Dark side: cripto artistas que abordam assuntos sombrios.
Os temas sombrios sempre tiveram espaço nas artes. Não faltaram obras ao longo da história para retratar cenas de medo, angústia, dor, morte, representações do inferno e seres monstruosos.
Algumas características do sombrio são também encontradas naquilo que é chamado de grotesco. O distorcido, o monstruoso, o desordenado, o desproporcional são características do grotesco, mas também o diabólico, o atormentador, o infernal, o desarmônico, o tenebroso, o obsceno.
KAYSER, 2003 in MARTINEZ e PIEDADE, Revista Música Vol. 18, n.2, 2018.
No cinema obras como Frankenstein e Drácula trouxeram uma nova percepção sobre o sombrio; na pintura, Goya, Bosch, Velásquez; na literatura Kafka, Dante, Edgar Allan Poe; na música há infinitos abordagens no rock e no punk e estes são apenas alguns dos exemplos mais populares. Neste texto trago exemplos de cripto artistas que abordam estes temas em suas produções sobre diferentes óticas e técnicas.
Já olhou debaixo da cama?
Alguns artistas sintetizam sentimentos e exprimem reações através da criação de seres monstruosos, essas manifestações fazem parte da nossa cultura há séculos, como ressalta a Beatriz Carapuça em seu artigo Os monstros na ilustração para a Infância:
Criaturas monstruosas, algumas com aparência humana, outras híbridas, surgiam descritas na mitologia greco-romana. As Esfinges, com corpo de leão e rosto humano, protegiam os templos egípcios, criaturas sobrenaturais assombravam os indígenas na América do Norte e os espíritos demoníacos oni faziam parte da tradição japonesa. Na Idade Média a Europa medieval estava repleta de histórias fantásticas com dragões que cuspiam fogo e gigantes que comiam homens. Trecho do artigo de Beatriz Túbal Carapuça.
O artista Lucas Camargo, atua com seu projeto Untitled Army. Ele representa, em sua obra intitulada Gazelighting, a sensação de vazio, o nada:
Lembro-me de quando era criança e me pegava pensando, bem, em 200 anos não estarei respirando. Imaginando como é o Nada? o vazio. Essa é uma sensação assustadora. Parece que faz parte da existência de alguém olhar para o abismo em algum momento da vida. Queria captar esse sentimento com esta peça, a dança entre o vazio hipnotizante e o apelo constante do momento presente. (Tradução livre do texto do UntitledArmy sobre a obra Gazelighting em sua página so SuperRare).
Clima sombrio com gente comum
Pstrikailov é um fotógrafo premiado que vive em Varsóvia, Polônia. A sua arte explora a hostilidade dos espaços, e representa pessoas como indivíduos perdidos na cidade. Conversei com ele e sua intenção é criar uma atmosfera de mistério, como se a Varsóvia fosse um lugar mágico:
My photos have been mostly taken where I live which is Warsaw, Poland. It’s a great city to live but not aesthetically spectacular. What I aim to do with my work, however, is to make Warsaw look like a mysterious, a bit magical place. That is how I perceive the world around me and I try to share that perception with the viewer. (Trecho retirado de nossa conversa.)
In my photos I am showing real people in authentic situations but what’s also important to me is that the images are outstanding in terms of aesthetics. I’m all about the mood, atmosphere and a certain vibe that makes you react emotionally to an image. (Trecho retirado de nossa conversa.)
Não é porque tem fantasma que é sombrio
Vários símbolos assustadores viraram ícones pop com o passar do tempo. O esqueleto, por exemplo, ganhou releituras até para o público infantil, como Viva, a vida é uma festa. Embora o Horror não seja nosso tema de trabalho, desenvolvemos uma NFT chamada How hard is life for a Ghost?. A ideia é brincar com a "fofurização" tão difundida hoje.
Muito antes de ser um ícone pop, essa imagem já era reproduzida pelas civilizações. Abaixo um dos primeiros registros históricos da representação de um esqueleto: um mosaico encontrado nas ruínas de Pompéia, na Itália.
Esqueleto com Jarras e outros retratos da morte no sítio arqueológico de Pompéia, mostram a face pagã de um povo que sugeria que a vida é efêmera e que deve ser aproveitada enquanto vivos pois daqui nada levaremos. Leia sobre isso no artigo de Arley Gomes Leite.
Outro exemplo de NFT que trata dessa temática com humor é a obra RareDuck #029 — Death Duck da artista alemã CalicoCat.
Ela criou um personagem colecionável que se apresenta de diferentes formas, esta é a versão fantasmagórica do personagem. Na discrição da obra no Rarible ela diz:
This Duckie brings his little helper — not sure which little monster is under the sheets but it’s disguised as a kittie ghost. Maybe it’s the hell paradise.
Obra sombria com muita luz
O termo sombrio primariamente remete ao aspecto visual caracterizado pela penumbra, ou um ambiente com pouca luz. Essa ideia foi historicamente associada ao sentimento de medo devido à incerteza do conhecimento daquilo que a penumbra oculta. MARTINEZ e PIEDADE, Revista Música Vol. 18, n.2, 2018
Mas a artista brasileira CECHK foge do óbvio e trata de temas sombrios com muita luz, e muita cor. Ela diz que trabalha com diversos temas, mas, ultimamente, o que chama sua atenção é a interseção entre morte e vida, e a vida moderna em si.
Geralmente, eu sempre estou prestando atenção nos sentimentos ruins que eu sinto, e uma maneira de comunicar eles é por meio da minha arte. Assim eu sinto aquele nó na garganta se desfazendo, nem que seja por algum tempo. Arte, pra mim, sempre foi uma coisa muito íntima, e é só agora que eu consigo compartilhar o que eu faço com o resto do mundo. (CECHK, em trecho retirado de nossa conversa)
O sombrio representado com formas e som
GŁOWA, residente em Edimburgo, Escócia, trabalha com obras audiovisuais curtas que dialogam entre o digital e o analógico. Na maioria de suas obras não há elemento humano ou figurativo, e toda a sensação de profundidade é gerada do movimento de formas e sua relação com o som.
I often find it hard to find the right words to describe emotions. Sometimes I even struggle to understand what they are. Through my work I try to encapsulate these feelings. So I can unpick them and better understand myself and the other people around me. (Trecho retirado de nossa conversa)
Como suas obras são imersões sonoras, sugiro que você acesse os links para poder ver as peças completas: galeria no Rarible, Instagram e Twitter.
My work tends to be dark with the audio being unruly and difficult to contain. However there is always a sense of hope.
Colecionáveis pegajosos
Já falamos sobre fantasmas, monstros, clima sombrio na fotografia e composições sonoras, mas além desses, há um componente muito explorado quando o assunto é terror: os insetos, bichos pegajosos e rastejantes. CryptoCrawlerz é uma série colecionável de edição limitada que recria estes animais de uma maneira única: como se fossem objetos à venda. No verso é possível ver um texto descritivo e o número do exemplar.
Este tema é muito explorado e ainda há muita coisa nova por vir. É um universo muito rico de referências e possibilidades. Além das obras citadas aqui ainda há vários outros artistas que você pode conhecer, alguns deles são: Archangel, Adrià Gil, Simone Vezzani e Frederik Heyman.