Depois do ponto final

Marcos Vinícius Almeida
Carne Viva
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2 min readJan 11, 2018
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Depois do ponto final você envia o livro para dois ou três leitores beta, amigos, e fica esperando. Nem tanto os elogios vagos. Elogios vagos não ajudam. Depois do ponto final o que importa são aquelas críticas duras, específicas, mostrando problemas que você não consegue mais ver. Essa passagem é inverossímil. Silêncio também não ajuda.

Depois do ponto final você manda o livro para o editor daquela editora legal que você conseguiu o contato e ele disse que leria o livro e depois respondia. Depois.

Depois do ponto final e de enviar o livro para um leitor que você confia e que tem coragem de dizer na tua cara, ou anotar na beira de página, esse capítulo tá um lixo e você deve arrancar do livro ou escrever outra vez. Outra vez você pensa que talvez seja melhor voltar a estrutura inicial. Pensa que dois narradores em primeira pessoa talvez criem uma espécie de eco dissonante que embaralhe a leitura. Não seria impossível. Mas seria absurdo mudar qualquer um deles sem destruir cada uma das linhas narrativas.

Aceito freelas de leitor beta. E de leitura crítica, caso você esteja procurando esse tipo de serviço. Você me manda seu original por email e eu leio tudo e depois faço um monte de anotações de sugestões e observações e apontamentos na beira da página. E depois um parecer mais ou menos geral do texto, tentando te mostrar os pontos fortes e fracos. Tentando mostrar aquilo que funciona e aquilo que não funciona. Mas é sempre bom ter no mínimo dois. Dois leitores beta bem distintos e que tenham opiniões divergentes sobre quase tudo na vida. Principalmente literatura. É nesse ponto que uma Oficina de Escrita é sempre uma boa ideia e funciona. Você vai descobrindo, pelos comentários dos outros nos seus textos, seus pontos fortes e principalmente os fracos.

Gosto de testar meus textos com leitores beta que são leitor beta modelo leitor comum. O que é um leitor comum? Uma utopia. Leitor comum é tipo aqueles caras que leem e não são especialistas mas que sabem dizer: essa personagem é muito chata e me deu uma preguiça monstra. O jeito que ela fala. Parece um que tá lendo horóscopo da Gazeta de Pindamonhangaba. Muda isso. Ou mata esse cara.

Mas quando o texto retorna da leitura, você precisa aprender também a defender aquilo que você acredita, aquilo que você fez de maneira intencional, aquilo que você sabe que tá funcionando, mesmo que um leitor beta inicialmente não tenha sacado. É preciso apostar na inteligência do leitor. E nunca dá para controlar tudo. Nem escrita, muito menos leitura.

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Marcos Vinícius Almeida
Carne Viva

Escritor, jornalista, redator. Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Autor de Pesadelo Tropical (Aboio, 2023). www.marcosviniciusalmeida.com