Masculinidade: a chave para sermos homens pretos livres em vida

Ariel Freitas
Cartas Perdidas
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3 min readJun 11, 2019
Moonlight: Sob a luz do luar.

“Que todo homem preto possa demonstrar afeto sem se sentir culpado! Que nossas lágrimas não machuquem os nossos rostos como se transportassem cacos de vidros nelas! Que nossa saúde mental esteja saudável para não machucarmos nossas irmãs negras! Que nós, homens pretos, não atuemos mais no papel de homens que estão prontos para fracassar! Amem”, Ariel Freitas de Freitas.

Ariel Freitas²

Eu nunca quis levantar esse muro contra as minhas emoções, sabe? Nunca! Mas, quando você perde o seu pai antes de completar dois anos de idade e vê sua própria mãe perder uma parte dela toda vez que você grita pelo nome dele, essa é a única escolha.

Eu juro!

Eu nunca quis aparentar ser uma pessoa forte para aguentar todas as frustrações desta vida, sabe? Nunca! Mas, quando você carrega o título de o “cara mais feio da turma” por uma grande parte da vida e quando cresce a rejeição não se limita apenas no universo das relações amorosas, mas também no mundo do mercado de trabalho resta apenas essa alternativa.

Eu juro!

Eu nunca quis transmitir o vírus de uma toxicidade máscula pelo mundo, sabe? Nunca! Mas, quando você cresce em um bairro periférico onde você e seus amigos não possuem uma representatividade paterna por muitos motivos (abandono paterno, pais presos, mortos ou etc.), você se apega no primeiro vestígio de representação masculina — seja ela tóxica ou não. Essa é outra escolha singular.

Eu juro!

Eu nunca quis machucar ninguém no meu bairro e nas minhas antigas escolas, sabe? Nunca! Mas, quando você reprime todas essas emoções dentro de si, a maneira mais fácil de extravasar é através de agressões físicas e verbais. Eu queria ter visto outra saída!

Eu juro!

Eu não quero mais carregar esse escudo contra o mundo. Muito mais do que ganhar a batalha, eu quero conhecer quem sou. Eu quero derramar minhas lágrimas de saudades de pessoas que amo e admiro, sem me sentir fraco ou culpado. Eu quero permitir que alguém possa conhecer o verdadeiro Ariel, sem máscaras ou rótulos. Eu quero sentir a pluralidade do mundo sem as presas de uma visão tóxica.

Eu quero que eu e todos os homens pretos que chegaram até o final desta leitura tenhamos a mesma conclusão: nós só seremos homens pretos e livres quando aceitarmos que não precisamos seguir o roteiro embranquecido que nos passaram quando nascemos.

Eu juro que quero ser livre! Ei preto, vem comigo?

Texto produzido para o programa de TV Coisa de Cleiton, um espaço reservado para debates sobre a população negra e suas problemáticas. Nos acompanhe no Instagram: @CoisadeCleiton

Lançamento da primeira temporada: 21/06
Plataforma: Youtube.

Leia também: Por que é tão difícil homens negros chorarem?

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Ariel Freitas
Cartas Perdidas

Jornalista e escritor. Colaboro com o Noticia Preta, Revista Subjetiva, New Order e Escola de Poesia. Já colaborei com o Alma Preta e o Perestroika.