Crônica: Ter fé e ver coragem no amor

Neste início de 2020, uma crônica minha foi publicada no livro Sobre acne, rugas e crônicas 2 (2020), da minha amiga, professora e escritora Camila Boscov.

A crônica trata do trabalho de revisão textual que prestei a Camila em 2017, quando ela lançou seu primeiro livro de crônicas, Sobre acne, rugas e crônicas (2017).

Abaixo publico a crônica na íntegra. Também convido você a conhecer o trabalho da Camila e comprar seus livros pela Amazon:

• Livro Sobre acne, rugas e crônicas (2017), à venda pela Amazon
• Livro Sobre acne, rugas e crônicas 2 (2020), à venda pela Amazon

Ter fé e ver coragem no amor

Vinícius Cassio Barqueiro

Talvez você não lembre quando fomos juntos à Biblioteca São Paulo no Carandiru, Camila. Um dos meus lugares favoritos da cidade. Lugar de lembranças cotidianas: onde eu pegava o último dos tantos ônibus para encontrar minha namorada, hoje esposa, quando tudo ainda era tão distante. Lugar de leituras: onde “guardo” alguns dos livros da minha vida, como o Aforismos e Afins do nosso querido Fernando Pessoa, que eu já peguei emprestado dezenas de vezes e que já considero meu. Lugar de modernidade e tecnologia: como os prédios onde trabalhamos, mas que sabe acolher a simplicidade barulhenta do povo da minha Zona Norte. Lugar, acima de tudo, que é exemplo: pois soube se reinventar após uma história tão pesada.

Mal nos conhecíamos, mas a conexão foi imediata. Você fez jus ao título de “contadora” e foi narrando suas histórias. Os tempos da faculdade, tanto como aluna quanto como professora. As conversas filosóficas com o Thor. As aventuras da vida social no condomínio. Os desafios tão sérios que você enfrentou em momentos turbulentos. Tudo isso enquanto me perguntava se deveria escrever assim ou assado, com vírgula ou sem. E eu mal conseguia lhe responder, pois ria e me envolvia com toda a profundidade disfarçada naquele seu stand-up particular. Você não sabe, Camila, mas seu papo de antes e depois dos trinta me fez pensar na vida por vários dias.

Talvez você não lembre quando dei uma de psicanalista literário e lhe perguntei se eram de propósito as metáforas e alegorias que fui encontrando: você riu da minha cara! Já que para você é tudo prático, preto no branco, direto aos fatos. Despretensioso, ao contrário de tudo que nos cerca. Mal sabe você, Camila, quanto da sua história você revelou por meio das suas histórias. Quanto você se fez presente com voz, sorrisos e olhares naquele dia em que, sozinho, com seu livro em mãos, tive a sua ilustre companhia. Quanto foi bom ter o privilégio de participar de uma das suas principais conquistas enquanto contadora de histórias. Aliás, se falei tanto de mim neste texto, é porque aprendi com seu exemplo quanto isso pode fazer bem. Talvez eu não lembrasse, talvez eu nem soubesse.