Insônia

Ariel Freitas
Cartas Perdidas
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2 min readAug 1, 2017
Reprodução

Ultimamente, a minha única companhia tem sido a insônia. Não que eu goste do relacionamento que possuímos, mas se tornou inevitável não ter a presença dela durante madrugadas frias.

Na maioria das ocasiões, ela chega sem avisar, sentando ao meu lado na cama e me forçando a refletir sobre os episódios da minha vida. A noite anterior foi mais do mesmo: corpo cansado da rotina do trabalho e a mente procurando soluções para os problemas do cotidiano. Foi quando ela se aproximou de onde eu estava repousando, removeu a minha coberta com cuidado e me ofereceu um café — sim, a insônia me ofereceu um café — alegando que a nossa conversa noturna seria longa.

Uma parte minha até gosta desses encontros, sabe? É uma das maneiras que encontrei pra conciliar minha vida profissional e social colocando os assuntos de ambas na mesa, enquanto a insônia sorri exibindo as marcas profundas de não dormir nos seus olhos.

Mas confesso que o meu medo com essas reuniões noturnas tem sido quando a pauta é sobre aquela tua viagem. Mesmo sabendo que ela está planejada há anos, a falta de sono me faz visualizar todas as noites a tua imagem entrando naquele avião. É assustador, mas uma grande parte minha me conforta dizendo que esse é o teu sonho.

Nesse diálogo com a insônia, ela me aconselha dizendo que o tempo passa rápido. Eu tenho que concordar. Parece que foi ontem que eu te vi de crocs e meia na rua — esse é o motivo que eu começo a rir quando te encontro — mas já faz três anos.

Já passa das 4 horas da madrugada e ela resolve ir preparar mais uma dose forte de cafeína. Vou ajudar a minha melhor amiga (ela é atrapalhada demais na cozinha).

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Ariel Freitas
Cartas Perdidas

Jornalista e escritor. Colaboro com o Noticia Preta, Revista Subjetiva, New Order e Escola de Poesia. Já colaborei com o Alma Preta e o Perestroika.