Consultando o oráculo
As dicas de escrita de Karl Ove Knausgård
Escrevo esse texto ao calor da pena. A ideia é anotar tudo que passou pela minha cabeça desde que saí do bate-papo que rolou na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, com o escritor norueguês Karl Ove Knausgård.
Se você é um escritor relativamente jovem (no meio de um processo criativo caótico, oscilando momentos de vergonha paralisante, sentimento de insignificância com momentos de ilusões de grandeza e vaidade), quando vai a uma palestra de um escritor hiper-celebrado pela crítica e pelo público — e que você admira muito — é mais menos como consultar um oráculo.
Explico. Não há nada de místico. Mas tem aquele lance emocional, aquela atenção meio tensa que faz você enxergar conselhos e sabedoria onde não há nada além de comentários honestos sobre qualquer coisa.
Explico de novo: é que às vezes você precisa ouvir o óbvio pra se tocar de umas coisas que são óbvias mesmo.
Knausgård falou bastante do seu processo criativo. E duas coisas me marcaram: 1) como a autocrítica pode ser paralisante, 2) como a maioria das soluções da escrita vem da própria escrita, no momento da escrita, da intuição; 3) tocar o foda-se é fundamental.
Há um senso-comum (oficinas, entrevistas de escritores, cursos de escrita), sobre a importância da técnica, da construção consciente de texto, do escrever é reescrever. Tudo isso é mais ou menos verdade, mas também é mais ou menos verdade que há algo de incontrolável na escrita. E esse incontrolável só se resolve escrevendo, meio sem pensar. Pensar demais — principalmente no começo — pode estragar tudo.
“Seja honesto. Seja você mesmo”, disse Knausgård, a certo altura da conversa, referindo-se a um cara que lhe serviu de mentor (mais ou menos). Veja só: frase mais batida impossível — parece auto-ajuda (todavia, é a pura verdade). Mais ou menos o que diz o oráculo — naquela frase ao mesmo tempo enigmática e límpida, que abalou Sócrates: “Conhece a ti mesmo”.
Está tudo aí.