Resgatando as cores de uma capital cinzenta

Ana C. M. Szec
Carretel Arte & Jornalismo
3 min readMay 5, 2018

Uma das definições de “Lar” no dicionário Michaelis é “Casa onde habita uma família; domicílio, habitação”. Não é em toda casa que se faz um lar. O envolvimento emocional com um lugar pode fazê-lo ser considerado um lar, mas é imprescindível que o mesmo seja considerado um lugar de segurança. Não por menos, outra definição do mesmo dicionário é “Superfície do forno onde se põe o pão para cozer”. Ora, você não pode cozer um pão na casa de um estranho.

A intimidade, a identificação e o acolhimento de um lar de outra pessoa pode — e vai — provocar sentimentos em um visitante. Neste sentido, você pode não perceber, mas uma das coisas que mais vai ser perceptível para seu subconsciente vai ser a escolha das cores. Mas enfatizamos que o Subconsciente muitas vezes resolve não conversar com outras partes, somente sentir. Outras vezes, só conta para o Consciente coisas que já se ausentam do primeiro plano. Para sermos mais didáticas, é só lembrar da cena final de Friends, em que somente com o apartamento vazio que os membros puderam notar o roxo das paredes.

As cores influenciam na percepção do tempo e na construção de sentimentos, mesmo que não possamos reconhecer de cara. Não por menos, existe a Cromoterapia. Mas antes de falarmos sobre isso, vamos falar sobre o Cláudio Roberto Pagno da Costa, de 55 anos.

Pintando sentimentos de colorido

Pintou o cinza de cores vivas e se sentiu feliz. Desde então, não parou. Fundou o Vó Chica Vive, que auxilia moradores e promove mudanças em Vila Safira, no bairro Mário Quintana, em Porto Alegre. Mas mais importante: colore as casas de quem quer — e aceitar seu discurso.

Sede da Vó Chica (esq) e Rainbow Village (dir)

Cláudio não desiste fácil, ainda mais depois de ver o resultado, cuja inspiração vem da Rainbow Village, na Indonésia.

Ele conta que desde a infância se envolve em projetos sociais, seguindo valores passados pelos pais. “Acredito em direitos e deveres”, completa.

Quem não gosta de dar uma repaginada no lugar onde você reúne a família? Mas não é só por casa nova que as pessoas ficam mais felizes. As cores transformam não só o ambiente, elas também colorem a vida das pessoas.

“A gente tá trazendo um pouco mais de alegria e nota que realmente mexe com a autoestima.” — Cláudio Roberto Pagno da Costa

O projeto de colorização visa elevar a autoestima e trazer um novo olhar sobre regiões periféricas de Porto Alegre. Segundo Cláudio, é uma tentativa de mudar a visão que a grande mídia tem sobre a região, como sendo uma grande fonte de problemas. A iniciativa foi tão legal, que a Suvinil doou seis mil litros de tintas. O que justifica o volume de pedidos feitos por membros da comunidade para que suas casas sejam a próxima obra de arte de Cláudio.

Os pedidos e o apoio concretizaram tanto o sucesso do projeto, que ele não descansou nas cores: aumentou a iniciativa fazendo campanha de material escolar para crianças da comunidade, criou a feira do livro da Vila Safira (que esta na terceira edição) e criaram a tocha da paz que passa pelas cinco escolas do bairro.

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