Flopismo
O medo e o desejo de viralizar sendo uma microcriadora de conteúdo digital
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Olá. Aqui é a Carol, a sua amiga da vizinhança. E essa é a primeira vez que eu inicio um episódio com uma saudação. Por quê?, você, ouvinte imaginário, me pergunta. Porque o episódio de hoje é meio que uma reflexão sobre a feitura deste podcast e sobre criação de conteúdo digital como um todo. O podcast, além de ser sobre mim, é sobre o próprio podcast. Um metapodcast, se me permite.
No dia 1º de setembro, fez dois anos desde a publicação do primeiro episódio. Este que você ouve é o 16° episódio, o que dá uma média de 0,666 episódio por mês. Um número muito sugestivo. E uma média extraordinária pros meus padrões. Desde setembro do ano passado, eu publiquei religiosamente todos os meses. Nunca fiz algo tão regularmente e por tanto tempo. Como diria Anitta, eu gostaria de agradecer primeiramente a mim, porque se não fosse por mim, eu não estaria aqui.
Como comentei no episódio de abril, um dos podcasts que eu mais ouço é o “vibes em análise”, feito pelos pesquisadores e psicanalistas André Alves e Lucas Liedke (eu adoro que cada um tem a mesma letra como suas iniciais. Nomes aliterativos). Eles fizeram um episódio chamado “Viralismo”, que também é uma série de artigos publicados na newsletter deles no Substack. Nesse estudo, eles cunharam o termo “viralismo”, que consiste na crença de que todo mundo que tá na internet cultiva o desejo de viralizar.
“Viralismo é medir o valor das pessoas de acordo com a sua performance nas mídias sociais. E confiar na promessa de que todo mundo pode alcançar o sonho da mega escala. Os marcadores de desempenho online passaram a determinar não só o valor do nosso conteúdo, como o nosso valor no mercado.” Esse é um trecho do primeiro artigo que eles publicaram sobre o assunto.
Pensando nisso, eu criei o conceito de flopismo, o contrário de viralismo. Que é quando um criador de conteúdo digital se orgulha de ser underground e tanto teme viralizar a ponto de nem se esforçar muito pra conseguir uma audiência maior. Há meses venho pensando nisso. E há meses isso é tema na minha terapia. O fato de eu me sentir muito confortável sendo ouvida por pouquíssima gente. É cômodo, esse lugar ultranichado. Quer dizer que dificilmente vou ser cancelada por alguma merda que já disse ou que venha a dizer.
O podcast tem números muito, muito modestos, e isso nunca foi problema pra mim. Até falei sobre isso no episódio de setembro do ano passado. Disse que meu ascendente em aquário se regozija no caráter indie, unpopular e uncool do podcast. À época, agradeci às 17 pessoas que ouviram os três primeiros episódios. Agora, a média tá na casa das 30 reproduções. O que é ótimo. Ora, se eu desse uma festa de aniversário e 30 pessoas comparecessem, eu ia me sentir popular pra dedéu, superfeliz por ser querida por tanta gente. Por que na internet só vale o massivo, só os milhares, os milhões? As dezenas também são coisa pra caramba. Eu não tenho 30 amigos. Aliás, tem cerca de 20 pessoas nos amigos próximos do meu Instagram. E a larga maioria é amigo virtual. Ou até, sei lá, conhecido virtual.
Falei que isso é tema da minha terapia, né? Há meses tenho falado sobre planejar fazer vídeos curtos com trechos dos episódios e postá-los no Instagram, no YouTube e no TikTok. Eu não uso TikTok, mas é a rede social do momento, é onde as coisas têm mais chance de viralizar. Mas, de novo, me sinto muito protegidinha nesse podcast que ninguém ouve. Desejo e medo coexistem aí. Tenho aceitado o fato de que, sim, quero ser ouvida e ser lida. Nos últimos tempos, perdi a vergonha de divulgar meus textos no Instagram, por exemplo. Criei uma newsletter no fim de agosto (parênteses: a temporada de virgem me faz muito bem. Me deixa criativa, realizadora. Um beijo pro signo de virgem. Meus dois projetos, o podcast e a newsletter, são virginianos. E acabei de lembrar que a primeira bolsa que eu costurei nasceu em setembro do ano passado. Ou seja.)
Mas, então, eu criei uma newsletter e foi super despretensioso. Só criei porque tive a ideia pro nome e ele tava disponível no Substack. Posta-restante, o nome, pra quem quiser assinar. Lá, tenho escrito sobre futebol e transporte público, basicamente. Que são dois dos temas mais protagonistas na minha vida, ao lado da Taylor Swift. Futebol, porque meu time, o Fluminense, tá na semifinal da Libertadores pela primeira vez desde 2008. Comentei sobre esse período do Fluminense no terceiro episódio, de julho de 2022.
E a newsletter acabou sendo mais um espaço pra escrever. Eu já escrevia no Medium. Mas o advento de um novo espaço parece que favoreceu a criação. Eu não sabia sobre o que escreveria quando criei a newsletter. Acabou virando um espaço pra falar de futebol e de transporte público, enfim, crônicas citadinas que tenho gostado muito de escrever. E minha intenção com esse espaço nem é ter vários assinantes. Ele virou meio que um blog mesmo. Trata-se mais do lugar pra arquivar, do almoxarifado de textos do que dos e-mails que são disparados, sabe? Até porque newsletter nem é meu formato favorito pra consumir textos. Só assino duas. A da floatvibes, que é dos caras do vibes em análise, que eu já citei. E “O Inventário”, que é da Fernanda Grabauska, uma escritora, jornalista e editora de livros que admiro muito. Beijo pra Fernanda! E pro André e pro Lucas também.
Mas… Eu tenho falado sobre isso na terapia porque acredito que esse gosto pelo underground, esse tal orgulho de ser impopular é um traço da famosa autossabotagem. Aquele “eu não mereço coisas boas”, “eu não mereço ter sucesso”. Ao mesmo tempo, rola uma parada de: “se eu quisesse, se tentasse de verdade, eu seria popular.” Tipo aquela música do Greg, de “Crazy Ex-Girlfriend”, “I could, if I wanted to”. O contexto é o seguinte: o Greg volta pra faculdade depois de muitos anos afastado. Aí ele faz uma prova e fica achando que arrasou, que vai tirar 10. Ele recebe a nota e vê que tirou, tipo, 2. Aí ele começa a cantar, porque, afinal, a gente tá falando de um musical. Se eu vivo o filme da minha vida como se tivesse numa comédia romântica, como falei no episódio anterior, a Rebecca, protagonista de “Crazy Ex-Girlfriend”, vive como se tivesse num musical.
A letra da música do Greg é assim: “Claro, eu poderia conseguir um 10, se eu quisesse tirar 10. Mas quem se importa com um 10? Eu não. Eu não ligo. Embora eu pudesse ter tirado essa nota, se eu de fato ligasse. Mas eu não ligo. Mas eu poderia, se eu quisesse.” Aí ele dá outros exemplos do que ele poderia fazer se quisesse. Aí no final da música, ele diz: “Essa música é uma MERDA. Mas eu poderia deixá-la boa, se eu quisesse.” É muito engraçado.
Mas aí o negócio é que: se eu tentar ser popular e não conseguir, vai ser um fracassinho. Então é melhor, mais seguro, dizer que não quero ser popular. Não quero ser ouvida por milhares ou milhões. As poucas dezenas me bastam. Porque eu sou underground assim. Nem o meu time é o mais popular. Inclusive, torço pelo segundo time mais impopular do Rio de Janeiro. E me sinto muito especial por isso.
Eu tinha muito medo do flop antigamente. Medo de que qualquer projeto meu fracassasse em relação a alcance. Dois likes? Humilhação pública. O segundo episódio do podcast é justamente sobre ter recebido uma crítica negativa de uma pessoa que eu mal conhecia e ter ficado chateada com isso. E depois fiquei meeeeeses sem postar episódios. Agora não tenho mais medo do flop. Porque faço majoritariamente esse podcast pra mim e pra provar pra mim mesma que consigo fazer alguma coisa com regularidade. Eu abracei o flop. Abracei tanto o flop que acho que já deixou de ser saudável e virou covardia.
Aí digo pra mim mesma que não faço videozinho pra divulgar o podcast, porque, sei lá, minha dicção não tá perfeita, não tenho um microfone, gravo no celular do meu irmão, os cachorros da minha rua não param de latir um segundo. A gente inventa desculpas pra permanecer na zona de conforto, né? História tão velha quanto o tempo.
O Substack, plataforma onde hospedo a newsletter, te dá umas dicas pra aumentar sua audiência. Eles recomendam mandar um e-mail pra um criador de quem você gosta e pedir um “shoutout” pra ele. Pedir pra ser recomendada por ele, sabe? Eu jamais faria isso. Jesus amado. E olha que eu conheço um pessoal que tem um público relativamente grande, e super poderia pedir um shoutout, se fosse cara de pau o suficiente. Mas não vou fazer isso. Que vergonha.
Não tenho um pingo de talento pra puxar saco. Aliás, tem tanta gente que eu admiro e queria ser amiga, mas que interajo pouquíssimo nas redes por medo de a pessoa achar que eu tô forçando a amizade ou, pior ainda, fazendo networking *emoji de vômito*. Meu Deus, eu odiaria que alguém pensasse que eu me aproximei por ser interesseira. A verdade é que eu me aproximo por ser interessada. Por gostar da pessoa, do conteúdo dela.
Eu não mando os episódios desse podcast nem pros meus amigos próximos. Posto nos stories, eles vêem e decidem se querem ou não ouvir. É direito deles não ouvir, inclusive. Eu não espero que meus amigos leiam todos os meus textos ou ouçam todos os episódios do meu podcast. Não coloco uma arma na cabeça de ninguém. As pessoas têm suas vidas, seus afazeres. Quem sou eu na fila do pão?
Não sei se vocês já repararam nisso, mas quando me refiro ao podcast, nunca falo o nome dele. Isso é proposital. Explico. Eu fui criada pelo John Green, certo? O que significa que eu li todos os livros dele na adolescência. E não contente em ler todos os livros dele, também consumia ferozmente o Tumblr dele. Lá, ele respondia perguntas sobre os livros. Era muito divertido. Mas ele deixava claro que operava sob o conceito da “Morte do Autor”. É um conceito de Roland Barthes que consiste no fato de que, uma vez que uma obra é publicada, ela não pertence mais ao autor. Pertence ao público. A quem lê. Então ele nunca respondia perguntas como “O que acontece depois que o livro X acaba?” Ele respondia: “Acontece o que você quiser. O livro é tão seu quanto meu”.
Daí uma vez fizeram uma pergunta mais específica. Vou dar o contexto. Tem um prato que é servido no internato onde se passa o livro “Quem é você, Alasca?”. Esse prato é um burrito frito. Daí o nome dele no livro é… vou soletrar: B, U, F, R, I, E, D, O. Que é o “bu” de burrito, o “freid” de frito em inglês e “o” no final de burrito também. Aqui foi mel na chupeta pro tradutor, né? Em português, bufrito, muito fácil. Mas em inglês, pode tanto ser pronunciado bufrido, quanto bufraido. Aí perguntaram justamente isso a ele. Como as pessoas só liam o livro, elas não sabiam como pronunciar. Daí ele respondeu o que um escritor devoto da morte do autor responderia: é bufrido se você quiser que seja bufrido. E é bufraido se você quiser que seja bufraido.
E é exatamente isso que acontece com o nome do podcast. Eu nunca falo o nome dele porque não quero deixar oficializado que o nome é “Caracoles” ou é “Carácoles”. É Caracoles se você quiser que seja Caracoles. E é Carácoles se você quiser que seja Carácoles. Então este é um não chá de revelação do nome do podcast. Mas não vou deixar vocês de mãos abanando. Vou contar a história de como surgiu a ideia pro nome. Bem. Eu costumava falar bastante a interjeição “carácoles”. E desde o nascimento do podcast, ironicamente, deixei de falar com tanta frequência. Aí um dia escrevi no meu grupo comigo mesma no WhatsApp: “Carácoles: ideia de nome pra um podcast.” Aí ficou lá. Por meses. Talvez anos.
Aí quando gravei aquela resenha informal de “Copo vazio” e decidi que aquele seria o episódio piloto do podcast que eu sempre quis ter, voltei lá nessa ideia, do Carácoles como nome. Só que… Não gostei. Achei que Carácoles soava como um programa de humor dos anos 90 e 2000, tipo Casseta & Planeta. Ou um canal de humor no YouTube do início dos anos 2010, tipo Parafernalha. Ia me sentir uma comediante de stand-up se tivesse um projeto chamado Carácoles com acento agudo no segundo a. Então resolvi tirar o acento. E gostei de como ficou. De como ampliou o significado. Caracoles é caracóis em espanhol. O plural de caracol. Eu, enquanto mulher de cabelo encaracolado, me senti representada pelo nome. Além de me chamar Carol, né? Carol, Carácoles, Caracoles… Tá tudo em casa.
E esta é a maravilhosa história do nome do podcast. Alguns amigos meus falam Caracoles, outros falam Carácoles. E ambas as formas estão corretas. A autora está morta.
Assim como iniciei o episódio de hoje com uma saudação, coisa que nunca fiz antes, vou encerrá-lo também fazendo uma coisa que eu nunca fiz: um apelo. Se você gostou do episódio, começa a seguir o podcast na plataforma que você usa. E, se tiver essa opção, dá 5 estrelas pro podcast, por gentileza. Ah, segue o podcast no Instagram também. Ah, eu também publico os roteiros de todos os episódios no Medium.
Mais o quê…? Ah, sim. Hã. Eu odeio pedir qualquer coisa pra qualquer ser humano, mas se for da sua vontade, escreve aí o que você achou do episódio, quais são suas opiniões sobre os assuntos levantados. Você é um criador de conteúdo digital? Você quer viralizar? Pode escrever na caixinha do Spotify ou mandar DM pelo Instagram do podcast ou pelo meu Instagram pessoal. Mesmo que não condicione a minha criação de conteúdo às devolutivas que recebo, aos likes, aos compartilhamentos, ainda é muito legal quando isso acontece. Se você compartilhar esse episódio ou outro nos stories, marca o perfil do podcast. A podcaster aqui vai ficar feliz e vai te amar pra sempre. *emoji fazendo coração com a mão*
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