escreve aí

Joab Freire
canhenho
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2 min readFeb 11, 2020

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Aparece e desaparece, aparece e desaparece, piscando a barrinha na tela, no início da folha em branco no Word pirata. Acima marcando Calibri 11, uma combinação que eu odeio e sempre me faz refletir o porquê de ainda usar essa ferramenta para escrever. Eu sempre mudo a fonte para Georgia 12 e aumento o espaçamento para 1,5 entre as linhas e sei que dá para tornar esse o padrão do programa, mas é algo que nunca me disponho a fazer porque apesar de constar no meu currículo, eu não sei onde mexe nisso. Quer dizer, saber eu sei, mas isso não é uma coisa para lembrar na hora da necessidade. Bom, eu teria que percorrer alguns menus, desses pequenos que indicam que vai abrir uma janelinha e é real, nunca estou disposto a fazer.

Eu prefiro escrever meus textos diretamente do editor do Medium, acho convidativa a proposta de zero distração, sem muito que fazer, com opções limitadas de formatação. Acho que só nessa minha luta contra as fontes sans padrões no programa da Microsoft, eu perdi umas três vezes o que eu ia escrever. Simplesmente achei ultrajante olhar a barrinha piscando enquanto eu pensava num título para um artigo de política que iria começar. Seria algo como um prólogo de retomada para voltar a opinar sobre a política de minha cidade, agora que estou quase de volta.

Mas não, eu preferi colocar nesse documento em branco o que realmente eu estava pensando.

Eu escrevo textos desde criança e nos 2000, quando os computadores deixaram de ser artigo de luxo, eu meio que desaprendi a escrever e passei a digitar. Usar o teclado QWERTY para me expressar. Não sei se pela facilidade me arrepender e apagar completamente sem culpa uma palavra ou um parágrafo inteiro. Mas agora pensando. Essa barrinha piscando na tela é um pouco opressora. Ela poderia ser só uma barra. Mas não, ela pisca. Como quem chama nossa atenção para o local e diz: “Escreve aí, tu não é o bichão, vai, quero ver, tô aqui piscando, olha pra cá e escreve”. Não sei. Deve ser por isso que a internet tenha virado um território tão perigoso. Acho que não sabemos lidar com um espaço em branco e uma barra piscando.

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Joab Freire
canhenho

Distribuidor de versos, prestador de atenção, contador de histórias, arteiro e buliçoso. Estuda jornalismo, pesquisa cultura e atua imprensa da PB desde 2010.