Crônica: A Fila Anda

Vinícius Cassio Barqueiro
Canto em Silêncio
Published in
1 min readJan 25, 2020
Arte São Paulo, by Lobo

Impactaste minha vida como caminhão tombado na pista expressa da Marginal Tietê, como objeto na via às sete da manhã. Fizeste meu coração bater forte como bateria no Anhembi, como torcida organizada em final de campeonato. Puseste-me ansioso e sem escolha como trabalhador na linha vermelha querendo entrar em trem lotado, como mãe na fila do SUS. Encheste minha esperança como a 25 de Março no Natal, como córrego em verão. Deixaste meu amor grande e louco como o preço dos imóveis, como o trânsito da M’Boi Mirim. E minha vida ficou boa como pastel de japonês, como piscina do Sesc. Mas usaste-me e esqueceste-me como político eleito, como bituca de cigarro. Fiquei pálido e sem vida como céu cinza sem estrelas, como flor de shopping center. Perdido e sem rumo como turista na Paulista, como criança em beco da Luz. E quis voltar no tempo como retirante nordestino, como costureira boliviana. Mas não consigo esquecer-te. A fila não anda nesta cidade.

Publicado originalmente no blog Canto em Silêncio em janeiro de 2014.

--

--

Vinícius Cassio Barqueiro
Canto em Silêncio

Aqui, compartilho crônicas e materiais sobre futebol, educação, política, acessibilidade, design de informação e visualização de dados.