A Glocal

Entrevista com fundador Marcos Botelho, publicada na revista NUNC.

Carolina Bertoldo
Carolina Bertoldo
4 min readJul 26, 2018

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Pastor Marcos Botelho falando na Glocal

Em tempos de polarização extrema na política e nas divergências de pensamento, surge na Vila Madalena um espaço muito peculiar — para dizer o mínimo — , que tem a pretensão de abrir diálogos entre a cultura local e a pessoa de Cristo. O nome desse movimento é Glocal, começou há 5 anos atrás no teatro Viga Espaço Cênico, mas já tem um público médio de 180 pessoas por semana e um alcance de 100 mil nas redes sociais.

Não é fácil entender o conceito e os objetivos desse movimento, nem o motivo do seu surgimento. Mas o pastor e fundador da Glocal, Marcos Botelho, afirma que o projeto surge como uma espécie de ponte, que procura encurtar distâncias.

N- O que é Glocal?

M- A Glocal é um encontro de encurtamento, onde no mesmo local encurtamos três assuntos que geralmente não andam tão juntos: a espiritualidade, nos ensinos de Jesus; o impacto social, na cidade e voluntariado e o terceiro elemento é a arte, como expansão da alma, da mente. Nesses três eixos, fazemos a Glocal, que é essa mistura entre uma visão global e relevância local.

N- Da onde surgiu essa ideia de encurtar a distância entre a pessoa em seu contexto cultural e a pessoa de Jesus Cristo? Em que sentido essa necessidade foi percebida?

M- Começamos a perceber que a religião começou a perder contato com a cidade, com as pessoas que não eram da mesma fé e, ao ler Jesus, percebemos que isso não era verdade. Então a ideia surgiu há muitos anos, desde que a percebemos que a Igreja começou a se isolar e que começou a falar coisas que não tinham tanto a ver com o cotidiano das pessoas. Eles queriam ensinar as pessoas a viverem no céu, sendo que a gente precisa primeiro viver aqui na Terra. Então isso já surgiu sobre encurtar, sobre o mundo artístico tentar trazer (as pessoas) para conversar com a espiritualidade de Jesus, a forma prática de transformação social, a forma prática de conversar com a espiritualidade e a arte conversar com algo prático de voluntariado. Então… esses três elementos conversando o tempo inteiro.

N- Como a Glocal consegue encurtar essa distância? Você poderia citar um exemplo?

M- Encurtamos com pequenos exemplos; assuntos que não entram na Igreja. Por exemplo, tolerância religiosa: na Glocal, podemos trazer uma mãe de santo, um líder do Islã, um reverendo budista e um pastor. E, lá na Glocal, fomos falar sobre tolerância religiosa, diversidade religiosa num Estado laico. Isso não seria possível numa Igreja. Junto com isso, teve arte — muita arte, pintura; teve música… E, por final, a gente sempre chama uma ONG para que o nosso público, seja online ou presencial, se engaje em alguma causa.

N- Você, um dos fundadores da Glocal, é pastor de uma igreja evangélica, e em algumas reuniões foram abordados alguns temas que fazem parte da pauta da esquerda no Brasil (marxismo, feminismo), dois grupos aparentemente muito distantes em questões ideológicas e políticas. Como a comunidade evangélica enxerga a Glocal?

M- A comunidade evangélica que conhece a Glocal, além de apoiar, entende que é muito importante, porque a Glocal pisou num terreno onde a Igreja não tem pisado e talvez não vai pisar, porque os cultos evangélicos têm uma revelação de Deus de como deve proceder, E, politicamente, a muitas coisas não se deve misturar o culto a Deus. Agora, não interfere em ter diálogos e, muitas vezes, a proclamação da fé em outros lugares, respeitando opiniões diversas. Por isso que, quando vamos para o mundo artístico, o pensamento de esquerda é muito forte. Sem contar que os Direitos Humanos surgiram da fé cristã. Então, hoje, tudo que está na pauta dos Direitos Humanos nós estamos encurtando também porque acreditamos que Jesus seja o maior humanitário que já existiu na face da Terra

N- À Glocal está no processo de se tornar uma ONG. Por que essa mudança?

M- Com o crescimento da Glocal, nós percebemos que já movíamos uma quantia financeira para alugar teatros e também temos desenvolvido outros projetos, como a aceleradora do terceiro setor social. Essa aceleradora já vai funcionar em 2018, então sentimos a necessidade de oficializar e mudar de uma organização orgânica para algo institucional, para trabalhar mais no papel, de uma forma jurídica mais eficiente.

N- Quais são as suas perspectivas para o futuro da Glocal?

M- O futuro da Glocal a Deus pertence (risos). Nós acreditamos que o nosso projeto de encontros de terça-feira ainda vai durar um tempo. Eu não acredito em nada que seja eterno; que tenha que ficar; que temos que fazer. Mas eu acredito que a gente ainda não chegou ao fim, ainda estamos no processo de encurtamento com encontros semanais… Então a ideia é expandir ainda mais, pegar teatros maiores; expandir a ideia (de encurtamento) pelo Brasil e ver isso acontecendo em outros estados e cidades; é ter a aceleradora social, em que consigamos fazer o eixo de impacto social com mais excelência, capacitar as ONGs a receberem voluntários e a estarem mais preparadas; e também a trabalhar melhor com os voluntários, com uma plataforma que identifique melhor as habilidades, o tempo que a pessoa pode fazer. Começar assim a transformar a cidade pelo engajamento cívico.

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Carolina Bertoldo
Carolina Bertoldo

Estudante de Jornalismo na PUCSP, amante da fotografia e música.