Despoina, culto à Deusa.

Atheris L.
CarpeNoctem
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5 min readMar 8, 2022

Filha de Poseidon e Deméter, algumas vezes considerada irmã de Perséfone ou até uma face da mesma, Despoina (Δεσποινη — Senhora) é o título dado a Deusa arcadiana do inverno, fruto da ira e do rancor, cujo nome verdadeiro não é revelado.

História

Assim que Kore (Perséfone) desaparece sua mãe, a Deusa da fertilidade e agricultura, Deméter, vai em busca da mesma vagando desesperada por sua filha.

Assim, percebendo que em seu desespero era seguida por Poseidon, Deus dos mares, que a cobiçava, Deméter se transforma em uma égua e pasta com os cavalos de Onkios (em Acádia), notando que estava sendo enganado o Deus transforma-se em um garanhão e acasala com Deméter, dando origem a Despoina, Deusa cujo nome não foi revelado pela sua mãe, e um cavalo chamando Areion.

Conta-se que depois da sequência de acontecimentos a ira de Demeter se mistura com tristeza e desolação. A Deusa se isola em uma caverna, deixando seus filhos e dando origem a sua face sombria, mas posteriormente deixa sua dor de lado conforme os ciclos continuam e Kore retorna.

Porém é dito que Despoina, por ser abandonada, e possuindo os mesmo poderes de fertilidade de sua mãe Deméter prefere deixar que as geadas e o frio devorem tudo quando Perséfone retorna ao submundo e sua mãe novamente cai em dor, se recusando a fazer qualquer coisa crescer.

E assim se torna a Senhora do inverno, dos lagos congelados e daquilo que não floresce. Ela é a face do abandono e da ira que não se pode ser mencionada. A Senhora do frio.

Culto

Despoine era adorada pelos arcadios mais do que qualquer outro Deus, declarando que ela é filha de Poseidon e Demeter.

Despoine (Senhora) é seu nome entre muitos outros, assim como eles chamam a filha de Demeter e Zeus, Kore (a Donzela). Porém como o nome verdadeiro de Kore é dito por Homero e Pamphos como sendo Perséfone enquanto o nome verdadeiro de Despoina não é revelado aos não iniciados, ela então pode ser lida como uma Deusa a parte e/ou face de Perséfone, Demeter ou até mesmo Artemis.

Na estátua de pedra em que é representada Deméter e Despoina sentadas juntas Deméter carrega uma tocha na mão direita e sua outra mão está sob sua filha. Despoine tem sobre os joelhos um cajado e uma caixa, que ela segura na mão direita. Em ambos os lados do trono tem imagens.

Ao lado de Deméter está Ártemis (provavelmente aqui identificada com Hekate) envolta na pele de um cervo e carregando uma aljava nos ombros, enquanto em uma das mãos ela segura uma tocha, nas outras duas serpentes; ao seu lado está deitada uma cadela de caça.

É dito também que os arkadianos traziam para o santuário os frutos de todas as árvores cultivadas, exceto a romã [do mito de Perséfone] e que a direita, quando você sai do templo, há um espelho embutido na parede. Se alguém olhar neste espelho, verá a si mesmo muito vagamente… ou não verá, mas as imagens reais dos deuses e do trono podem ser vistas com clareza.

Ao lado do templo de Despoine à direita está o que é chamado de Salão, onde os Arkadians celebram mistérios e sacrificam a Despoine muitas vítimas de maneira generosa.

Cada um deles sacrifica o que possui, mas não se corta a garganta das vítimas, como é feito em outros sacrifícios; cada homem corta um membro do sacrifício, apenas o que está à sua disposição.

Epítetos

Nessa parte eu sofri na pesquisa, porque algumas infos estão em lugares muito não-confiáveis como wikis, mas estou colocando aqui por pedidos, cuidadinho (e se alguem achar fontes decentes de epítetos me manda. E é comum que alguns epítetos sejam igual a de outras Deusas já que seu culto é geralmente conjunto.

  • Potnia (Πότνια) — Também um epíteto que significa senhora, rainha.
  • Anassa (Aνασσα) — Rainha
  • Fstirós — A rigorosa
  • Cheimerinés Perifrónisi ou apenas Perifrónisi — A desprezada no inverno
  • Chionothýellas — A criadora de Nevascas)
  • Monachikós — A que caminha sozinha
  • Panagýos — Senhora do frio
  • Foriellas — A fértil

Culto Moderno

“The anger is there now, for giving much and receiving little, not receiving what you need. Good. With anger comes revolt and strength, and you will find other worlds. There are other worlds.”

— Anäis Nin

Despoina é a face do frio, do abandono. Enquanto sua irmã Perséfone luta pelo se destino entre duas pessoas que a desejam (mãe e amor) sua irmã encara uma única realidade que a restou: o desprezo.

“At the First Touch of Winter, Summer Fades Away” by Valentine Cameron Prinsep (1897).

Por ser considerada filha de Deméter Erinys (face de fúria da Deusa depois do abuso) e de Poseidon exerce poder sob ambos domínios Terra e Mar, mas devido sua constante furia apenas congela lagos e mantém a neve e inverno destruindo a fertilidade enquanto sua mãe vaga temerosa em busca de sua irmã.

Ela é a representação daquilo que tememos, dos momentos em que nos sentimos inférteis, abandonados, sozinhos. É a raiva incontida e portanto tão temida que não tem o nome pronunciado.

Ela nos lembra a necessidade da revolta, do ódio e da dor como parte do ciclo que nos mantém vivos. Nos fazendo encara a realidade que muita das vezes fugimos por temer.

Despoina desencadeia e foca sua força em manter aquilo que torna a terra infértil, o frio e a neve, para que os humanos partilhem da dor que ela sente por não ser desejada. Ela mostra uma fração do que é ser deixada de lado através de seu controle e dessa forma mantém o equilíbrio vida-morte, terra-água, amor-dor e nos lembra que o sofrer é também um princípio natural e necessário para a vida e esse, portanto, não deve ser suprimido.

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Nunca se esqueça que a vida é curta, aproveite a noite.

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Atheris L.
CarpeNoctem

Feiticeira alinhada ao caoismo com interesse em formas de magia relacionadas a morte e cultura moderna. Meu objetivo é conseguir difundir conhecimento.