Estamos Vivendo uma Bolha no Mercado de Ações de Tecnologia?

Catarina
Catarina Capital
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5 min readOct 29, 2021

O filósofo nascido na China, Confúcio tem uma célebre frase “Se queres prever o futuro, estude o passado”, e nos casos dos Mercados de Capitais essa visão tem que ser colocado na prática todos os dias, seja através de modelos estatísticos, estudo de casos, médias históricas ou experiências anteriores. No time do Newton Tech Fund, apesar de sempre olharmos para frente e pensarmos no potencial das empresas ao longo das próximas gerações, olhar para o passado é sempre uma fonte importante de conhecimento.

Com o aumento da volatilidade dos mercados, especialmente nos EUA, nas últimas semanas, as perguntas que mais recebemos são: “estamos em uma bolha?” e “quando a bolha de tech vai estourar?”. Na nossa visão, ajustes de curto prazo são normais, mas bolha é uma palavra que passa longe dentro do perfil de empresas que estamos mirando no Newton Tech Fund, e o passado nos ajuda a explicar.

O conceito de Bolha Tech (e seu posterior estouro) surgiu no final dos anos 90, quando o mercado de capitais, impulsionado pela perspectiva da revolução da tecnologia e da internet, abraçou o segmento Tech e milhares de companhias fizeram IPO na NASDAQ com promessas de revolucionar o mundo. Tudo parecia lindo, até que no início de 2000 a bolha estourou dizimando boa parte dessas empresas e derrubando os preços de todo o mercado.

Ajustado por inflação, o patamar do índice NASDAQ em fevereiro de 2000 somente foi superado no final de 2018. Porém, impulsionado pela alta liquidez do mercado e a pandemia, este patamar já foi superado em muito, estando hoje cerca de 90% acima do auge de 2000, naturalmente, gerando a pergunta se estamos em uma nova bolha. Nossa visão é que não! Sim existem excessos em alguns ativos, mas de maneira geral, o mercado está forte e saudável com muito espaço para crescimento ao longo dos próximos anos, e comparações com o passado nos ajudam a mostrar isso.

Naturalmente, o nosso papel como gestor é escolher os melhores e mais sólidos papeis, que somam robustez financeira com perspectivas de longo prazo. Apostas nas empresas corretas trarão retornos excepcionais independente de volatilidades de curto e médio prazo. Investimentos em vencedores como Microsoft, Amazon, Apple, Oracle e outros mesmo que no pico da bolha em 2000, trariam retornos extraordinários ao longo destes 20 anos.

De qualquer forma, alguns indicadores e visão de mercado nos deixam tranquilos em relação ao momento atual na comparação com a Bolha dos anos 2000, e listamos 3 características que diferenciam em muito os momentos de mercado: 1) Maturidade das Empresas; 2) Tamanho do Mercado; e 3) Solidez dos Modelos de Negócio.

1) Empresas muito mais maduras, onde líderes em tech viraram gigantes de crescimento e rentabilidade

No pico da Nasdaq em 2000 o valor de mercado combinado do índice era de US$ 6,6 trilhões, com as 4.715 empresas listadas sendo avaliadas em média a assustadores 190x o lucro, com lucros somados que totalizavam US$ 34 bilhões em todas as empresas. A Microsoft, por exemplo, era um caso de uma empresa sólida e rentável estava avaliada a quase 70 vezes o seu lucro ou 27 vezes sua receita.

Atualmente, a capitalização de mercado total da Nasdaq é na ordem de US$ 19 trilhões com 3.554, mas a performance e maturidade das empresas é completamente outro: o lucro somando somente das 15 maiores empresas do índice soma mais de US$ 350 bilhões com US$ 1,7 trilhão em receita (mais que todo o PIB do Brasil…). Existem hoje 4 empresas que individualmente possuem lucro maior do que era toda a soma do mercado em 2000. A Microsoft, por exemplo, hoje tem lucro de mais de US$ 60 bilhões e possuem múltiplos de receita e lucro menos de metade do que eram em 2000. As 15 maiores empresas do Nasdaq possuem uma relação valor/lucro na ordem de 33x, similar e menor do que negócios tradicionais como McDonalds e Walmart.

2) Tamanho do Mercado e Capilaridade Global

Nos anos 90 e início dos 2000, a oportunidade de tecnologia e internet ainda era um grande sonho e uma oportunidade futura, enquanto hoje já é uma realidade e alguns números provam isso. Em dezembro de 1999, existiam no mundo 248 milhões de usuários de internet que “surfavam” (como se dizia na época) em pouco mais de 3 milhões de websites, com forte concentração em mercados desenvolvidos como EUA e Europa. Hoje somos mais de 5 bilhões de usuários em 1,7 bilhão de sites no mundo inteiro. Nos anos 90, o e-commerce era promessa e restrito a alguns produtos e algumas regiões, hoje é um monstro de US$ 5 trilhões no mundo, correspondendo a cerca de 20% do total do varejo e em ascensão.

O fenômeno global impulsionou mundialmente as empresas listadas, e dentro das maiores empresas da Nasdaq encontramos chineses, europeus, indianos e até latinos, muito bem representados pelo MercadoLivre e outras.

3) Solidez do Modelo de Negócio

Sendo ainda um mercado incipiente, muitos negócios não faziam ideia de como iam ganhar dinheiro. Muitas empresas “ponto com” iam para a bolsa sem faturar um dólar, e eram avaliados com métricas de número de usuários e número de cliques. Estas captaram dinheiro para trazer usuários sem ter a menor ideia do que fazer com eles, ou mesmo em negócios que tinham modelo de receita, as margens eram muitas vezes negativas. Em diversos casos, o dinheiro acabou, antes de começarem a faturar, algo impensável no mercado atual.

O caso da Netscape (o browser líder na época) foi emblemático, tendo feito IPO em menos de 18 meses desde sua fundação, a empresa na época mirava número de usuários e market share, chegando a valer quase US$ 20 bilhões, sem saber ao certo como ganharia dinheiro. No momento que a Microsoft lançou o Explorer, o share de mercado da empresa desapareceu, destruindo um modelo de negócio praticamente inexistente.

Atualmente, desde o início da jornada, as startups são cobradas por investidores para ter modelo de negócios sustentáveis, como modelo de monetização claros, e com unit economics (resultado por cliente) sólidos. No setor de mídia social, por exemplo (Facebook, Snapchat, Pinterest, Linkedin e outros), no IPO as empresas tinham em média US$ 919 milhões de receita ao ano. Em 1994, a Amazon fez IPO com uma receita de US$ 16 milhões, enquanto o Chewy (um e-commerce americano de produtos Pet), por exemplo, foi a mercado com mais de US$ 3 bilhões de receita.

Mercados gigantes, empresas de performance excepcional e foco no crescimento da receita e busca pelo lucro: na nossa visão esta é a fórmula que cria oportunidades de mercado, e que ainda criará muitas empresas bilionárias e até trilionárias! Nosso papel no Newton é encontrar os papéis certos, através da nossa metodologia de análise, e trazer essa rentabilidade aos nossos cotistas ao longo dos próximos muito anos.

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José Augusto Albino

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Catarina Capital

Multi-asset class investment manager and advisory/M&A firm in Brazil focusing exclusively on technology related companies, from startups to listed corporations.