Em Alvorada se dança Ballet

Ana C. M. Szec
Carretel Arte & Jornalismo
3 min readJun 30, 2018

Quando criança, o que eu mais gostava de assistir na televisão eram os filmes da Barbie. Tinha algo de mágico em transformar em longa-metragem uma boneca que simboliza o ápice da beleza que uma mulher pode chegar (só anos depois que descobri o movimento feminista) e perceber que ela poderia ser tão encantadora quanto imaginava nas brincadeiras. Não tenho certeza se era a elegância ou a gentiliza, mas talvez fosse a habilidade de resolver problemas, mesmo quando tudo dá errado. Claro que um ou dois anos depois que Barbie e o Quebra Nozes (2001) foi lançado, descobri que Digimon era tão legal quanto.

Já era um pouco velha quando Barbie em as 12 Princesas Bailarinas (2006) estreiou, mas tenho certeza que o efeito foi o mesmo: aquela vontade de dançar, ser uma princesa ou bailarina (porque ser os dois é um pouco demais, né) e realizar seus sonhos… Como um passe de mágica. Infelizmente, não é todo mundo que tem a sorte de ter uma história de Barbie. Em algumas situações, o desenrolar da aventura pode ser totalmente oposto.

Alvorada não é a Casa dos Sonhos da Barbie

Com um índice de 78,4 mortes para cada 100 mil habitantes, Alvorada está longe de ser um lugar considerado seguro para qualquer um. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Ministério do Planejamento, em 2015, a cidade ficou no 12ª lugar no ranking das cidades mais violentas do Brasil.

Se somente com um problema que se surge uma solução, Jacqueline Navarro viu na situação de sua cidade um terreno fértil para realizar sonhos. O Cultuarte, projeto de sua autoria, ensina ballet para crianças e adolescentes carentes.

Jacqueline treinando as alunas para as apresentações

O Cultuarte

O projeto surgiu há quase 12 anos por conta de um problema de saúde: a síndrome do pânico. Jacqueline, que dançava desde os quatro anos, viu seu sonho chegar ao fim. No entanto, encontrou no ensino de dança uma forma de tratamento. Além dos movimentos clássicos, a professora ensina cidadania.

O Cultuarte conta com cerca de 300 crianças e adolescentes alunos e com 600 vidas que já foram modificadas pelo projeto. Com uma bandeira a favor da aceitação e motivação de conquista de sonhos, Jacqueline não nega ninguém. Compõem o grupo de alunos crianças com síndrome de Down, autistas e deficientes visuais.

Além de ensinar a dança, Jacqueline também proporciona a experiência dos alunos participarem de competições. Hoje, o grupo já conta com quase 100 premiações no currículo, além de fazer apresentações em hospitais, asilos e instituições carentes.

Pode não ser um mundo encantado dos filmes cor-de-rosa da boneca, mas Jacqueline se tornou a fada-madrinha de muita gente. Mesmo em momentos que o mundo parece preto-e-branco e tudo parece piorar, é preciso admitir que uma foto em tons de cinza é muito bonita. E deixa uma grande lição: sempre existem novos sonhos para quem está determinado a melhorar.

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