Nadando contra a maré

Fernanda de Melo
CARPAS
Published in
3 min readDec 30, 2022

As carpas são uma espécie de peixe lendária. Graciosas e vibrantes, são caracterizadas pela força e sucesso, representa basicamente tudo o que é bom; sorte, prosperidade, vitalidade e longevidade.

São uma das criaturas vivas mais fortes na água e podem nadar vigorosamente mesmo em um lago frio e contra a maré. Carpas também são grandes e robustas, e pode ser por isso que parecem tão resistentes em comparação com outros peixes. Por causa de seu tamanho e capacidade de viver uma vida longa, elas se tornaram um símbolo de boa sorte e saúde.

Ao longo dos anos, o significado e o simbolismo das carpas tornaram-se icônicos em todo o mundo.

A lenda da cachoeira

Na China, uma lenda antiga fez a fama das carpas. Um conto clássico fala de um enorme cardume de carpas douradas nadando rio acima no Rio Amarelo. Ganhando força enquanto lutam contra a corrente, a sua tonalidade dourada fazia o rio brilhar, como se fosse feito de ouro.

No meio do caminho, elas alcançaram uma grande cachoeira, uma altura impossível e alta demais para atravessar. Esta cachoeira é conhecida como “Portão do Dragão” na província de Hunan. Muitas carpas voltaram, indo com a corrente para um local mais seguro. No entanto, algumas carpas persistiram, tentando ultrapassar a força da cachoeira. Com o passar do tempo, e sem sucesso, retornaram rio abaixo depois de perderem o ímpeto e a energia.

Os espíritos do rio observavam as carpas tentarem repetidamente, desdenhando e zombando de sua resiliência. Isso se passou por longos cem anos. As carpas insistiam em tentar nadar até a cachoeira, mas não obtinham sucesso. A cada tentativa, elas avançavam um pouco mais, ganhando técnica, estratégia coletiva e força enquanto praticavam.

De fora, os espírito continuaram subestimando as carpas, enxergando uma situação vitoriosa como impossível.

Em um novo dia, quando a tentativa parecia ser em vão novamente, uma carpa mudou sua estratégia. Ela desceu até o fundo do rio, ganhou toda a velocidade que pôde e saltou para fora da água, nadando mais rápido que pôde pela paredes d’água da cachoeira. Assim, alcançou o topo e continuou a nadar rio acima.

Os espíritos foram silenciados assistindo aquela cena — como a carpa executou o impossível. Conhecendo as múltiplas tentativas que as carpas tentaram ao longo dos anos, os espíritos as transformaram em um dragão dourado como recompensa por sua conquista. Na cultura chinesa, um dragão dourado é o símbolo máximo de poder e força.

Cachoeira do Portão do Dragão

Dessa forma, as carpas estão associadas a imagens positivas. Por causa da lenda do dragão, são conhecidas como símbolos de força e perseverança, como visto em sua luta determinada contra a corrente. E por causa da carpa solitária que chegou ao topo da cachoeira, elas também são conhecidas como símbolos de um destino cumprido.

Resiliência e transformação

Assim como as carpas, as mulheres — das mais diversas origens — enfrentam desafios, são subestimadas. Contudo, devido à sua persistência e resiliência coletiva, atingem níveis de transformações que podem parecer impossíveis para a época vigente.

A CARPAS é uma revista virtual feita por e para mulheres que propõe a perpetuação de pautas essenciais para a conscientização e articulação da luta feminista no Brasil e no mundo. Tratamos de um feminismo crítico, que visa rupturas com perspectivas conservadoras e retrógradas nos temas que competem à vida social.

Nossas inspirações passam por mulheres latinas, africanas, asiáticas e LGBT+ de cunho marxista e pós-colonial, contrapondo o gênero aos sistemas de classe, raça, imperialismo e colonialismo.

O objetivo do projeto é discutir e articular teorias feministas, além de elementos e aspectos da realidade de mulheres e LGBT+, envolver política, economia, cultura e demais temáticas pelas lentes do antimachismo, anticapitalismo, antirracismo, anticolonialismo e antiimperialismo e transpor isso para o público alvo, influenciando a organização política, a elaboração de políticas públicas e redirecionar o debate para o centro do problema: a propriedade privada, a reprodução social, a exploração sexual e laboral feminina, e a luta por direitos reprodutivos.

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