Feiticeira Escarlate, DreamWalking e Possessão Onírica

Atheris L.
CarpeNoctem
Published in
7 min readJun 21, 2022

“Isso é magia do caos Wanda”

Esse é um ensaio sobre caoismo e algumas observações e conversas que tive com amigos e conhecidos sobre temas místicos de Wandavision e Multiverso da Loucura, então, obviamente terão spoilers, devaneios que só uma caoista pode ter e muito besteirol com um fundo de magia verdadeira.

Tem um lado da minha prática que geralmente eu deixo bem fora de todas as conversas por causa da visão que as pessoa tem sob esse e por ter sido recentemente englobado por mim: o vampirismo. E começando por aí, a pouco menos de um mês eu vinha buscando sobre possessões, mas não o tipo comum de processões em que um espírito ou entidade, obviamente não-encarnada, possui um ser encarnado; o tipo em que um encarnado possui outro. Estava buscando e conversando com conhecidos se isso era realmente possível já que nunca tinha ouvido, lido ou presenciado algo do gênero, mas vemos entidades e desencarnados possuindo seres vivos o tempo inteiro.

E como toda boa caoista, eu busquei em livros inicialmente? Não, eu fui pesquisar em chans e reddit primeiro — isso mesmo que você leu, eu não tenho orgulho de mim — . E subindo e descendo nos piores esgotos da internet você acaba chegando ao mesmo ponto: se alguém vivo já conseguiu possuir outro vivo essa pessoa não fez tanta questão de explicar onde ou como, porém, existem formas alternativas de performar algo similar a essa possessão viva. Esses métodos geralmente batiam com os do vampirismo que eu já estava cansada de saber — cujo vamos falar aos poucos nesse ensaio — .

Então, andando em círculos simplesmente deixei essa questão de lado. Até que o universo com suas piadinhas me levou a assistir Multivers of Madness e pude ri bastante das “coincidências” que consegui observar no filme, como tudo era, de certa forma, similar a uma possessão de vivo para vivo, principalmente quando a Feiticeira Escarlate possui outras versões de si mesma. Porém, era tudo limitado a essas outras dimensões e a constante de que essas eram frutos de sonho — ou que ao menos os sonhos eram pontes para essas outras dimensões — .

lembrando que a Marvel ama usar referências, ao menos próximas, de feitiçaria real, como os livros que são citados em Doutro Estranho, por exemplo!

E então, a Wandinha chama o que ela faz de “Dream Walking”, até porque as outras versões dela do multiverso foram “criações” de sonhos dela! (marvetes se eu estiver errada, não me corrijam)
E aí está o grande ponto: até onde eu em minha pouca pesquisa e certo conhecimento de vampirismo me levou não é possível possuir alguém vivo; mas controlar, modificar e assumir poder sobre os sonhos de outras pessoas é totalmente possível.

E o Dreamwalking não é nenhuma novidade mágica realmente, livros do início do movimento satanista como êthos espiritual-religioso — boa noite LaVey — já traziam rituais “simples” de como se utilizar velas e espelhos para possuir os sonhos de um ser amado, além de relatos e meios de proteção mais complexos apresentados no livro “Ataque e Defesa Mágica” da Dion Fortune onde ela encadeia casos de pessoas que com um “simples” olhar e anos de prática vampírica conseguem caminhar livremente por sonhos em sua caça astral. Até o próprio caoismo com o “psiconaltismo” ensina a mestrar bem essa caminhada por espaços astrais, que para ser BEM sincera, não se diferencia tanto assim de caminhar para os sonhos de outra pessoa.

Porém, fica aí uma linha muito pouco delineada entre a diferença da viajem astral e do dreamwalking vampírico. Onde o astral e o sonho se dispersam? Ou são ambos a mesma coisa?

Petter Carol e a maioria dos autores faz uma distinção notória quanto a sonho e dimensões astrais, mas o primeiro, invariavelmente pode acabar abrindo portas para outros níveis de consciência ou dimensões astrais.

“Qualquer que seja a relação entre os componentes da consiencia, é evidente que essa ocorre em uma escala de cinco estados, quais sejam: gnose, consciencia, robótico, sonho, inconsciente. […]
O sonho, que normalmente, embora não invariavelmente, ocorre durante o sono, tem muitas funções; […] também provê uma janela para a dimensão psíquica e para as regiões menos acessíveis da memória”

— Líber null e Psiconalta

Dessa forma também acho válido apresentar essa parte do livro da Michelle Bellanger como complemento entre a diferenciação de viagem astral e do dreamwalking:

“Está é a premissa fundamental do Dreamwalking: em algum nível, o espaço dos sonhos é real. Não é real no sentido de que o mundo físico é real, mas certamente é tão real quanto os planos astrais descritos por escritores como Madame Blavatsky e Dion Fortune.

Parecido com os planos astrais, o espaço onírico é uma realidade subjetiva. Tanto quanto um lugar para onde podemos ir, é também um lugar que moldamos nossas esperanças, desejos e medos. Nem todos os sonhos levam a este espaço onírico, mas o próprio ato de sonhar abre um portão que se pode aproveitar para entrar neste outro reino do ser.

— Pychic Dreamwalking

Lembrando que, dreamwalking não é necessariamente como o da Wanda, onde se há um objetivo predatório, a maior parte das pessoas uma vez ou outra na vida acaba, sem querer, fazendo esse “dreamwalking” no sonho de alguém que tem muita afinidade, principalmente de amigos quando esses precisam de ajuda. É possível tambem usar dessa tecnica vampírica para curar pessoas pelo estado de sonho, tecer conversas com espiritos e mais.
Você mesmo já pode ter experimentado um sonho lúcido com uma amigo e quando contou a ele descobriu que ambos estiveram no mesmo espaço onírico, talvez até em dias diferentes, isso é basicamente um Dream walking.

Porém, seria isso uma forma de possessão? Mesmo que você tenha, de certa forma, como controlar ou ser controlado dentro de um sonho não continua sendo apenas um sonho? Ou esse espaço-sonho pode afetar AMBOS os lados?

Para esse tipo de perguntas temos o outro tipo de dreamwalking — que não sei se genuinamente se encaixa na nomenclatura — , mas que é invariavelmente uma técnica de vampirismo e invasão de sonhos. Que consiste no uso de medicão, espelhos e outros auxiliadores para invadir o sonho de alguem afim de torna-lo obcecado:

“Escolha um momento em que ele esteja dormindo por pelo menos quatro horas. (…)

A finalidade do seu trabalho é o de entrar em sua mente e corpo enquanto ele dorme, (…)

Depois de tê-lo visitado desta maneira e invadir a sua mente, tudo o que você precisa fazer é convoca-lo. (…) Se voce perseverar, seu “amante dos sonhos” se tornará uma realidade física.”

(não vou colocar todo ritual ou livro por motivos de: me resta um tico de consciência)

Nesse caso de “Dreamwalking” um lado está conscientemente invadindo o limiar do outro enquanto esse está em um sono profundo, nos confins de sua própria mente. É uma invasão, uma possessão (?), que busca tornar cada vez mais o outro lado controlado e vulnerável através de uma indução feita no sonho. Obviamente tudo depende de quanta energia, concentração e habilidade o magista atacante tem para conseguir não só adentrar o sonho do outro lado como manipula-lo ali dentro.

Então, acredito que podemos dizer que sim que, ao menos na visão de certos praticantes, a manipulação ou processão onírica pode causar fortes efeitos no plano físico. Não só como esse feitiço de obsessão do ritual acima, mas através de um ataque onírico ou uma processão similar à da Wanda, talvez.

Ainda sob o limite quanto a invasão onírica e a realidade material, temos o seguinte:

"Os sonhos acontecem indiferentes à nossa vontade, ou como um meio de se conseguir a realização dos mais secretos desejos reprimidos pela consciência cristã. Dessa forma, a pessoa vampirizada começa a travar dentro de si uma batalha ente a racionalidade e os delírios oníricos, ou como queiram, a tentação da eternidade corporal contra o instinto de sobrevivência na realidade comum a todos os homens. Essa luta enfraquece a vítima, facilitando ao vampiro a construção de uma nova morada de onde poderá subtrair a essência vital à sua eternidade.”

— Manual Pratico do Vampirismo

Vemos aqui que o impacto da realidade do sonho, para tradições vampíricas, afeta em grande quantidade o atacado e assim o limiar sonho-fisico-astral se embaça e se mistura ainda mais. A Michelle Bellanger ainda chama o sonho de encruzilhada, um espaço de cofluencia e caminhos.

Mas ainda assim são muitas questões no fim do dia, se entrar no sonho de alguém é possível com determinada conexão (seja essa forçada ou não), é possível também influenciar, drenar energia e até controlar alguém dentro desse espaço-sonho, então, teria como realmente levar esse controle, esse “dream walking” para além de uma indução mental meramente insinuada no sonho? Fazer-lo exatamente como a Wanda faz com as outras versões dela ou com outros seres vivos? Ou somos limitados a nos e aos espaços-sonho?

E só mais uma coisinha: dreamwalking, o tipo mais invasivo principalmente, pode te deixar doidinho como a Wandinha ficou. Instituto Atheris de Pesquisa Mágica alerta: não somos responsáveis em caso de surgimento de uma terceiro olho na sua testa, seja cauteloso. Você está entrando no espaço inconsciente de um outro ser, com os próprios medos, bloqueios e esperanças dessa pessoa, não ache que você vai dar um passeio e não levar nada contigo para casa.

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Atheris L.
CarpeNoctem

Feiticeira alinhada ao caoismo com interesse em formas de magia relacionadas a morte e cultura moderna. Meu objetivo é conseguir difundir conhecimento.