A narrativa poética e crua de We Are Who We Are

Bárbara Pimenta
capitubr
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2 min readOct 30, 2020
Divulgação/ HBO

Dois jovens protagonistas e possibilidades infinitas de descobertas, assim poderíamos descrever de forma simples a narrativa da primeira experiência do diretor Luca Guadagnino na televisão. We Are Who We Are é como uma poesia crua serializada, ainda que esteja distante do conceito de desenvolvimento comum em tramas televisivas, todas as escolhas fazem sentido. Nos dois primeiros episódios somos apresentados por visões diferentes dos acontecimentos vividos por Fraser, o jovem recém chegado a uma base militar norte-americana na Itália e Caitlin, a garota que por razões não óbvias se conecta com a excentricidade dele.

Fraser e Caitlin estão em uma conexão para as descobertas, ao novo, aos medos e tudo isso intercalado com seus próprios dramas. O garoto de cabelo descolorido, unhas pintadas, que usa Comme des Garçon esconde no fim do dia uma agressividade com a mãe para lidar com seus traumas. Ao mesmo tempo Caitlin que aparenta ser a garota popular entre os amigos, a boa filha, a boa aluna, em seu universo particular questiona suas inseguranças em relação ao seu gênero.

A câmera frenética do diretor por vezes parecer clamar uma atenção aos detalhes em cada imagem apresentada, as cenas se formam em conjunto com a naturalidade dos diálogos e do silêncio quando necessário. Frank Ocean está presente, assim como a poesia de Ocean Vuong e juntos são elementos que compõem a descoberta caótica das dúvidas tão comum na adolescência, quem nós somos e como queremos ser. O poema de Vuong lido por Fraser em voz alta tem a simbologia que relaciona aos tempos em que vivemos e não somente a uma fase específica de nossas vidas :

“No corpo, onde tudo tem um preço, eu era um mendigo”.

Divulgação/ HBO

A minissérie está disponível no HBO GO.

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Bárbara Pimenta
capitubr

Jornalista, pesquisadora, roteirista e editora da @capitu.br