Os efeitos colaterais da socialização infantil na educação remota

Irritabilidade, dependência emocional e perdas que ainda não podem ser calculadas serão consequências de gerações crescendo em meio a pandemia

Carolina Bertoldo
Carolina Bertoldo
3 min readJul 8, 2021

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Aos dois anos Lis foi uma das vítimas do tédio que é viver uma pandemia. Mesmo sendo filha única, sua vida social pré-covid era muito ativa. Além das reuniões familiares e religiosas, a pequena Lis já havia começado sua vida na escolinha, feito novos amigos e iniciado um dos processos mais importantes de aprendizagem humana: como viver em sociedade.

Lis, 2 anos, caracterizada para participar de festa junina da escola remotamente

O Sistema educacional brasileiro, assim como diversos outros setores, foram pegos de surpresa com as medidas de combate ao coronavírus. No começo era esperado um período de poucos meses para que as atividades presenciais fossem retomadas, mas a situação foi tomando grandes proporções e com isso medidas ainda mais restritivas foram sendo tomadas e aquilo que parecia passageiro se tornou permanente. E, para que as atividades escolares não ficassem paradas, a sala de aula se tornou virtual.

Para Lis, sair de perto dos amigos foi bem triste, e seus pais precisaram compensar a falta deles com muita criatividade. E com isso surgiram várias decisões: saíram da capital de São Paulo e se mudaram para Itu, adotaram um cachorro e matricularam Lis em uma escola novamente, mesmo que isso significasse que ela fosse passar algumas horas na frente de um monitor, algumas vezes por semana.

Laura, mãe da Lis, começou a observar a pequena com mais calma. Segundo ela, a adaptação às aulas não foi tão difícil, mas o humor da sua filha começou a sofrer variações bruscas. Mesmo não obrigando com que Lis a participar das aulas, ela notou que haviam dias em que ela não esboçava reações e assistia a sua professora bem quietinha. O que mais gostava era poder ver o rosto de seus amiguinhos, e quando alguém faltava, Lis se mostrava bem triste. À medida que o tempo foi passando, Laura observou que sua filha ficava mais irritadiça e desenvolveu hábitos que não tinha antes, como o de morder e roer as unhas.

As reações não fogem do normal. Segundo a pedagoga Josiane, crianças podem apresentar uma irritabilidade nas tentativas de comunicação, uma vez que a orientação é manter o microfone fechado e somente quando houver alguma dúvida ou algo acrescentar ele poderá ser aberto. Ainda segundo a pedagoga, os pais relatam que há um cansaço grande por parte das crianças e perguntas a respeito de quando será a volta ao presencial. “Há realmente um contexto de ansiedade, tanto por parte da família quanto por parte da criança que passam por adaptações impostas pela pandemia.”, explica Josiane.

Uma das grandes preocupações por parte dos educadores, é com a quantidade de tempo que as crianças passam na frente da tela. A utilização excessiva de computadores pode aumentar as chances de que crianças apresentem habilidades motoras pobres e a diminuição de horas de sono, segundo pesquisa realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Ainda de acordo com a pesquisa, estima-se que as crianças passam cerca de 6 horas por dia em frente à tela do computador.

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Carolina Bertoldo
Carolina Bertoldo

Estudante de Jornalismo na PUCSP, amante da fotografia e música.