frente no placar pela primeira vez na partida, Baker encara um first & 10 dentro da red zone do Jets, na linha de 16 jardas.

New York roda Cover 3 Sky — um dos safeties desce para marcar a zona curl to flat (Jamal Adams) — neste situação de red zone.

Cleveland roda uma combinação de dig (Landry) com post (Higgins) no lado esquerdo e um hi-lo read na direita, com um five yard out (Johnson) e um ten yard out (Callaway).

A chamada do Jets é perfeita para o Browns utilizar o conceito rodado no lado esquerdo do ataque.

Primeiro, o release atrasado de Hyde prende Lee por meio segundo, que cria espaço atrás dele para a rota de Landry.

Hyde está ajudando na proteção de passe e sua leitura é justamente e Lee. Se ele vier em blitz, o running back fica na proteção. Como ele não veio, ele sai em rota para ser um possível check down. Quando ele sai na rota, ele trava Lee, mesmo que por um instante.

Agora a leitura passa a ser Middleton.

Por obrigação, Claiborne tem que garantir que ele não vai perder uma rota que vá por fora dele, em direção à lateral, por isso o fato de Higgins iniciar sua rota atacando Claiborne é fundamental.

Isto vai forçar Middleton a proteger tanto a rota de Landry quanto de Higgins. Se ele ataca precocemente a rota de Landry, e Higgins fizer uma post (como foi o caso), Higgins estaria livre para o touchdown.

Precisamos prestar atenção também no fato de que Landry entende que a defesa está em zona e ao invés de seguir a sua rota para um ponto que seria mais fácil para o safety atacar, ele sabe que seu quarterback vai procuar acertá-lo imediatamente após a quebra da rota, por tanto ele não faz a quebra em alta velocidade. Ele já vira procurando a bola.

Por ter que defender sua zona contra duas rotas e Lee ter criado espaço atrás dele mesmo, Middleton se encontra em uma posição vulnerável.

Muitos disseram que Mayfield deveria lançar a bola em Higgins, mas na imagem All-22, vemos que Middleton reage no momento em que Baker inicia seu movimento de passe. A janela para a rota de Higgins fecharia antes da bola chegar.

A leitura é perfeita e o passe mais ainda. Reparem no timing no passe de Mayfield e logo em seguida, o tamanho da janela que ele coloca a bola.

Simplesmente sensacional.

A imagem da spider cam mostra como o passe era em uma janela extremamente fechada, demonstrando umas das melhores qualidades de Baker Mayfield: Mira e confiança.

Poucos anos atrás a NFL dizia que spread quarterbacks jamais teriam luar na liga. A grande verdade é que eles não só possuem um lugar garantido na liga, como estão tomando conta dela. Os ataque dinâmicos que nós vemos nos sábados chegaram para ficar na NFL, com ainda mais detalhes e avanços, tornando esse esporte mais fantástico do que ele já é.

Podem ter sido apenas dois quartos de football, mas após essa atuação de Baker Mayfield, acho que podemos dizer: o futuro chegou em Cleveland, e ele parece ser brilhante.

Este foi mais um artigo da coluna Vamos ao Tape. Toda semana vamos estudar game film de algo que chamou a atenção do nosso analista e explicaremos o que ocorreu nas jogadas analisadas.

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Pedro Pinto
ZONA FA

Former NFL Analyst @ Esporte Interativo/ Zona FA Analyst /Director of Football Ops @ R.A.M. / Offensive Co. @ Vasco Patriotas / QB Coach @ Brasil Onças U19