Hoje

Amor, Deus e dia de chuva

Joab Freire
canhenho
2 min readFeb 14, 2019

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Campina Grande, 13 de fevereiro de 2019

Hoje choveu em Campina Grande e em várias partes da Paraíba, e eu vi, da televisão — assim que acordei — os impactos causados pela forte precipitação. Nos grupos de WhatsApp haviam vídeos de gente com caiaques nas ruas e outras pegando peixes nas vias públicas — pasmem. Hoje, porém, eu não saí de casa, sequer ouvi um barulho de chuva, não vi o clarão dos relâmpagos que foram noticiados, nem o estrondo dos trovões…

Eu vivi neste dia, mas não estava disposto a participar do principal seu principal evento.

Rua no bairro da Torre, em João Pessoa, ficou alagada e duas pessoas usaram caiaque para se deslocar — Foto: Walter Paparazzo/G1

Eu não vi a cor do céu, nem uma nuvem carregada, não senti um pingo de chuva nem vento no rosto. Eu vivi neste dia, mas não estava disposto a participar do principal seu principal evento.

Para ler ouvindo.

Ainda assim, neste dia vazio, pude sentir muito mais que sensações térmicas, e me aperceber muito mais que problemas de infraestrutura nas ruas. Pois, ainda que eu não tenha rodado a chave nem movido o braço para fazer correr a janela para sentir o dia, eu ouvi mais de uma vez de mais de uma pessoa um “eu te amo”, e, pude responder com a mesma frase carregando em si o mesmo sentimento: “eu te amo”.

Hoje choveu. Hoje, mesmo de longe, eu pude dizer para alguém: “não chora, eu estou com você”, e ouvir minutos depois: “só você mesmo para me fazer rir”. Hoje eu fiz inúmeros planos, eu pude sonhar com o futuro, eu pude voltar ao passado. Hoje eu falei com Deus — e d’Ele. Hoje eu vivi e nem vi a tempestade passar.

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Joab Freire
canhenho

Distribuidor de versos, prestador de atenção, contador de histórias, arteiro e buliçoso. Estuda jornalismo, pesquisa cultura e atua imprensa da PB desde 2010.