Post scriptum

Viver e saber pontuar o fim

Joab Freire
canhenho

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Campina Grande, 04 e 08 de dezembro de 2018

Quando você escreve três palavras e põe um ponto final, é porque — obviamente — você já disse tudo. Mas, isso não significa que uma pessoa vai estar satisfeita com três palavras e um ponto, as vezes ela quer um poema com rimas escafandrísticas — que, não, realmente não sentido nenhum nessa frase — as vezes ela quer terceto, uma quadra, uma reportagem etnográfica.

Eu se quisesse terminar esse texto aqui, sem dar maiores explicações, poderia. Eu que preciso estar satisfeito, eu perfeitamente posso ter achado que falei tudo, mas você, que está lendo, certamente, não iria entender coisa alguma.

A gente estuda isso em teoria da comunicação, pelo menos é o que diz alguns teóricos, lá no princípio quando ainda se pensava o deveria representar a comunicação, que ela só estabelecia quando aquilo que saia da cabeça de alguém fosse pra outra cabeça conforme aquilo que se queria dizer. A compreensão tinha que existir. A menos que a compreensão que você quisesse dar fosse a de não compreender mesmo — neste caso acabamos de derrubar algumas quatro teorias ou mais.

Na vida, entender quando é vírgula, ponto e virgula, ponto continuado ou final, é inacreditavelmente uma das coisas mais importantes com que o vivente precisa se preocupar.

Fim de tarde. (Foto: Joab Freire / @eijoab)

O fato é que tanto na comunicação quando na vida, a gente precisa saber o momento certo do ponto-final. Primeiro, porque com o mesmo sinal gráfico, podemos continuar uma frase num próximo parágrafo ou até o mesmo e aí vai a frustração de quem escreve, ter que ir além de todas as conclusões antes marcada com o pontinho.

Na vida, entender quando é vírgula, ponto e virgula, ponto continuado ou final, é inacreditavelmente uma das coisas mais importantes com que o vivente precisa se preocupar. Isto porque, a não ser que se queira, ninguém vive só e nossa existência é sempre atrelada a existência de alguém. Vale então refletir sobre os sinais gráficos ou emocionais com quem pontuamos nossas escolhas para que aquilo que esteja em nosso coração esteja da mesma forma no coração das pessoas envolvidas.

Marca com esperança se ainda viver, ela é a última que morre, mas não é imortal.

Não basta querer que seja um ponto-final. Ele precisa não ter nada depois, nem post scriptum. Você que deseja findar um história, não pode deixar no seu último parágrafo aquele suspense ou deixar para um próximo capítulo sob o risco do seu público principal se frustrar com a descontinuação da história.

Um conselho aos navegantes da vida-escrita é que sempre grafe o último ponto a dois, ou a três, ou junto com quem interessar a história. Marca com esperança se ainda viver, ela é a última que morre, mas não é imortal. Marca com sinceridade e serenidade, tendo a certeza que aquele fim finde de verdade a história, ou escreve tua vida em séries até quando tu desejar. Só tem cuidado, que a cada novo capítulo, você será convidado a voltar atrás um, dois passos, e dependendo da situação, você permanece sempre no mesmo lugar.

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Joab Freire
canhenho

Distribuidor de versos, prestador de atenção, contador de histórias, arteiro e buliçoso. Estuda jornalismo, pesquisa cultura e atua imprensa da PB desde 2010.