O Verdadeiro Empoderamento
Desde pequeno ouço meu pai falando sobre o poder transformador da educação. Era comum nos almoços de domingo ele anunciar sua tese:
“Dediquem todos os recursos à educação infantil e mudamos o país em uma geração”.
Embora ninguém discordasse dele, a máxima sempre parecia utópica.
Eram os anos 90 e a realidade era inescapável — um professor podia dar aula para no máximo 30 alunos, todos fisicamente presente. Não podíamos imaginar que seriam os últimos anos que a humanidade lidaria com a escassez do conhecimento.
Na metade da década os lares começaram a ser invadidos por computadores de mesa conectados à internet, e a vida jamais seria como antes.
Hoje uma aula gravada por um professor pode ser virtualmente acessada a um custo muito baixo por qualquer habitante do planeta de praticamente qualquer ponto do globo terrestre.
Sim, é realmente revolucionário. Mas há muito trabalho pela frente.
Estamos passando pela fase em que compreendemos que o conhecimento é abundante, está disponível e é acessível — o que precisamos fazer é organizá-lo.
Como estamos falando em educação empreendedora, é importante trazer o contexto histórico.
Em 1602, aquela que ficou conhecida como a primeira “empresa moderna”, emitiu seu primeiro certificado de ações. Aqueles que compravam os papéis, tornavam-se sócios da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Pelos 3 séculos seguintes, empresas eram criadas, se desenvolviam e cresciam sem que fossem administradas por executivos profissionais.
Essa situação perdurou até o início do século XX. Àquela altura, a complexidade das corporações modernas exigia a profissionalização da gestão corporativa.
Atenta a isso, Harvard concedeu em 1908 o primeiro Mestrado em Administração de Empresas (MBA), padronizando aquele que seria o currículo indispensável a todo executivo de uma companhia moderna: contabilidade, administração financeira, planejamento estratégico, gestão de produto, administração de pessoas, logística.
São ferramentas de gestão com mais de 100 anos.
Embora ainda seja o currículo ideal para a administração de grandes empresas, como Vale, AB Inbev, Petrobras, JBS, Telefônica, esse currículo não funciona em startups. É prejudicial, na verdade.
Startups não executam planos de negócio — é preciso ter clareza em relação a isso. Afinal, startups não são versões reduzidas de grandes empresas.
Startups nascem forjadas para lidar com o ambiente de extrema incerteza em que estão inseridas.
Enquanto grandes empresas têm modelos de negócios nos quais seus clientes, seus obstáculos e os recursos necessários para o sucesso do produto são conhecidos, nas startups ocorre o exato oposto.
Startups operam em constante modo beta, em busca de um modelo de negócio recorrente, escalável e lucrativo. Uma realidade que exige regras de ação completamente diferentes das usadas outrora.
Essas regras envolvem roteiros, metodologias, habilidades e ferramentas que são capazes de minimizar os riscos e aumentar as chances de êxito.
Se o século XX deu ao mundo o currículo da gestão moderna, responsável por construir grandes empresas, o século XXI está prestes a entregar o currículo da gestão pós-moderna, o empreendedorismo de startups.
Na virada do milênio, logo após o primeiro boom das empresas ponto.com, empreendedores, liderados pelas startups digitais, começaram a desenvolver suas próprias ferramentas de gestão.
Passadas duas décadas, essas ferramentas estão se consolidando.
São ferramentas muito diferentes das utilizadas pelas grandes corporações, mas tão abrangentes e poderosas quanto o tradicional currículo de Harvard.
A excelente notícia é que, diante da abundância de conhecimento, um profissional brasileiro pode ter acesso a uma educação de qualidade tão alta quanto a que ele teria se fosse estudar em Harvard ou no MIT.
Natural que surgisse em Santa Catarina, novo epicentro econômico na inovação latino-americana, o projeto Venture MBI (Master of Business Innovation), um programa destinado a profissionais dispostos a participar ativamente do crescente mercado de startups do país.
Infelizmente, os dados jogam contra o mercado de startups. A depender da fonte, algo entre 74% e 91% das startups morrem após seus primeiros anos de operação. Empiricamente podemos afirmar que a presença destas modernas ferramentas na gestão das startups pode virar esse jogo, economizando recursos e aumentando exponencialmente as chances de sucesso.
Mãos à obra.