A morte é onipresente

Lilianne
Caos e acaso
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1 min readJun 25, 2020

Digo isso ao perceber que a morte sempre esteve presente na minha vida. Não como na de Kawabata, que viu a morte bater na porta de sua casa tantas vezes e no final foi ele mesmo ao seu encontro. Ela está na bisavó que nunca conheci, está no primeiro peixinho descarga abaixo, está nos ídolos fora do meu tempo, está nos jornais todos os dias, está nas minorias, está na política no seu mais cruel projeto. Vivo a morte como se ela pudesse ser vivida. Caminho em direção à ela como se ela fosse o objetivo final. Anseio como se fosse salvação.

Quando percebeste que tudo que fizeste em vida é para que tenha uma morte tranquila? Buscaste realizações para não se arrepender de não tê-los feito. Disseste que pôs um filho ao mundo para lhe trazer amor, mas no fundo o fez para dar senso de continuidade à sua própria morte.

Não há como descobrir o verdadeiro sentido da nossa vida tão momentânea sem pensar no sentido da morte, pois sem a morte não haveria vida. Se vivemos para morrer, para que morremos?

Sem conseguir ver tal sentido na vida — logo, na morte — afundo em angústias e mau agouros. Me encontro em um abismo, segurando em uma rocha com as minhas últimas forças.

Em uma mão segurava um livro, a outra se estende ao meu resgate. O que antes era ruído, torna-se o mais belo dos cânticos. Tudo se esvai como se fosse um encantamento.

Está claro como se fosse um dia de sol.

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Lilianne
Caos e acaso

Doutoranda em Astronomia, bacharela em Estatística e em Astronomia pela Universidade de São Paulo (USP). Aplica ML em grandes bancos de dados astronômicos.